A destruição da arte

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Qual a situação das artes no início do século XXI? Ainda existe? Pode ser encontrada? Tenha em mente, que a arte reflete o momento, o zeitgeist da humanidade. Consequentemente, a arte no século XX foi definida pelos seus acontecimentos marcantes e como estes afetaram o ser humano. Podemos então enumerar alguns itens que tiveram esse papel: violência, reestruturação social, desenvolvimento tecnológico e a luta entre o capitalismo (chamado erroneamente de democracia) e o comunismo.

Mas o que causou a destruição da arte no século XX? Atribuo a duas coisas principais. Primeiro: busca pelo lucro acima de tudo. A luta pra obter lucros com a atividade artística levou os promotores a investirem APENAS em um tipo de arte: a que vendesse bem.

É claro que nos séculos anteriores, a arte também precisava de dinheiro, era financiada por mecenas e ricaços, mas tinha como objetivo não apenas o lucro do artista ou do financiador, e sim incentivar a evolução das artes, o crescimento de artistas com potencial inovador e talento abundante. Mas o que vende bem? Bem, o ser humano sempre teve obsessão por sexo, nudez, violência e drogas (não necessariamente nesta ordem). Percebendo esta tendência, artistas passaram a competir para ver quem chocava ou transgredia mais.

É um tal de pintura com sangue e esperma, cachorros morrendo de fome, esculturas com corpos humanos, nudez à vontade e muito nonsense. Um “artista”, possivelmente passando por uma fase sem dinheiro e inspiração, colocou um copo d’água numa bancada e chamou a obra de “Carvalho”. Mais ou menos o que os visitantes disseram quando viram: “que carvalho é isso?”. Um fotógrafo se especializou em tirar fotos de multidões nuas mundo afora. Chegamos ao fundo do poço? Bem, alguns anos atrás, o vencedor do prêmio Turner (o “oscar” das artes plásticas), foi um ceramista travestido de lolita (com cachinhos e tudo) cujas obras (vasos na maioria) retratavam pedofilia incestuosa. Ele recebeu o prêmio junto com a esposa e a filha, vestido de mulher, o que certamente levantou muitas perguntas sobre o tipo de ambiente existente nesta família.

Mas este é um fenômeno que atinge todos os ramos da arte. Veja o nosso querido e amado Heavy Metal. O que motiva o surgimento de um estilo como o Black Metal? (Nota: aprecio bastante a agressão e originalidade de algumas bandas). Necessidade de avançar na transgressão musical/visual. No fundo: dinheiro. Parece até que todos os noruegueses montaram bandas pra aproveitar a onda!

Mesma coisa no cinema, quadrinhos, literatura e por aí vai. Os quadrinhos então são prolíficos em exemplos de roteiristas e desenhistas tentando levar a transgressão para níveis cada dia mais elevados. Por transgressão leia: violência, sexo, nudez e drogas. Quero apenas esclarecer que existem, sim, verdadeiros artistas, pessoas que procuram a excelência em algum ramo, exercitam criatividade e não precisam apelar para táticas como essas. Mas são minorias que passam fome, pois não conseguem viver da arte. Simplesmente não vende. E quero esclarecer que não sou uma velha carmelita, carola ou super-sensível. Gosto de algumas coisas que possuem esse quarteto. Porém, estou criticando a forma medíocre como esses temas são usados para atrair atenção para “artistas” sem criatividade.

E qual é o segundo ponto que destruiu a arte? A necessidade de satisfazer o mercado crescente e medíocre das massas. Não quero dizer que a arte deva ser algo elitista e o povão não tem direito ou capacidade para discernir o que é arte ou o que é bom. Mas a arte das massas é feita com o objetivo de suprir uma carência específica: escapismo (depois do primeiro e maior objetivo: dinheiro). Sim, na sua maioria escapismo.

Vou exemplificar: a realidade é um lixo, certo? Crime, violência, corrupção e degeneração. Então, na “arte” oferecida, por exemplo, o mocinho sempre vence no final. O ser humano se torna mais isolado, egoísta e xenofóbico a cada geração que passa. Efeito: lições de amizade. Os laços familiares se tornam cada dia mais finos. Efeito? Protagonistas com “daddy issues”. Os relacionamentos são fugazes, descartáveis e efêmeros. Efeito? Comédias românticas e dramas com amor perfeito! Procure o mesmo fenômeno na música. No Heavy Metal, por exemplo, os guerreiros, espadas, magos, com a combinação de notas musicais, timbres e visual usadas, tem como objetivo passar uma mensagem gloriosa, guerreira, vencedora. Os estilos mais extremos procuram gerar uma irmandade (num planeta desunido), um sentimento de ser especial por conhecer algo… obscuro. Na música pop, note que a grande maioria das músicas fala de amor, namoros, e coisas assim.

A chamada arte atual tem como objetivo suprir necessidades emocionais que não temos como suprir no dia-a-dia mediano urbano. Não existe perigo suficiente no nosso cotidiano. Nada excepcional costuma acontecer. É na verdade uma rotina tediosa de estudo – trabalho – relacionamentos efêmeros – comer – dormir – sexo – comprar – vender.

Talvez você diga: “primeiro você critica o uso da transgressão sem limites e depois critica as mensagens positivas. Você só quer encher o saco?”. E eu respondo: estou expondo, de maneira introdutória e superficial, os motivos que levaram à escassez de inteligência e originalidade nos dois lados. Cada aspecto da “arte” atual tem como objetivo fidelizar um nicho de consumidores, dando algo de fácil digestão intelectual, e não alcançar o significado da própria palavra: excelência, perfeição em algo.