Mais que o novo filme do prestigiado Paul Thomas Anderson e mais que estar concorrendo a seis Oscars, Trama Fantasma vai de fato ficar marcado como o último filme da carreira de Daniel Day-Lewis, que declarou que este seria seu último papel e que depois deste longa ele se aposentaria do ofício da atuação.

Day-Lewis é sem dúvida um dos melhores atores de sua geração, e talvez o cara que melhor representa os exageros do método Stanislavski, de se mergulhar a fundo num papel até que você se torna o personagem. São muitos os “causos” que cercam o ator a respeito de sua forma de preparação para seus papéis.

E não seria exagero dizer que o personagem do Robert Downey Jr. em Trovão Tropical, aquele ator tão dedicado que “só sai do personagem depois de gravar os comentários do DVD”, teve sua inspiração na forma de trabalho de Daniel Day-Lewis.

Pois bem, ele escolheu, para seu longa derradeiro, repetir a parceria de sucesso com o diretor Paul Thomas Anderson, que rendeu o excelente Sangue Negro (2007), que lhe rendeu um de seus três Oscars de melhor ator. A saber: os outros dois foram por Meu Pé Esquerdo (1989) e Lincoln (2012).

E embora Trama Fantasma tenha recebido seis indicações ao prêmio da Academia (incluindo uma de melhor ator), o resultado deste está bem distante de um Sangue Negro e a quilômetros dos outros melhores momentos da carreira de Paul Thomas Anderson, um diretor do qual eu gosto muito, mas que parece ter perdido completamente a mão em seus últimos trabalhos.

Delfos, Trama Fantasma, Cartaz

Aqui acompanhamos Reynolds Woodcock, um estilista de sucesso na Londres dos anos 1950. O sujeito é responsável por criar os vestidos usados pelas mulheres de alta classe da Inglaterra e além. Um dia ele conhece a jovem Alma, e logo engata com ela uma relação de musa inspiradora para sua criatividade que vai lentamente se desenvolvendo em algo mais estranho.

Este é um típico caso de um filme que vai do nada a lugar nenhum. A história é chata, modorrenta, sem qualquer coisa de interessante. Muita forma para pouco conteúdo. E ainda por cima com um certo ar pretensioso (porém completamente vazio) que tem marcado o trabalho recente do diretor.

A narrativa se arrasta, assim como seus longos 130 minutos, testando a paciência do espectador. E tudo que oferece em troca é apenas uma bela recriação estética da Londres dos anos 1950 e, para quem gosta, um monte de vestidos chiques. Os quais eu não me surpreenderia se ficasse sabendo que foram confeccionados pelo próprio Day-Lewis. Obviamente estou exagerando para fins humorísticos, mas este é bem o tipo de coisa que ele faria em preparação para o papel.

Bom, já que este é seu último filme, vale a pena falar que mesmo com a má qualidade do longa, ele ainda está bem no papel, embora este esteja longe de figurar numa galeria de seus personagens mais marcantes.

Trama Fantasma é um filme vazio e arrastado, permeado por um ar pomposo que a “marca” Paul Thomas Anderson ainda imprime. Como último trabalho da carreira de um ator tão dedicado e talentoso, resulta pra lá de decepcionante. Uma pena, afinal, Daniel Day-Lewis merecia uma despedida à altura e aqui ele simplesmente não a obteve.

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Nota
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Carlos Cyrino
Formado em cinema (FAAP) e jornalismo (PUC-SP), também é escritor com um romance publicado (Espaços Desabitados, 2010) e muitos outros na gaveta esperando pela luz do dia. Além disso, trabalha com audiovisual. Adora filmes, HQs, livros e rock da vertente mais alternativa. Fez parte do DELFOS de 2005 a 2019.
trama-fantasmaTítulo original: Phantom Thread<br> País: EUA<br> Ano: 2017<br> Gênero: Drama<br> Duração: 130 minutos<br> Distribuidora: Universal<br> Direção: Paul Thomas Anderson<br> Roteiro: Paul Thomas Anderson<br> Elenco: Daniel Day-Lewis, Vicky Krieps e Lesley Manville.