O Pequeno Nicolau

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Tem algumas personalidades que acredito que a maior parte de nós, tendo a chance, daria um abraço bem apertado e diria obrigado. Entre as unanimidades do público desse site, com certeza teríamos nomes como Stan Lee, Shigeru Miyamoto e Walt Disney. Eu, no entanto, tenho mais dois nomes nessa minha lista de heróis: o roteirista René Goscinny e o desenhista Albert Uderzo, a dupla criadora de Asterix, para mim o melhor, mais engraçado e mais inteligente entretenimento infantil já criado.

Mas admito que não conheço muitas outras coisas criadas por esses dois gênios dos quadrinhos. Assim, eu quase deletei o convite para essa cabine, mas antes que meu dedo atingisse a temível tecla DEL, meus olhos leram a frase “Baseado na obra de René Goscinny e Jean Jacques Sempé”. Opa! Freei meu dedo imediatamente, causando aquele barulho de pneus cantando e reservei a data na agenda para pegar esta cabine. Afinal, o nome da obra pode até não ser tão conhecido por aqui, mas qualquer fã de quadrinhos que se preze tem a obrigação de ver qualquer filme baseado em uma criação de Goscinny e/ou de Uderzo.

Nicolau é um menino feliz que tem vários amiguinhos patetas na escola. Graças às temíveis histórias infantis que contamos para nossas crianças (você já parou para pensar como os contos de fadas são assustadores?), ele acredita que vai ganhar um irmãozinho e, como consequência, seus pais o abandonarão na floresta. E agora ele e seus amigos vão ter que fazer altos planos para agradar os adultos ou, na pior das hipóteses, para se livrar do nenê assim que ele chegar. Precisa dizer que vão rolar altas confusões?

O Pequeno Nicolau tem um jeitinho meio Amélie Poulain. Toda a história é contada do ponto de vista das crianças, com aquele raciocínio típico dessas criaturinhas, como “por que eu vou ganhar um irmãozinho? Eu só queria uma bicicleta”. Ou então, quando o Nicolau comenta que um dos seus amigos quer ser ministro e daí imagina o moleque vestido socialmente no meio de um monte de pessoas mais velhas. É exatamente assim que eu imaginava as coisas na infância. Lembro quando minha avó me contou algo de quando ela era criança e imaginei a situação com a minha avó em corpo de criança, mas com o mesmo rosto de vovó. Eu me identifiquei em vários momentos e tenho certeza que, se você der a chance, também vai se identificar.

Graças à mente infantil, o filme é ao mesmo tempo muito engraçado e muito fofo. Parece até que a Pixar resolveu fazer live-action. Se você conhece alguma coisa do humor francês, já deve imaginar o que temos aqui: piadas bobas e uma mensagem positiva. E dá para ser mais legal do que isso?

Em determinado momento, inclusive, as crianças pegam a revista Pilote (onde as HQs do Asterix surgiram) e decidem reproduzir um dos momentos mais famosos da mitologia Asterística, quando os gauleses dão a poção mágica para os romanos pela primeira vez. Claro, com algumas pequenas adaptações, mas ainda assim foi muito legal.

Lá no finalzinho, mais especificamente na última frase, o longa dá a entender que O Pequeno Nicolau é o próprio René Goscinny e estamos vendo uma história autobiográfica. E isso deixa tudo ainda mais forte e mais legal.

Por ser um filme pequeno, com o lançamento limitado, sei que esse é o tipo de resenha que poucos delfonautas vão ler, e menos ainda vão assistir. Porém, aqueles que puderem assistir, façam isso, pois temos aqui um longa muito divertido e engraçado, que faz você sair da sala com um saboroso gostinho de infância.

E quanto ao René Goscinny… infelizmente eu nunca vou poder abraçá-lo ou dizer “obrigado”, já que ele morreu antes mesmo de eu conhecer os gibis do Asterix. Ainda assim, fico feliz por constatar que ainda existe mais da sua obra a ser explorada. E vou agora mesmo comprar um dos Pequeno Nicolau que, sim, estão disponíveis no Brasil e em português. ^^