Eu não me lembro de um outro lançamento de games tão conturbado quanto o de Star Wars Battlefront II. Parece que esta foi a gota d’água para os fãs de games em relação às microtransações. Já não era sem tempo. Embora eu entenda porque elas vieram a existir, e até tenha escrito um texto sobre isso, é claro que fico tão incomodado com elas quanto qualquer um.

Pois o lado bom é que parece que as reclamações do público estão dado resultado. Antes mesmo do lançamento, a EA diminuiu o preço dos heróis, e logo depois travou todas as compras com dinheiro real, tornando possível progredir no jogo apenas através do gameplay. Claro, o jogo ainda tem suas versões Deluxe, que trazem vantagens para aqueles que as compraram. Não dá para negar, é bem frustrante morrer e ver que quem te matou está equipado com várias cartas roxas, enquanto você nem cartas tem.

Star Wars Battlefront II, Delfos
O Bruninho provavelmente me matou porque eu sou um pato, mas com certeza suas cartas roxas não atrapalharam.

Mas isso felizmente só afeta o multiplayer. Ao contrário do jogo anterior, agora temos também uma campanha completa, então vamos começar falando sobre ela. Afinal, para mim este era o principal motivo para experimentar o jogo.

UMA HISTÓRIA STAR WARS

A campanha de Star Wars Battlefront II conta uma história que começa no final de O Retorno de Jedi e termina pouco antes de O Despertar da Força. Ela acompanha a jornada da comandante imperial Iden Versio.

Star Wars Battlefront II, Delfos
Da esquerda para a direita, Harsk, Iden e Del, os três protagonistas.

Apesar de lutar do lado do Império, Iden não é do mal. Ela acha que está lutando pela ordem e progresso da galáxia. No entanto, o desespero do Império após a destruição da segunda Estrela da Morte e do assassinato do Imperador Palpatine faz com que os remanescentes deem um piti e comecem a agir de forma bem cruel, fazendo com que Iden questione suas alianças.

É uma história bem comum no universo Star Wars. Já vimos personagens mudando de lado em O Despertar da Força e em The Force Unleashed, ambas com melhores resultados e mais impacto para a cronologia da série. Apesar de a história em si não ser lá muito criativa, ela mantém a atenção com personagens bem desenvolvidos e bastante humor. Além disso, ela tem participação de vários personagens importantes dos filmes.

Star Wars Battlefront II, Delfos
Lando e o novo personagem Shriv estrelam alguns dos melhores momentos.

Na parte de level design, eu diria que a campanha é boa, não ótima.

CAMPANHA BOA, NÃO ÓTIMA

Nos seus melhores momentos, você está controlando um Tie Fighter massacrando rebeldes DENTRO de uma nave da rebelião. Em outros, você está só limpando os inimigos do cenário antes de poder prosseguir, o que lembra bastante os shooters de uma década atrás.

Este não é a primeira continuação que a EA faz de um jogo multiplayer que traz uma campanha. O fato de Titanfall 2 ter sido muito elogiado como um jogo single player completo aumentou as expectativas. Star Wars Battlefront, em single player, não é tão legal quanto Titanfall. Mas também não é uma campanha sem imaginação como, por exemplo, a de For Honor.

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Ver a explosão da Estrela da Morte do ponto de vista de soldados imperiais é um momento inesquecível, por exemplo.

Os personagens estão sempre conversando, e os diálogos são legais e dão contexto aos tiroteios, mas falta a intensidade da campanha de outros jogos de tiro focados no multiplayer, como Call of Duty.

Quando os jogos tradicionais de single player ganharam PVP, como Bioshock 2, o lado multiplayer costumava ser desenvolvido por estúdios secundários. Aqui o caso foi o contrário. O multiplayer foi desenvolvido pela Dice, que provavelmente pegou o grosso do orçamento, enquanto a campanha foi criada pela Motive.

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Ok, tem algum espetáculo.

Isso talvez explique o fato de ela não ser tão cheia de espetáculo quanto a do Call of Duty, mas ela é variada e divertida o suficiente para valer a pena ser jogada.

