Razão e sentimento

0

Nota: A coluna Pensamentos Delfonautas é o espaço para o público do DELFOS manifestar suas opiniões e pensamentos sobre os mais variados assuntos. Apesar de os textos passarem pela mesma edição que qualquer texto delfiano, as opiniões apresentadas aqui não precisam necessariamente representar a opinião de ninguém da equipe oficial. Qualquer delfonauta tem total liberdade para usar este espaço para desenvolver sua própria reflexão e, como não são necessariamente jornalistas, os textos podem conter informações erradas ou não confirmadas. Se você quer escrever um ou mais números para essa coluna, basta ler este manual e, se você concordar com os termos e tiver algo interessante a dizer, pode mandar ver. Inclusive, textos fazendo um contraponto a este ou a qualquer outro publicado no site são muito bem-vindos.

Após uma discução sem rumo com minha namorada, e agora ao ouvir composições épicas de Kow Otani, bebo uma xícara de Nescau gelado no pleno frio de Curitiba e decido falar sobre o antagonismo entre razão e sentimento.

Antes de começar o texto em si, devo dizer que é a primeira vez que tento dissertar um texto sério sobre minhas idéias. Já escrevi romances, épicos e coisas do gênero, mas nunca um texto dissertativo, ou mesmo um ensaio. Para escrever este texto, precisei usar alguns conceitos que podem não fazer parte do conhecimento de todos os leitores, mas tentarei explicá-los da melhor forma possível, tentando não abandonar a estética. Também acabei usando termos de outras línguas que não o português, mas não é nada que o Tradutor do Google não consiga resolver. Em qualquer caso de incoerência, falta de coesão ou whatever, por favor avisem.

Digam-me, leitores, delfianos e delfonautas. Já ouviram falar em equilíbrio?

Muitas histórias, principalmente nos dias de hoje, têm abordado o equilíbrio como tema. Em contos fantásticos, o equilíbrio é geralmente entre Luz e Trevas. Kingdom Hearts é a minha série de RPG eletrônico favorita, e muitas vezes aborda esse tema. E não só de luz e trevas, mas logo chegaremos lá.

Riku é um dos protagonistas da série. Um “tremendão” que, a partir de certo ponto de sua história, aprende a usar todo o seu potencial em uma coexistência entre Luz e Trevas dentro do seu corpo. Exatos 50% de cada.

Outra história que também fala disso é a da série Soul Calibur. Do seu jeito mais explícito e menos profundo, é claro. Nessa série existem duas forças, a Soul Edge (trevas) e a Soul Calibur (luz). Se apenas UMA dessas espadas for destruída, o mundo atinge o desequilíbrio e se destrói de uma maneira ou de outra. O único jeito de salvar o mundo seria a destruição das duas forças, ou a coexistência delas.

É aqui que chego ao ponto que queria chegar. Há pouco, eu estava tendo uma discussão sobre um antagonismo que pode ser comparado com esse. A destruição de um desses fatores não levaria à destruição mundial, ou universal, mas à destruição interna do ser humano. E a coexistência desses fatores levaria ao perfeito equilíbrio do interior desse ser humano.

O que consideramos mais humano na nossa espécie é a capacidade de pensar e a capacidade de sentir. Razão e Sentimento.

O público para o qual esse texto é destinado deve conhecer os Vorgons. São seres criados pelo ilustríssimo escritor Douglas Adams que são chatos e burocráticos, ou seja, quase totalmente movidos pela razão (e pelo seu prazer pela burocracia e organização excessiva, mas isso não vem ao caso). Eles vivem vidas entro de prédios retos e cinzas e não gostam de nada que não seja a favor da sobrevivência pessoal desse Vorgon, pelo bem da espécie como um todo ou pelo desenvolvimento do capitalismo. Mas para Vorgons, a arte é algo abstrato e sem sentido. Não existe beleza para os vorgons, apenas a praticidade dos fatos no “mundo real”.

Em Kingdom Hearts existem criaturas movidas pela razão que querem voltar ao equilíbrio, os Nobodies. Nobodies são seres que não têm emoções e são indiferentes a tudo, e suas vidas são seguidas pelo único objetivo de conseguir seus sentimentos de volta, por terem lembranças de seu tempo como humanos, racionais e com sentimentos.

Ainda em Kingdom Hearts, em contraparte existem os Heartless, Totalmente movidos pelos seus sentimentos, mas incapazes de tomar decisões sensatas, ou mesmo de pensar. Apenas instinto.

Acabei de mostrar exemplos na cultura pop do “monopólio” de um desses fatores dentro de um ser. Essas opções parecem boas? Acho que não.

