Nerds, homossexuais e nerds homossexuais

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Nota: A coluna Pensamentos Delfonautas é o espaço para o público do DELFOS manifestar suas opiniões e pensamentos sobre os mais variados assuntos. Apesar de os textos passarem pela mesma edição que qualquer texto delfiano, as opiniões apresentadas aqui não precisam necessariamente representar a opinião de ninguém da equipe oficial. Qualquer delfonauta tem total liberdade para usar este espaço para desenvolver sua própria reflexão e, como não são necessariamente jornalistas, os textos podem conter informações erradas ou não confirmadas. Se você quer escrever um ou mais números para essa coluna, basta ler este manual e, se você concordar com os termos e tiver algo interessante a dizer, pode mandar ver. Inclusive, textos fazendo um contraponto a este ou a qualquer outro publicado no site são muito bem-vindos.

No dia que escrevo este texto, me deparei com dois artigos em dois dos meus sites favoritos, GayGamer e Destructoid. E hoje também passei a conhecer um site chamado Gamasutra, mas isso não vem ao caso.

GayGamer e Gamasutra, discutiam a questão da homofobia no mundo dos games, e o Destructoid pensava como seria legal se Nathan Drake, da série Uncharted, se revelasse gay.

Então eu pensei, por que não trazer isso ao DELFOS? Certamente todos os delfonautas são evoluídos o suficiente para discutirmos este assunto. E não é algo que vi sendo abordado diretamente no site antes. É claro, sem limitar-me ao mundo dos games.

Ser asexuado entre nerds é difícil. Ainda mais no DELFOS e suas famosas mulheres misturadas com alimentos.

É ainda mais complicado se você for bissexual, que é o meu caso. Até dá pra misturar mulheres com comidas, como os seus demais colegas fazem, mas e quanto a misturar morenos com sorvete de chocolate e japoneses com lámen? Como fica?

E quando se é um homem homossexual? Pff! Quando seus colegas estiverem falando sobre as personagens femininas que eles misturariam com comidas, ou você vai se obrigar a ficar quieto ou qualquer comentário que você faça será ignorado, a não ser talvez que haja uma nerd heterossexual ou outro nerd gay ali contigo, para que nasça um diálogo isolado.

As situações citadas acima são, é claro, as MELHORES HIPÓTESES. Na realidade, qualquer comentário homossexual feito por um homem no meio de nerds homens heteros, será motivo de chacota, piadas de mau gosto e xingamentos. É claro que existem exceções, e eu só sou capaz de manter uma amizade com essas exceções.

Meus amigos, por exemplo, nunca viram problema algum na minha sexualidade. Um deles inclusive desacredita que eu seja bissexual, e acha que na verdade eu só gosto de homens mesmo. Tudo bem, eu gosto mais de homens, mas como escapar de ruivas com bacon? O delfonauta dedicado conhece bem essa tentação.

Mesmo assim, as situações que citei acima aconteceram mais de uma vez. E não é legal. A presença de homens gays ASSUSTA a grande maioria das pessoas, por mais que elas digam que aceitam os outros do jeito que são.

Na grande maioria das vezes, numa mesa sobre futilidades nerds, eu só consigo me sentir confortável se estiver com uma nerd mulher do lado. Quando não existe este fator, minhas ideias, que costumam ser um tanto diferentes da maioria, costumam ser ignoradas ou até mesmo rejeitadas. Muitas vezes pelas palavras estarem vindo da boca de “uma bicha inofensiva”. Sim, eu sou mais emocionalmente sensível que a maioria dos homens, e sim, eu gosto de homens. Será que isso faz minhas opiniões menos válidas que a de todo o resto?

Até mesmo com meus amigos, quando eu dizia que achava a Bayonetta feia me olhavam com um olhar de estranheza. Como se todo homem do mundo fosse obrigado a gostar dela e de mulheres peitudas em geral.