HERÓIS EM SINGLE PLAYER

Você não joga apenas com Iden na campanha, mas também assume o papel de alguns dos heróis dos filmes. Se, com Iden, você pode escolher a visão em primeira ou terceira pessoa, no controle de heróis, só dá para jogar na terceira. Os personagens são bem diferentes entre si, mas menos customizáveis do que a Iden.

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Lando admirando um Walker.

Eles também são um tanto menos desenvolvidos do que seriam se fossem os protagonistas. Por exemplo, não dá para comparar controlar um jedi aqui com a experiência que podemos ter em The Force Unleashed. Battlefront é, antes de mais nada, um jogo de tiro, e é neste aspecto que ele se dá melhor.

Há uma boa quantidade de fases, no entanto, em que você controla navinhas. Tie Fighters, X-Wings e outros veículos icônicos dos filmes estarão na ponta dos seus dedos. Embora elas tenham controles bem simples, estas fases são bem legais, além de responderem pelo visual mais impressionante da campanha.

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Nada como destruir um Star Destroyer durante o pôr-do-sol.

A quantidade de fases de navinha foi a principal surpresa da campanha para mim. Eu até esperaria que tivesse algo nesse aspecto, mas deve corresponder a pelo menos 40% da campanha. Foi uma investida acertada, que acaba respondendo pelos momentos mais únicos da história.

Porém, a história é apenas uma parte do jogo. O principal mesmo, é claro, é o multiplayer.

MULTIPLAYER

A primeira coisa que eu reparei, antes mesmo de jogar, foi como a coisa ficou mais simples. Não temos mais a opção de escolher entre mais de uma dezena de modos de jogos, mas apenas alguns.

O principal é o Galactic Assault, que é basicamente a mesma coisa que o War, de Call of Duty: WWII. Ele envolve um time no ataque e um na defesa. O que está no ataque deve cumprir uma série de objetivos, enquanto o da defesa, obviamente, deve impedir isso. É bem legal e totalmente épico, uma vez que junta 40 jogadores em uma única partida.

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E às vezes você olha para trás e o Yoda está lá morgando.

Esta é a modalidade com maior variação. Conforme você joga, vai ganhando pontos e, quando juntar uma cacetada deles, pode renascer como um veículo ou um herói. Isso faz com que, enquanto você está envolvido no tiroteio, pode ter uma X-Wing atirando em um Walker imperial, enquanto do outro lado Luke e Darth Vader estão em uma batalha de sabres de luz. É bastante cinematográfico.

Estas batalhas rolam em várias épocas da série, então em uma delas você pode jogar com os separatistas do Episódio I, para citar um exemplo.

O lado ruim é que só pode haver um de cada herói no campo de batalha, o que significa que são sempre as mesmas pessoas que conseguem jogar com os personagens mais concorridos. Aqueles menos bons (para não dizer ruins, como eu), acabam ficando limitados a jogar com um tal de Bossk. Quem diabos é Bossk? Por que não poder ter dois Lukes no jogo? Afinal, é multiplayer, não campanha. Alguém já reclamou que você pode colocar Ryu contra Ryu em Street Fighter V (terrivelmente, no Street Fighter II original isso ainda não era possível)?

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A obrigatória foto de explosão.

Outra coisa chata, e isso é parte da polêmica que envolveu o jogo, é que a maioria dos heróis devem ser comprados antes de ser usados. Estas compras são feitas com o dinheiro que você ganha depois de cada partida e, mesmo com os preços cortados em 75%, ainda custa bem caro liberar todo mundo. Jogando toda a campanha e boas horas de multiplayer, eu juntei dinheiro suficiente para comprar os dois mais caros (Luke e Darth Vader), mas ainda tem um monte de gente que eu gostaria de ter para brincar e estou longe de destravar.

PVP DE NAVINHA

O outro modo principal é quase a mesma coisa que o Galactic Assault, mas ao invés de você controlar soldados, você controla navinhas. Os heróis que você gasta pontos para usar não são mais os personagens propriamente ditos, mas naves como a Millenium Falcon ou o Tie Fighter do Darth Vader.

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Pew pew!

Esta talvez seja a modalidade mais acessível. É bem fácil fazer longos killstreaks jogando com navinhas, uma vez que é difícil de virar o jogo uma vez que alguém está te perseguindo.

