O Luiz e o Rock

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Um dos especiais que eu mais aprecio dentro do DELFOS é exatamente o “O Rock e eu”. Li todos aqueles textos (se você não leu, todos os links estão no final da matéria) e era incrível a identificação que eu sentia ao passar por aquelas linhas. Era como se eu me lembrasse da minha própria história com o Rock, e, por mais que aquelas histórias fossem diferentes, elas me passavam o mesmo sentimento que eu sentia quando lembrava do Rock dentro da minha vida. Então você pode imaginar a minha emoção quando soube que acabaria fazendo parte do Especial Rock de 2014.

Pois bem, cá estou. Porém, antes de começar, uma coisa que é importante ressaltar é que rock pra mim, por muito tempo, se resumiu ao bom e velho Heavy Metal. Demorou muito tempo para eu realmente entrar no mundo do rock clássico do Led Zeppelin ou mesmo do hard rock do Van Halen, mas isso não quer dizer que eu não escutasse Titãs quando meu pai colocava o CD deles para tocar. Inclusive, posso dizer que foi ele que me deu o primeiro empurrão para entrar no mundo do rock.

Meu pai foi da geração da Legião Urbana, dos Paralamas do Sucesso e dos Titãs, então foi graças a ele que eu tive meu primeiro contato com guitarras mais rápidas e pesadas. Lembro bem do dia em que ele comprou uma versão em CD do Cabeça Dinossauro, dos Titãs, e de como eu fiquei vidrado naquele disco.

Eu estava acostumado a ouvir os CDs do Luiz Gonzaga e do Ivan Lins que o meu pai gostava de botar nos churrascos de família, não aquilo. Eu ainda era pequeno, mas a batida e a velocidade de músicas como A Face do Destruidor me pegaram de surpresa – e provavelmente foi ali que elas me cativaram.

O engraçado é que eu posso dizer que a minha entrada para o mundo do Heavy Metal foi um tanto quanto parecida.

A PRIMEIRA MÚSICA DE METAL

Eu tinha um vizinho chamado Sérgio. Ele era um pouco mais velho do que eu e adorava rock e videogames. Eventualmente, eu ficava na rua conversando com ele e ouvindo ele contar histórias de jogos e tocar violão. O Sérgio foi a minha primeira inspiração para entrar neste mundo, e foi ele quem me deu esse empurrão de entrada no mundo do metal – e, consequentemente, fez com que eu desse a primeira bangueada da qual eu tenho lembrança.

Era um fim de semana de manhã e eu encontrei ele na rua. Eu devia ter algo em torno de 11 anos, e ele me falou que tinha arranjado uma fita cassete com uma música do Metallica. Eu, curioso que só, resolvi dar uma conferida e pedi para ele me mostrar aquela banda que tinha “metal” até no nome. E aí começou uma música com uma guitarra fuleira, sem distorção, fazendo uns acordes meio estranhos. Eu tive que perguntar: “Ué, isso que é o Metallica? Cadê a guitarra pesada?”, obtendo como resposta apenas um aceno de mão me mandando esperar…

E eis que as guitarras pesadas surgem, sumindo logo em seguida e dando lugar de novo às guitarras sem distorção do inicio da música. Foi bem engraçado ver aquela mudança brusca, e foi quando eu comecei a rir que as guitarras pesadas voltaram com força e aumentaram e aumentaram até desembocar no riff de guitarra que me colocou de vez no mundo do metal. Sim, delfonauta, estou falando de …And Justice For All.

E foi assim que eu tive os meus primeiros contatos com o Heavy Metal. Sempre que podia, ficava ouvindo música com o Sérgio e vendo ele tocar violão – o que devia ser bem engraçado de se ver, porque ele era bem mais velho do que eu (algo em torno de oito anos de diferença), o que provavelmente fazia eu parecer um sidekick. Foi naquela época que eu ouvi pela primeira vez um álbum de metal inteiro, o famoso Gates of Metal Fried Chicken of Death, do Massacration.

Foi naquele período que eu acabei entrando em um curso de guitarra. Mas o fato é que eu gostava muito mais de sonhar que era um rockstar do que propriamente sentar e ficar treinando padrões de escala, então eu acabei abandonando o instrumento. Apesar disso, foi nesse curso que eu tive meu primeiro contato com os virtuoses do Dream Theater – que atualmente estão no meu rol de bandas preferidas – e também com a banda do Malmsteen – que não é algo que eu ouço muito atualmente, mas cujos riffs me impressionaram na época.

A parte engraçada é que eu não ouço Heavy Metal ininterruptamente desde aquela época. Por volta de um ano depois, eu larguei o curso de guitarra e mudei de escola. Acabei mudando de endereço também, o que me fez estar em contato com outros tipos de pessoa e largando o Heavy Metal.

