A liberdade de pensamento

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Nota: A coluna Pensamentos Delfonautas é o espaço para o público do DELFOS manifestar suas opiniões e pensamentos sobre os mais variados assuntos. Apesar de os textos passarem pela mesma edição que qualquer texto delfiano, as opiniões apresentadas aqui não precisam necessariamente representar a opinião de ninguém da equipe oficial. Qualquer delfonauta tem total liberdade para usar este espaço para desenvolver sua própria reflexão. Se você quer escrever um ou mais números para essa coluna, basta ler este manual e, se você concordar com os termos e tiver algo interessante a dizer, pode mandar ver. Inclusive, textos fazendo um contraponto a este ou a qualquer outro publicado no site são muito bem-vindos.

Estava eu assistindo TV (TV aberta, mano, tem que ter fibra!) e reparei em alguns anúncios da TV Futura. Uma das propagandas fala em como, no passado, as “verdades” da humanidade eram outras (saca, a Terra era plana, gênios – Santos Dumont – eram considerados loucos enquanto loucos – Hitler – eram gênios). Enfim, outra dessas chamadas fala sobre pessoas que lutaram pela liberdade e acabaram punidas pelas classes dominantes de suas respectivas épocas (Tiradentes, Joana D’Arc, Galileu).

O que há em comum entre as personalidades citadas no final do parágrafo anterior é que cada um deles teve um pensamento que fugiu dos padrões de suas épocas e lugares. Tá, até aí é chover no molhado, mas eu precisava situar o tom do texto, pois, o detalhe que quero abordar aqui é o final da tal propaganda onde o narrador fala: “Sorte sua que hoje você tem liberdade para pensar.”.

Opa, vamos com calma! É verdade que a liberdade hoje em dia é bem maior que em outros tempos, até mesmo recentes, da nossa história, mas liberdade para pensar me faz questionar uma coisa: ninguém percebe a influência em todo lugar? (Retórica óbvia). Explico: É como eu vi, dia desses, na novela Duas Caras. Uma discussão entre os personagens de Antônio Fagundes e Lázaro Ramos, este último sendo contra o modo ‘ditador’ do primeiro no comando da favela). Na discussão, Juvenal (Fagundes) me solta algo no seguinte sentido: “As pessoas têm que ter só a ilusão de achar que podem decidir alguma coisa para se sentirem com poder, mas quem manda na Portelinha sou eu!”. Não digo que acho certo, mas com certeza é normal (até porque ‘normal’ vem de ‘norma’).

Aí, retomo o que falava no outro parágrafo. Que, por exemplo, divulgam as eleições como grande festa da democracia e da cidadania. Só que sua liberdade de votar é uma coisinha bem interessante de se analisar. O voto é obrigatório (como já foi abordado aqui). Sua liberdade, então, fica empurrada para a etapa de escolha dos candidatos. Mas, ora veja, são os candidatos repetidos de outras eleições, cheios de promessas vazias e corrupções (entre outros vexames). Aí você faz o quê? Sua festa da liberdade de voto não acontece por escolher votar, nem na escolha de candidato, já que eles são oferecidos sem nosso consentimento apenas por terem um nome forte junto ao público.

Terminei a frase anterior falando em público e não povo porque, como dizia um texto que li ainda nos tempos de escola, povo é o que participa da sua própria história, mas, hoje em dia, o pessoal só participa para aplaudir e/ou xingar. Só assistindo. Portanto, é público. Como acontecia nos tempos da escravidão por aqui, a maioria é submetida a um condicionamento de gado de manobra e segue com orgulho por passar por tantas mazelas e não desistirem, ou por ainda terem alegria para pular carnaval e vibrar com futebol (na minha opinião, placebos açucarados, como diria uma das letras da banda Epica).

Visto isso, você pode mesmo afirmar que tem liberdade para pensar? A mídia te induz (de forma sutil) a se vestir, pensar, a gostar disso ou daquilo, desse (a) ou daquele (a), etc. E essa sutileza faz com que o poder se dissemine de uma forma tão íntima, tão visceral, que algo é considerado certo ou errado (e condenado se for feito ao contrário, vide a parcialidade do DELFOS) sem nem se buscar uma explicação. Torna-se natural. Normal. É o que se chama de poder exercido de baixo. Como uma roupa que você usaria, mas não o faz porque é fora da regra e, portanto, você não vai querer ser considerado um tipo estranho pelos seus pares (mas, quem criou o conceito nem sabe que você existe… Ou será que sabe? Hum… Paranóia básica!). Padrões não contestados e, muitas vezes, não justificados.

No mais, acho que liberdade de pensar acontece pelo motivo natural de o cérebro (normalmente) gerar pensamentos. Mas acho que a influência externa danifica esse processo a ponto de muita gente não saber que seus pensamentos foram quase que implantados pela mídia de massa (isso me faz pensar em um certo carcajú canadense). E, para terminar com algo que ilustra bastante a idéia geral deste texto, fiquem com um trecho de Até quando, música de Gabriel, o Pensador:

“A programação existe pra manter você na frente… na frente da TV. Que é pra te entreter, que é pra você não ver que o programado é você”.

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