Agora falando de ocasiões menos pessoais, quantas vezes eu já me deparei em fóruns de Metal com pessoas discutindo a sexualidade do Tobias Sammet? Sério, gente, e isso lá importa? Para mim, pelo menos, não. Afinal o que realmente importa é a arte criada por ele, e a sua vida pessoal não diz respeito a ninguém além dele. Mas é claro que passaria a me importar se eu tivesse alguma chance com ele. Tobias Sammet com calda de chocolate… *—*

Eu ainda me lembro do alvoroço criado em fóruns de games com o lançamento de Dragon Age 2 só por haver a POSSIBILIDADE PERFEITAMENTE EVITÁVEL de se ter uma relação homossexual com alguns dos personagens. Não entendo como as pessoas podem ficar tão abismadas com isso. Será que a violência e sanguinolência características do jogo não seriam algo ainda mais chocante que um pequeno missable homoerótico?

Mas essa homofobia óbvia não existe só por parte do público… A mídia de cultura pop também é extremamente homofóbica.

Personagens de personalidade fortemente masculina são o atual mainstream da nossa cultura (por nossa eu quero dizer nerd, delfiana e afins). Homens tremendões. Canalhas másculos que pegam qualquer mulher que queiram. Caras fortes que lutam para proteger seu país, ideologia ou esposa (terem um filho ou não é opcional).

Esses homens não têm apenas que fazer o que eles já fazem, mas têm que ficar provando constantemente ao espectador a sua “masculinidade”. Como se você fosse uma pessoa melhor se tivesse mais testosterona correndo pelo corpo. Até algumas mulheres na cultura pop são EXTREMAMENTE másculas! Só nessa frase podemos encaixar alguns vários personagens da senhorita Angelina Jolie.

O medo de uma “infecção homossexual” fez com que a continuação direta do jogo Shin Megami Tensei: Persona 2 jamais fosse lançada no ocidente por causa da existência de um romance homossexual na história. Além disso, os jogos anteriores da série sofreram censuras simplesmente absurdas e preconceituosas nos seus lançamentos ocidentais.

Também faz com que mangás e animês do gênero yaoi e yuri não sejam traduzidos nem publicados deste lado do mundo. Em alguns países, a comercialização destes produtos, mesmo que importada, é ilegal. Nos pouquíssimos lugares em que traduzem mangás yuri somente trabalham com a vertente orange do estilo, que seria pornografia lésbica. E eu nem sei dizer com certeza se essas traduções são perfeitamente legais.

Em alguns podcasts, blogs e fóruns de nerdices, é quase impossível um homem gay não se sentir pelo menos um pouco ofendido com alguns comentários. E não existem muitos gays na cultura nerd.

Lanço para vocês o mesmo desafio do Gamasutra. Você consegue nomear TRÊS personagens homossexuais homens icônicos da cultura nerd que não sejam da BioWare, Bethesda ou Rockstar? Difícil, não? O Robin não conta. NENHUM Robin.

Algumas vezes, quando vejo alguns filmes como Sucker Punch, quadrinhos como Conan, games como Bayonetta, ou animês como Highschool of The Dead e tantos outros, eu fico “Nossa, que legal! Mas e essas mulheres lutando semi-nuas? WTF?”. Eu não sei o que homens heterossexuais vêem nisso, mas tudo bem. Eu ainda uso esses produtos e muitas vezes gosto deles. Mesmo com mulheres semi-nuas lutando contra robôs ou demônios gigantes (isso ainda não entra na minha cabeça). Mas o que impediria outras pessoas de jogar jogos ou ler HQs com casais homossexuais e ainda conseguirem gostar do trabalho? Mesmo que para eles seja algo tão sem sentido quando mulheres lutando de biquíni são para mim?

Eu só não entendo por qual motivo podemos ver nudismo feminino e violência sem controle, mas não gays. Vai demorar demais para vermos dois homens de mãos dadas lutando contra o império galáctico? Ou dois homens se beijando nos quadrinhos depois de uma luta épica contra o mal? Quem sabe até mesmo a grande revelação envolvendo o Robin e o Batman?

Tanto os produtores quanto a maioria dos consumidores são homofóbicos. Como mudar isso? A Samus da série Metroid e a Lara Croft de Tomb Raider levaram alguns anos para mudar a visão dos nerds em relação às mulheres. Mas o que será que irá mudar a visão em relação aos homossexuais? E em quanto tempo? Nathan Drake realmente seria um bom começo…

Obs: Na foto que ilustra esta matéria vemos o Jim Parsons e o seu namorado. Um exemplo para os gays nerds do mundo. Saiam do armário! E podem começar fazendo isso aqui nos comentários. Vocês não estão sozinhos!