Depois de 13 anos, cá estou eu cobrindo novamente um show no DELFOS. O assunto de hoje é Distant Worlds. Para quem não sabe, são as excelentes músicas de Final Fantasy com condução do maestro Arnie Roth e uma orquestra local. Para a apresentação de São Paulo, foi escolhida a sempre excelente Orquestra Sinfônica Villa Lobos, que eu já vi muitas vezes, tocando vários estilos diferentes.

Texto e fotos por Carlos Eduardo Corrales. Se deseja usar as fotos em algum outro tipo de conteúdo, ou só trocar uma ideia, escreva para carlos[at]delfos.net.br.

Eu nunca parei de ver shows, mas o último que fui com credencial foi para fotografar o Cradle of Filth, com o saudoso Allan Couto escrevendo. Leitores do DELFOS de longa data sabem bem o que aconteceu para eu parar de cobrir este tipo de evento. Quem chegou mais tarde, pode ficar sabendo do essencial clicando aqui e aqui também. Então esta primeira vez do Distant Worlds em São Paulo marca também meu retorno para esta atividade que era um dos meus principais sonhos quando comecei com o DELFOS, lá em 2004.

O CAMINHO PARA UM MUNDO DISTANTE

Distant Worlds, Final Fantasy, Arnie Roth, Orquestra Sinfônica Villa Lobos, Delfos, Square Enix
O coral é essencial para chegar a um mundo distante.

O show era no Espaço Unimed, que fica relativamente próximo da minha casa. Basta pegar um único ônibus. Porém, eu olhei no aplicativo de celular para ver os horários e garantir que chegaria com calma. A questão é que o aplicativo me deu calote. Dois ônibus que ele disse que passariam não passaram. E o próximo me faria chegar ao evento às 20:05. O limite para o credenciamento era 20. Oh, não!

Resolvi escrever um zapzap para a moça da assessoria de imprensa contando meu predicado. Até porque se fossem encerrar o credenciamento às 20 mesmo, preferia não perder a viagem. Ela respondeu que tudo bem, e quase imediatamente o ônibus passou. E lá fui eu. Com grande orgulho, digo que venci o GPS (toma essa, Moovit!) e cheguei ao local às 20:02! Rá!

ATRIBULAÇÕES DA IMPRENSA

Distant Worlds, Final Fantasy, Arnie Roth, Orquestra Sinfônica Villa Lobos, Delfos, Square Enix

Nos primeiros anos do DELFOS, eu cobri muitos shows. Inclusive alguns sentados. Uma coisa que me incomodava era que, nestes shows, imprensa não tinha lugar estabelecido. Lembro de, na primeira vez, ter perguntado para a assessora onde deveria sentar. Ela me olhou como se eu tivesse perguntado onde era o bordel mais próximo, e disse com a maior cara de julgamento “quê? Imprensa não senta!”. O mais bacana é que você não podia ficar de pé nem sentado nos corredores. A solução era sentar em qualquer lugar que estivesse vazio, mas esta falta de condições para trabalhar me incomodava bastante lá no início dos anos 2000.

Felizmente, quase 20 anos se passaram desde que comecei o DELFOS, e as assessorias de imprensa ficaram bem mais profissionais desde então. Agora não só teria um lugar marcado, mas inclusive um QR code de ingresso, que deveria fotografar com meu celular e apresentar na entrada para que fosse escaneado.

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A patetada foi que a moça que escaneou disse que alguém já tinha entrado com meu ingresso. Eita nóis! Voltei até o portão de imprensa, e as moças me deram um novo ingresso para a cadeira ao lado. Agora foi, e lá fui eu sentar no meu lugarzinho e montar todo meu equipamento para fazer a melhor cobertura que conseguisse.

EU TAMBÉM RECEBI SEU LUGAR

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A visão do meu lugar antes do show começar. Achei excelente!