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Assim como a Galactic Assault, aqui também há objetivos. Um lado deve destruir coisas específicas, enquanto o outro deve acabar com as vidas do time de ataque. É bem divertido, mas acaba enjoando depois de um tempo.

HERÓIS E VILÕES

Este talvez seja o modo de jogo mais descompromissado, bagunçado e divertido. Aqui todo mundo joga com um personagem conhecido, possibilitando criar batalhas que nunca aconteceram.

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Tipo Yoda contra Darth Vader.

Não é um mata-mata simples, no entanto. Sempre tem um jogador em cada time que é o alvo, e os pontos só são contados quando o alvo morre. Não tenho certeza se as pessoas realmente levam isso muito a sério, uma vez que todo mundo acaba lutando com qualquer um que cruzar seu caminho, mas é o time que derrotar mais alvos que será coroado vitorioso.

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O modo heróis e vilões traz caras conhecidas de várias épocas.

Os últimos modos de jogo são mais tradicionais. Strike coloca os dois times em partidas com objetivos, como sabotar ou defender um ponto do mapa. Blast é o tradicional Team Deathmatch, sem heróis superpoderosos, mas que permite comprar alguns guerreiros mais pintudos do que o padrão.

PROGRESSÃO

O meu problema com o PVP de Star Wars Battlefront II é seu sistema de progressão. Mesmo sem a possibilidade de comprar os upgrades com dinheiro real, o negócio está quebrado. Jogadores mais experientes, além de naturalmente serem mais habilidosos, têm acesso a upgrades mais poderosos, que assumem a forma de cartas com os níveis de raridade tradicionais em RPG. Isso significa que um Darth Vader de nível avançado pode usar seus poderes de força com maior frequência e maior efeito do que alguém que acabou de destravar o personagem. Lembra lá do começo?

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O Bruninho provavelmente me matou porque eu sou um pato, mas com certeza suas cartas roxas não atrapalharam.

Isso já é um problema neste momento, em que o jogo saiu há poucos dias. Imagino que, para quem comprar o jogo daqui a uns meses, ou ficar um bom tempo sem jogar, pode encontrar um campo de PVP totalmente desnivelado, com alguns poucos jogadores dominando tudo enquanto outros estão lá apenas para apanhar. E isso faz com que a maioria não se divirta.

No entanto, devo ser justo: neste momento, mesmo tendo alguns jogadores com vantagens, como o Bruninho aí de cima, Star Wars Battlefront II é bem mais acessível do que o mais recente Call of Duty. Porém, ele funcionaria bem melhor se todo mundo tivesse acesso às mesmas cartas e a progressão fosse apenas cosmética.

POR FIM, O ARCADE

Tem mais uma forma de jogo, mas ela provavelmente será quase totalmente ignorada pela maioria das pessoas. Trata-se do Arcade, que visa recriar batalhas famosas da série. No entanto, na prática, trata-se de um multiplayer com bots no lugar dos jogadores. As partidas são sempre coisas como “controle o Darth Maul e mate 70 inimigos em dois minutos”.

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Stormtroopers, sentido!

Acaba servindo como um tutorial, uma possibilidade de testar os diversos personagens antes da batalha real contra outros jogadores. Porém, sabe-se lá por qual motivo, a desenvolvedora optou por travar as batalhas como fases. Ou seja, fazer uma libera a fase de baixo. Isso significa que, se você quiser treinar, por exemplo, com o Yoda, precisa jogar um monte de outros tutoriais até liberar o dele.

STAR WARS BATTLEFRONT II

Vou dizer, está longe de ser um jogo perfeito, mas em meio a todas as polêmicas e a seus sistemas anti-jogador, eu me diverti muito com Star Wars Battlefront II. É raro eu realmente me divertir com um PVP, e este foi um dos raros casos em que eu não conseguia parar de jogar. Eu queria terminar a campanha, mas ficava constantemente me convencendo a jogar “só mais uma partidinha”.

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Sim, há decisões estapafúrdias aqui, que vão prejudicar mais o jogo quanto mais o tempo passar (e os jogadores que mais jogarem tenham mais vantagens sobre os que acabaram de começar), mas se você curte PVP e PVE, temos aqui um jogo que se dá bem e diverte em ambos os casos. E a gente sabe como isso é raro atualmente.