E como eu era muito pequeno na época e não falava inglês, eu não sabia o nome das músicas que ouvia – apenas das bandas. Porém, eu nunca me esqueci daqueles riffs e solos, então você pode imaginar minha cara de alegria quando, depois de muito tempo, eu descobri o nome da música cujo riff foi o meu preferido por todo aquele tempo.

A VOLTA AO METAL

Depois que mudei de escola eu acabei perdendo contato com o Heavy Metal. No entanto, acabei me aproximando de pessoas que gostavam do gênero, e como eu já tinha uma certa predisposição, não demorou muito para eu voltar a ouvir. Lembro que, por algum motivo que eu não me lembro bem, eu resolvi ouvir Iron Maiden. Se era porque o meu cunhado era fã da banda e andava com camisas do Eddie ou porque os amigos da escola tocavam Maiden no violão, o fato é que resolvi ouvir a Donzela, e escolhi começar pela música com o nome mais legal: The Number of the Beast.

E era passeando por playlists online e ouvindo meus amigos falarem de como eles gostavam de Guitar Hero que eu fui voltando aos poucos a ouvir Heavy Metal. No entanto, houve um acontecimento crucial que fez com que eu voltasse a não só ouvir o bom e velho gênero musical bretão como também me fez tirar a poeira da minha velha guitarra – cujo nome é Charlotte e quem adivinhar o motivo ganha um high five telepático.

Lá pelos idos de 2009, eu estava voltando para casa no ônibus e eu tive o seguinte diálogo com o Rodrigo, um grande amigo meu:

Rodrigo: – “Ei, cara, um primo meu me deu dois DVDs horrorosos, que só tem uns caras gritando.”
Eu: – “De rock?”
Rodrigo: – “É, cara. Como você gosta, eu tava querendo te dar.”
Eu: – “Como assim, cara? São que bandas?”
Rodrigo: – “Angra e Shaman. Você quer? Eu te dou, sério, odiei aquilo.”

É como dizia o velho deitado, delfonauta: Odin escreve certo por machadadas tortas. Foi de tanto ver as perfomances matadoras dos DVDs da Rebirth World Tour e do Ritualive que eu resolvi voltar a tocar guitarra, abismado com a técnica daqueles guitarristas e com a força daquelas músicas. A música que me deu a vontade inicial para voltar a tocar foi Nova Era, mas o DVD que tem a performance de guitarra mais épica e consequentemente se tornou o meu preferido foi mesmo o Ritualive. Convenhamos que ninguém se comparava à banda na época, não é?

DESCOBRINDO O PANTERA

Dessa vez, diferente da primeira, eu criei vontade de treinar e praticava o instrumento incessantemente, todos os dias por pelo menos duas horas. Sabia que não seria fácil chegar no nível daqueles que eram as minhas inspirações guitarrísticas, então me dedicava ao máximo para alcançá-los.

Algo muito interessante foi que, quando estava surgindo essa vontade de voltar a tocar, ocorreu a Bienal do Livro no Rio de Janeiro. E eis que, passeando pelos estandes, eu achei uma edição do livro Guitarra Para Leigos. Sim, delfonauta, eu comprei o livro e o devorei como se não houvesse amanhã. Foi a melhor coisa que eu poderia ter feito, porque este livro é uma ótima pedida caso você queira começar a tocar guitarra.

E daí para frente as coisas só melhoraram. Passei pelo menos um ano ouvindo Angra e Shaman ad infinitum, quando resolvi que era hora de me reciclar e ouvir outras bandas. Ouvi um pouco de Metallica, Megadeth, mas ainda não era bem o que eu queria. E foi aí que eu conheci o Pantera – banda que me deu um novo gás para a música e provavelmente a que eu mais ouvi até hoje.

Minha lembrança mais forte do Pantera é a de que eu escutava a banda todo santo dia. E quando eu digo todo dia é porque era todo dia mesmo. Eu me lembro bem de escutar pelo menos um disco da banda diariamente, hábito que durou pelo menos dois anos.

Era engraçado porque eu podia estar com problemas, estar triste ou estar feliz, mas o Pantera sempre tinha uma música que potencializava aquilo e fazia com que eu me sentisse em paz. Raiva? Hellbound. Dor de cotovelo? Cemetery Gates. Fraqueza, vontade de desistir? Strenght Beyond Strenght. E se eu precisava esvaziar minha mente, nada melhor do que os primeiros segundos de The Great Southern Trendkill.