Após ziguezaguear um pouco para encontrar meu lugar, finalmente o encontrei. E era um lugar excelente. Uma cadeira centralizada na primeira fileira do setor A. À minha frente tinha apenas o setor premium, que era grandinho, mas mesmo assim a minha visualização era excelente.

Quando um colega sentou ao meu lado, brinquei com ele e disse sorrindo que a moça tinha me dado o lugar dele. Acho que ele pensou que tinha sentado no lugar errado e me mostrou seu ingresso (a foto no celular). Eu mostrei o meu também, e disse que quando entrei, ele já tinha entrado com meu ingresso, e mostrei que então minha cadeira ficou sendo a do lado. Rimos e nos preparamos para a cobertura. O show começou pontualmente às 20:30.

DISTANT WORLDS: A MÚSICA DE FINAL FANTASY

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Visão panorâmica do meu lugarzinho.

Logo a orquestra entrou, com retumbantes aplausos da plateia. Daí entrou o solista, também muito aplaudido. O mais aplaudido, no entanto, entrou em seguida. Um caboclo subiu ao palco e o lugar veio abaixo, com gritos e palmas ensurdecedoras. Ele foi até o centro do palco, e… pegou uma cadeira e voltou a sair. Era só um funcionário do Espaço Unimed dando os toques finais no palco. Todos começaram a gargalhar, quando finalmente subiu ao palco o estiloso careca cabeludo Arnie Roth, o simpático maestro da noite.

A música começou calma, com corais tranquilos. Até estranhei, mas logo tudo ficou épico e fantástico. Acredito que a maior parte do público do DELFOS gosta de algum tipo de rock. E normalmente a gente pensa que rock é o estilo mais pesado que existe. De fato, é fácil achar músicas grandiosas e pesadas entre bandas de rock. Mas, olha, eu já vi muita banda de metal extremo ao vivo, e nada disso se compara ao peso e epicidade de uma orquestra sinfônica ao vivo.

É verdade que, para músicas orquestradas, você precisa procurar mais para encontrar peso. Há muitas canções orquestradas que são lentas, mas quando são pesadas, sai de baixo. Refiro-me àquelas em que percussão, pratos, coral, cordas, sopros e teclas tocam juntos. O poder, meu amigo! E este poder está em plena exibição durante as excelentes músicas de Final Fantasy. Claro, o show alternou deliciosamente músicas mais calmas – em que o coral até sentava – com outras mais pesadas.

FÃ DE FINAL FANTASY E DE DISTANT WORLDS

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Todos de pé, agradecendo a plateia.

Para muita gente, ver um show como Distant Worlds é a realização de um sonho. Não vou mentir aqui. Não sou um profundo conhecedor de Final Fantasy. Joguei – e cobri – Final Fantasy VII Remake. E depois disso também curti o Final Fantasy XVI. Porém, a música de Final Fantasy ultrapassa os videogames. Eu sempre soube que as trilhas eram fantásticas, e mesmo quando não jogava os games, dava um jeito de ouvi-las de alguma forma.

Admito que não reconheci todas as faixas do setlist. Até porque boa parte delas é instrumental. Fica difícil dizer os nomes sem um setlist por escrito para consulta. Mas posso dizer que gostei muito de todas as que foram tocadas. Saí empolgado, com algumas preferidas que já conhecia na cabeça, e outras que se tornaram preferidas durante o show.

VICTORY EM DISTANT WORLDS!

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Victory!

Após a primeira canção, Arnie Roth apresentou a Orquestra Sinfônica Villa Lobos e disse que só tinha um jeito de iniciar um show de Final Fantasy. Virou para os músicos e toda a orquestra tocou o teminha de vitória de batalha. A musiquinha dura apenas alguns segundos, mas é épica e inclui muitos instrumentos. Foi muito legal ouvi-la ao vivo. Nem bandas de três músicos costumam tocar faixas tão curtas, e aqui tivemos uma orquestra completa – com coral – tocando por alguns segundos. Demais  – e muito engraçado também.