Vejamos. Um desses seres completamente movidos pela razão são, querendo ou não, práticos. Conseguem resolver seus problemas da melhor maneira possível por ter mais facilidade de pensar. No ser movido por sentimentos, há o conforto interno, por se sentir bem com o que está fazendo pelo simples fato de sentir-se bem com isso (Redundância FTW!).

Agora, vejamos. Tem algo que te faz muito bem se você fizer. Você sente uma necessidade emocional de se fazer determinada atividade. É claro que você fará tal coisa bem se houver prazer. Mas será o suficiente? Não. Há todo um cálculo para fazer essa coisa bem feita. Você deve pensar racionalmente, mas sem perder sua paixão pela coisa.

Agora você deve fazer algo, e você sabe como fazer isso, mas para você, fazer ou deixar de fazer é algo indiferente em questões emocionais. Você pode até fazer esse trabalho muito bem feito, mas ele não terá profundidade ou significado pragmático algum. Pode até te trazer benefícios como, por exemplo, dinheiro. É o caso Fábio Barreto quando dirigiu Lula, O Filho do Brasil. Ele tem a técnica, e sabe aplicá-la, mas como fazer sair um resultado realmente bom quando não se tem paixão pelo trabalho? Especialmente quando falamos de arte!

Acho que o principal diferencial entre o ser humano para os outros animais é a capacidade artística que, para ser boa, deve haver a coexistência de Razão e Sentimento. Lula, O Filho do Brasil é o melhor exemplo no meio artístico de Razão sem Sentimento.

Já Funk carioca e Silencer são as melhores representações de Sentimento sem Razão dentro do meio artístico. E eu também colocaria aí Star Wars Episódio I: A Ameaça Fantasma. As grandes obras são criadas pela coexistência dos dois fatores. Exemplos? As composições de John Williams, pois o seu amor por fantasia e todos os seus conhecimentos musicais se unem para fazer músicas que nós, nerds, cantarolamos quase todos os dias. Ou então, um dos meus compositores favoritos, mas conhecidos por poucos, Anna Varney Cantodea, que literalmente coloca TODOS os seus sentimentos nas suas músicas e ainda faz melodias que não só os expressam em sintonia com a letra, mas também CALCULADAS pra agradar ou não o ouvido de quem ouve.

“Ok, Felipe. Você está dizendo que os sentimentos são essenciais para a arte, mas em que isso implica na ciência?”

Eis que respondo sua pergunta, caro leitor, com outra. Quem diabos pesquisaria tantos fenômenos naturais se não sentisse prazer no que está fazendo ou se aquilo para ele não tivesse algum significado pragmático? O sentimento é essencial para a ciência. Mais especificamente o sentimento de paixão, pois é com a paixão pela curiosidade que os métodos para se descobrir coisas foram criados. Caso contrário, nem mesmo haveria interesse na descoberta.

Um ser humano deve viver pelo que ele acredita. Creio que os meus caros leitores já tenham visto essa frase em algum lugar. Pois essa crença, ideologia ou ideal não passa de um sentimento de certo e errado, que deve ser aplicado com a Razão. Não tem como um ser humano querer viver com apenas um lado. Eles DEVEM coexistir.

Ok. Digamos que você é mais forte em um desses lados. É aí que entra aquela velha história da sua “outra metade” Você deve encontrá-la. Ela não é necessariamente outra PESSOA, mas algum valor que lhe falta, que você pode conseguir tendo contato com outras pessoas que tenham esse valor ou que também estejam à procura dele. Decidindo se isolar, você se estagnará com o único fator/valor que você desenvolveu mais, seja sentimento ou razão. E isso irá se refletir nos trabalhos que você fará, no crescimento de sentimentos ruins que não vão conseguir coexistir com qualquer razão.

Ok. Agora você, depois de ler esse texto absurdamente longo, me pergunta o que isso tem a ver com o DELFOS? Pô, todo nerd gosta de um pouco de filosofia. XD

Aqui me despeço, com remorso por não ter conseguido passar todas as minhas ideias. Caso nosso grande imperador Carlos Eduardo Corrales me permita, aprofundarei esse pensamento em outra matéria, mas enquanto isso, ficaremos com a caixa de comentários. Até mais ver, irmãos delfonautas e delfianos. Aux Armes!

A imagem que ilustra essa matéria é o tal compositor que comentei, Anna Varney Cantodea. Ele é o único membro da banda Sopor Aeternus & The Ensemble Of Shadows. Eu recomendo.