Não que as músicas das outras bandas não me fizessem bem, mas até hoje nenhuma fez isso melhor do que o Pantera. Atualmente, não ouço a banda tanto quanto ouvia, mas ela ainda tem um lugar de destaque na minha playlist – e se quer minha opinião, o melhor álbum é o Far Beyond Driven. =P

Depois de me tornar um fanático por Pantera, comecei a ouvir bastante Megadeth, Metallica e principalmente Iron Maiden. Foi quando eu comecei também a criar a minha coleção de CDs e DVDs, cujo primeiro item foi uma edição do disco Painkiller, do Judas Priest. Hoje ela já tem alguns petardos como uma edição inglesa do Powerslave, do Iron Maiden, a edição de 20 anos do Peace Sells… But Who’s Buying?, do Megadeth, e também uma edição do primeiro álbum autointitulado do Black Sabbath – que, curiosamente, foi lançado no dia do meu aniversário, 27 anos antes. Presentão, não? Só foi um pouco adiantado, mas como é o Sabbath a gente perdoa.

MONTANDO UMA BANDA

Foi em 2012 que eu montei uma banda. Juntei uns amigos do colégio, conheci gente nova e finalmente coloquei em prática o sonho de ter uma banda. Foi uma grande experiência – que para mim todos deveriam ter, pois demanda responsabilidade manter uma banda e fazê-la funcionar.

O fato é que foi uma ótima experiência, bastante intensa. Eu levava aquilo bastante a sério, então eu considero esta como a minha primeira experiência minimamente profissional. A banda não era lá muito profissional – era mais brincadeira do que qualquer outra coisa -, mas como todos queriam subir em um palco e metal não é um gênero muito fácil de tocar, a gente precisava ensaiar direito. Então, por mais que houvesse brincadeira durante os ensaios, todos aprendiam a tocar as músicas de maneira satisfatória e assim todo o resto corria tranquilamente.

Tamanha era a ânsia por se apresentar que logo de cara fizemos dois shows em um intervalo de três meses. Pode parecer pouco, mas ensaiando uma vez por semana e tendo mudado completamente o setlist de um show para outro, pode-se dizer que isso foi algo que precisou de bastante esforço para ser realizado.

E foi quando a gente decidiu que deveria parar de fazer shows e começar a compor que as coisas começaram a dar errado. Não conseguimos achar uma maneira legal para compor, pois na maioria das vezes algo que soava ruim para mim estava bom para outro, e para um terceiro estava uma porcaria… Enfim, o fato é que não conseguíamos estabelecer uma maneira de compor que unisse forças ao invés de dividir, então a banda não deu mais certo e acabou tão repentinamente quanto surgiu.

AO INFINITO E ALÉM

Nunca fui muito de ouvir milhares de bandas ao mesmo tempo, pois sempre procurei ouvir uma e cavar bem fundo para conhecer o trabalho dela, o que me faz não ser um grande expert do Heavy Metal. Apesar disso, sempre achei melhor apreciar o trabalho todo de uma banda, com calma e paciência para absorver o trabalho dela. Afinal, se antigamente as pessoas ficavam pelo menos dois anos ouvindo o mesmo disco de uma banda até sair o outro, por que eu tenho que ouvir um disco por semana?

Devido a isso, não são muitas as bandas que eu acompanho. Atualmente, tenho ouvido bastante bandas não tão pesadas quanto o Pantera, como Dream Theater, Helloween e Adrenaline Mob. Com o tempo, eu também passei a ouvir bandas fora do Heavy Metal, como Led Zeppelin, Rainbow, Van Halen e The Winery Dogs – banda que eu só passei a ouvir porque o Mike Portnoy, do Dream Theater, faz parte, mas que não tem nada a ver com os trabalhos anteriores do baterista.

É verdade que nunca tive muito interesse para procurar a fundo outros gêneros musicais, como bossa nova ou choro. Mas, por ter estudado bastante guitarra e com isso ter entrado em contato com muitos outros gêneros, acabei desenvolvendo bastante apreço por outros estilos musicais, gostando de escutá-los nas suas mais variadas formas. Acho que a lição mais importante que eu aprendi com o rock e com a guitarra foi que música é música: rock ou pagode, boa ou ruim, ela exprime um sentimento, tem um motivo para estar lá. E deve ser apreciada como tal.

NÃO DEIXE DE LER O RESTO DA SÉRIE “DELFIANOS E O ROCK”:

O Bruno e o Rock: o texto que deu origem à série.

O Corrales e o Rock : heavy metal,hard rock e mamãe.

O Cyrino e o Rock: guitarras dissonantes e alternativas.

O Guilherme e o Rock: só os elementos mais pesados da tabela periódica.

O Allan e o Rock: alternativo e MTV.

O Pscheidt e o Rock: mais conhecido como o “cara, você é muito poser”.

O Daniel e o Rock: ele diz que curte metal, mas só ouve bandas estadunidenses.

A Joanna e o Rock: música de menininha sim, e com orgulho

O Flávio e o Rock: seduzido pela Donzela.

A Tis e o Rock: ela insiste em dizer que aquela bagunça é gosto musical.