O diretor Richard Linklater tem uma filmografia bem variada. Mas, para mim, seu ponto forte sempre foram suas obras mais centradas nos diálogos, como a trilogia Antes do… ou Jovens, Loucos e Rebeldes e Jovens, Loucos e Mais Rebeldes, por exemplo.

A Melhor Escolha, seu novo longa, é mais um a se encaixar nessa característica, e como todos os exemplos citados no parágrafo acima, me agradou bastante. Ainda que ele trate de um tema mais caro aos estadunidenses, sem tanto apelo para nós brazucas.

Sente só: Steve Carell, Bryan Cranston e Laurence Fishburne são três veteranos da Guerra do Vietnã que voltam a se reencontrar após décadas para dar apoio emocional e ajudar o personagem do Steve Carell a buscar o corpo do filho – um soldado morto no Iraque – numa base da força aérea dos EUA e transportá-lo até a cidade onde ele será enterrado.

Durante a longa viagem, eles vão conversar não só sobre suas experiências na guerra e sobre a ocupação estadunidense do Iraque após o 11 de setembro (o filme se passa em 2003), mas também sobre o caminho que suas vidas tomaram, os erros do passado, os desejos para o futuro, fé, religião, e por aí vai.

Tudo isso dosando muito bem drama com outros momentos mais leves, alguns até cômicos. Ele é basicamente uma espécie de Jovens, Loucos e Rebeldes (e também de sua chamada continuação espiritual de 2016) com protagonistas mais velhos, tendo conversas mais condizentes com personagens dessa faixa etária.

Delfos, A Melhor Escolha, Cartaz

E todos esses diálogos são simplesmente excelentes, como já é costumeiro na obra do diretor. Tudo é tratado naquela mistura de seriedade, camaradagem e provocação e tiração de sarro entre amigos.

Daí contam muito também as excelentes interpretações do trio principal, todos eles afiadíssimos e de personalidades distintas. Seja o provocador e expansivo personagem do Walter White, o sereno Morpheus, que encontrou a paz ao abraçar a religião, ou o introvertido Michael Scott (o personagem de Carell na série The Office), que está passando por uma barra. cada um deles possui seus momentos de brilho individual e em grupo.

E mesmo para uma temática no geral automaticamente antipática a quem não é da terra do Tio Sam, o longa se sai muito bem ao não esbarrar na patacoada patriótica que esse tipo de assunto geralmente suscita. Pelo contrário, na realidade ele é bem crítico quanto ao envolvimento do país em guerras.

Não à toa os três são veteranos do Vietnã e o garoto foi morto no Iraque, dois conflitos que, diferente da maioria, não contaram com o pleno apoio da população e foram bastante questionados quanto à sua validade e os motivos por trás deles.

A Melhor Escolha se sai muito bem ao balancear bem todos esses elementos e criar uma trama delicada, de bons momentos e ótimas análises sobre diversos assuntos. Para quem gosta dos longas centrados em diálogos do Richard Linklater, mesmo que sua temática num primeiro momento não nos seja muito cara, sem dúvida vale a pena dar uma chance, pois ele acaba por entregar muito mais que isso.

REVER GERAL
Nota
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Carlos Cyrino
Formado em cinema (FAAP) e jornalismo (PUC-SP), também é escritor com um romance publicado (Espaços Desabitados, 2010) e muitos outros na gaveta esperando pela luz do dia. Além disso, trabalha com audiovisual. Adora filmes, HQs, livros e rock da vertente mais alternativa. Fez parte do DELFOS de 2005 a 2019.
a-melhor-escolhaTítulo original: Last Flag Flying<br> País: EUA<br> Ano: 2017<br> Gênero: Drama<br> Duração: 125 minutos<br> Distribuidora: Imagem<br> Direção: Richard Linklater<br> Roteiro: Richard Linklater e Darryl Ponicsan<br> Elenco: Steve Carell, Bryan Cranston, Laurence Fishburne e Yul Vazquez.