O show continuou alternando músicas calmas e épicas. De vez em quando, Arnie virava para a plateia para apresentar as músicas. Ele costumava falar das três próximas que tocaria, em ordem inversa. Tipo “agora vamos tocar X, mas antes Y, e vamos começar com Z”, o que deixava minha cabeça com TOC e meu dever de imprensa fazendo anotações totalmente confusos.

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Minhas fotos do “chiqueirinho” são as que estão do lado direito do palco. Como esta.

Durante a quarta, quinta e sexta música seria minha oportunidade de fotografar. Na ausência de um chiqueirinho, fui orientado a fotografar da área no corredor direito das cadeiras. Então as fotos não ficariam tão próximas quanto as que costumava tirar em shows de rock. O bacana é que, como minha cadeira era do lado esquerdo, combinando as duas posições consegui tirar alguns ângulos mais diferentes. E felizmente, minha câmera tem um senhor zoom.

EU QUERO UM CHOCOBO DE ESTIMAÇÃO

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Stand up foi um dos momentos mais divertidos do show.

Uma música que me chamou atenção quando vi o setlist foi Stand Up, de Final Fantasy VII Remake. Esta é aquela canção que rola na divertida cena em que Cloud é montado em drag. Se você se lembra, é uma faixa mais pop, tocada por banda e vocal não lírico. Quando vi que ela estava no setlist, deduzi que haveria também uma banda além da orquestra. Mas não foi o caso. A versão de Stand Up apresentada foi deliciosamente rearranjada para orquestra e coral. Ficou reconhecível, mas totalmente sinfônica. Mais importante: igualmente divertida. Quando o coral cantava as partes com “hey!” era muito difícil aguentar a empolgação e não cantar junto.

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Encerrando o primeiro set, foi feito um medley com os temas dos chocobos. Esta se tornou uma das mais divertidas do concerto para mim. Eu já sou um grande fã dos fofos chobobos, e o vídeo que passou no telão focava em mostrar chocobos nenês que são ainda mais graciosos. Eu queria pegar um deles no colo e abraçar.

E a faixa em questão é muito legal, com um empolgante refrão em que o coral canta C-H-O-C-O-B-O. Foi de longe, um dos grandes momentos da apresentação. E foi seguida de um intervalo.

SET 2: DISTANT WORLDS

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Harpa é um instrumento que eu amo. Mas imagina o trabalho para transportar?

Eu estava no celular, respondendo mensagens e checando meu Twitter. Daí olhei para o palco, e a orquestra já estava lá. Oxi, quase que eu perco o show! Claro, o maestro ainda não tinha entrado, o que não demorou para acontecer, e só então as luzes se apagaram para a continuação do concerto.

O telão começou a mostrar imagens de Sephiroth, que foi muito aplaudido. Mas a música não era One-Winged Angel. Não ainda. Fiz uma busca aqui e o tema do Sephiroth é Those Chosen By The Planet. Porém, a versão dessa faixa que eu tenho aqui não bate com a que foi tocada, que até cantava “Sephiroth” em alguns momentos.

O show continuou, com Cosmo Canyon (Final Fantasy VII estava forte no show de hoje) e várias outras igualmente bacanas.

DISTANT WORLDS E O MEDLEY DE BATALHA

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As músicas dos jogos antigos ganham um sabor especial com uma orquestra real.

Pelo que o Arnie Roth falou com a plateia, parece que as versões apresentadas por Distant Worlds foram arranjadas pelo próprio Nobuo Uematsu. E a próxima era um medley das faixas de batalha de Final Fantasy I VI. Esta logo se tornou também uma das minhas preferidas.

Os videogames sempre tentaram imitar coisas como orquestras sinfônicas e narrativas elaboradas. Porém, várias gerações se passaram até que elas deixassem de ser imitações e passassem a ser a coisa real. E as limitações, especialmente da época dos 8 e dos 16-bit, são o que deixam os games dessa época tão charmosos hoje em dia.

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É o fim. Será?

Ainda assim, ver faixas que originalmente estavam nos jogos de NES e SNES tocadas por uma orquestra completa, sem as limitações de um chip de áudio, foi realmente mágico. E se já foi mágico para mim, que até conhecia as músicas, mas não teve experiência em primeira mão com os jogos antigos, imagino para quem teve.

Este medley foi épico, empolgante, lindo. Poderia continuar descrevendo, mas acabaria ficando repetitivo em tantos elogios. Era a música perfeita para encerrar o show. E foi seguida justamente por uma tela de créditos no telão. O maestro saiu do palco. Mas a orquestra não. Afinal, tirar 100 pessoas do palco só para fingir que o show acabou é um trabalho considerável. Todos sabiam, ainda faltava uma. Ela. A mais clássica. A que talvez seja a mais famosa música dos games, capaz de competir até com o tema de Super Mario.

ONE-WINGED ANGEL

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Sephiroth?

O maestro voltou ao palco e disse que queria que nós, a plateia, fizéssemos parte do coral da próxima música. Só precisaríamos saber uma palavra. Todos sorriram, já sabendo que a palavra em questão seria “Sephiroth”. Ele disse que precisaríamos ensaiar, e comandou o piano para mostrar as notas que deveríamos cantar. Após alguns “testes”, com todo mundo gritando “Sephiroth” o mais alto que conseguiu, ele disse rapidamente “One-Winged Angel“, e a música começou, com sua epicidade que até lembra filmes de terror.

Dada a fama e a potência da música, esperava que a plateia se levantasse durante ela, mas isso não aconteceu. Todo mundo cantou junto, mas sentadinho, em seu lugar. Uma coisa muito bacana é que, na hora do “Sephiroth”, o maestro se virava para a plateia e conduzia a gente a cantar. Eu nunca tinha sido conduzido por um maestro antes e, apesar de ser só uma palavra, adorei a experiência.

MÚSICA DE VILÃO

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Arnie Roth conduzindo a plateia. Sephiroth!

Eu tenho uma teoria, que venho passando para a minha filhota: músicas de vilões são sempre as melhores. Já mostrei várias para ela azeitando minha teoria. A Rainha da Noite, da ópera A Flauta Mágica, por exemplo. A Marcha Imperial, óbvio tema de Darth Vader, de Star Wars. E, claro, One-Winged Angel, o épico tema do Sephiroth.

Após a canção, o maestro saiu do palco, e a orquestra continuou lá. Luzes não se acenderam. Será que ainda teria mais música? Mas como seguir One-Winged Angel? Bom, não tardou, as luzes se acenderam e a orquestra começou a levantar e a conversar entre si, como os apresentadores de um jornal televisivo durante os créditos. De fato, o show havia acabado. E, meu camaradinha, que senhor show foi esse!

POR MAIS COBERTURAS DELFIANAS DE SHOW!

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Já faz um tempo que eu venho querendo voltar a cobrir shows no DELFOS. Acredito que escrevo e fotografo melhor hoje do que no início do DELFOS, e nosso estilo crônico faz com que nossas resenhas de shows sejam bem diferentes das dos outros sites. Porém, cobrir shows, especialmente sozinho, cuidando de fotos e texto, é bem exigente e cansativo. Certamente muito mais do que fazer reviews de jogos e filmes. Antes de encerrarmos, vamos a uma sequência com mais algumas fotos da noite.

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Você deseja mais matérias como esta no DELFOS? Se gostou e quer mais, faça comentários e me diga o que pensa. Por serem matérias bem mais trabalhosas, não vão ser tão numerosas quanto eram no passado, mas eu pretendo me esforçar para que cada uma seja especial. Mas só se você quiser, porque também não quero fazer o esforço se você prefere apenas reviews de games e filmes. Então estou esperando seu comentário. Equipe sua materia e me conte tudo aí embaixo!