O Daniel e o Rock

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Delfonauta, chegou a minha vez de falar sobre o meu amor pelo Rock. Um mês antes de o Allan lembrar o Corrales que eu deveria fazer este especial como parte da tradição delfiana, comecei secretamente a elaborar o texto que você está lendo. E olha, não sabia o quanto era difícil escrever um texto pessoal como este.

A música é extremamente importante para mim, especialmente o metal, e acho que o delfonauta já deve ter notado isso pelas notícias que escrevo. O metal, na verdade, mudou a minha vida e, se não fosse esse estilo de música, tenho certeza que seria uma pessoa completamente diferente (e também menos feliz).

Minha relação com a música começou bem cedo, quando eu era pequeno. Meu pai é um baita de um violonista solo e apaixonado por música clássica. Ele sempre teve o costume de tocar violão pela manhã e várias vezes eu acordei ao som de grandes clássicos.

As composições eram de Bach, Fernando Sor, Villa Lobos e mais uma porrada de outros gênios da música clássica em geral. Quando pequeno, nunca dei muito valor para isso, mas depois de grande e menos burro comecei a valorizar bastante essas músicas que meu pai gosta. Algumas eu adoro até hoje, como Sevilha (Issac Albeniz), Astúrias (Issac Albeniz), Sonhaiá (Isaias Sávio), Dr. Sabe Tudo (Dilermando Reis), Danza Pomposa (Alexandre Transman), Um dia de Novembro (Leo Brower), entre várias outras.

Minha mãe gosta um pouco de tudo e não tem a música como uma parte tão essencial na vida dela quanto meu pai e eu. Mas ela também foi importante na minha “formação musical”, como eu explicarei mais abaixo. =)

De qualquer forma, os gostos deles e a minha criação me direcionaram aos meus gostos atuais, mas antes vamos explicar o que eu era antes de me apaixonar pela música.

ANTES NERD DO QUE METALEIRO TRÜE

A demora toda para começar a me interessar por música de verdade talvez esteja ligada ao meu enorme interesse em ser nerd. Se eu não jogo muito videogame hoje, garanto que compensei quando era criança. Os jogos eram o meu maior hobbie e apenas dividiam espaço às vezes com praticar futebol (não assistir aos jogos, já que naquele época eu achava isso um tédio) e outras coisas nerds, como ler revistas de games, jogar e colecionar card games (Pokémon, Magic: The Gathering).

E, lógico, como todo bom nerd trüe, eu era tímido e tinha medo de pessoas. Para completar, tinha medo até do próprio rock, provavelmente por influência da minha mãe, que não conhecia direito o estilo e o via com aquele estereótipo tão conhecido (satanismo, mau, etc, etc). Isso me tirou o interesse do estilo até os meus doze anos, quando tudo começou a mudar.

Imagine agora uma música evocando um suspense dramático.

Tinha um amigo que também era muito apaixonado por games, e ele tinha o jogo Rock ‘n’ Roll Racing. Se o delfonauta conhece o jogo, sabe que tem alguns dos maiores clássicos do rock lá, como Highway Star, Bad to the Bone, Paranoid, entre outras, e quando ele me emprestou, eu tive o primeiro click com a música. Como eu era muito novo e nessa época não tinha acesso à internet, fiquei muito tempo sem saber quais eram as músicas daquele jogo.

Mais ou menos nessa época, três discos foram essenciais para eu me interessar pelo rock, mesmo sem entender o que era o gênero. O primeiro meu pai tinha: uma coletânea de Johnny Rivers, um cantor pop bem bacana, mas que tinha algumas músicas mais rock’n’roll (ele fez uma versão do clássico Hey, Joe que gosto mais do que as versões famosas do Hendrix e do Deep Purple). Foi um dos primeiros discos que eu fiquei interessado em ouvir. Os outros dois foram muito mais importantes.

Minha mãe gostava de uma coletânea de posto de gasolina (!) com diversos artistas muito bons do rock. Este CD foi definitivo para eu me interessar por música. Tinha Perfect Strangers do Deep Purple, Breaking all the Rules do Peter Frampton, Maggie Way do Rod Stewart, só para citar algumas das minhas preferidas. Um dia, meu pai comprou a coletânea 1, dos Beatles, e isso foi o suficiente para eu me apaixonar de vez pelo estilo. Até hoje, é um dos meus CDs favoritos, mesmo que eu tenha detonado ele de tanto ouvir.

MÁS INFLUÊNCIAS NÃO ABENÇOADAS PELO VENTO PRETO

Mesmo com o meu interesse no rock “antigo”, a coisa não andou como deveria. Arte é algo para se dividir com pessoas, amigos, e no meu caso eles estavam muito mais interessados em coisas horríveis como CPM 22, Detonautas ou New Metal (nada contra quem gosta, claro).

O restante do pessoal curtia dançar aquelas outras músicas desprezíveis que as pessoas só ouvem em festas de aniversário – ver Anna Julia. Já naquela época, começaram a me identificar como “o” chato, porque eu simplesmente não conseguia dançar aquelas coisas. Foi por causa dessa situação desfavorável que eu quase nunca conversava com os amigos sobre meus gostos e não conhecia coisas novas.

Mas na vida sempre tem alguém abençoado pelo vento preto que inicia o outro. O meu foi o mesmo grande amigo do Rock ‘n’ Roll Racing “deixou” de gostar de Offspring, Green Day e Nirvana (que eu achava e ainda acho melhores do que as coisas dos últimos parágrafos, mas também são coisas que não me empolgam tanto) para, do nada, começar a ouvir metal, em especial três bandas: Angra, Iron Maiden e Ozzy Osbourne.

Perguntei se ele não iria deixar de gostar do heavy metal também. Ele respondeu algo do tipo: “chegou no heavy metal, você para. Não existe nada acima do heavy metal”. Apesar de eu achar a frase meio engraçada e boba, logo depois acabei também me apaixonando pelo estilo quando ele me mostrou uma música: Crazy Train, do nosso querido Ozzy.

UM OZZY NA MINHA VIDA

Acho que o delfonauta conhece essa música, certo? Senão, eu recomendo de coração que você a ouça aí em cima. Crazy Train me rendeu imediatamente aos vocais originais de Ozzy, aos riffs absurdos e ao solo de guitarra. Nunca tinha ouvido nada assim antes. Como uma vez Jeff Waters do Annihilator falou (mais sobre ele daqui a pouco), os jovens deixaram de ouvir bons guitarristas e solos nos anos 90 e, em parte, no começo do novo século e era exatamente disso que eles precisavam (e eu precisava).

Crazy Train foi também a música certa para me iniciar por causa da letra. Embora eu nunca tenha tido como requisito boas letras para eu gostar de uma música, elas fazem bastante diferença e no caso essa letra foi essencial para eu me tornar um banger apaixonado. Não apenas eu me identificava com o que ela dizia, como também encontrei uma mensagem que mudou meu jeito de ser: eu não preciso ser como os outros. Ninguém precisa.

Meu aniversário de 14 anos estava bem próximo depois do meu amigo ter me mostrado essa música e eu pedi um CD de presente para os meus pais. Era o The Ozzman Cometh. Minha mãe topou porque achou que era apenas uma fase ou influência boba do meu amigo. Big mistake!

Passei um ano inteiro adquirindo os discos do vocalista. Gostava da maioria, mas o que mais me marcou e continua como um dos meus favoritos até hoje é o Diary of a Madman. Grande parte dos questionamentos da banda sobre religião e outros me ajudaram a me tornar mais crítico, porque, acredite, eu já fui um jovem cristão bem pouco pensante.

HEADBANGER MODE ON

Ainda neste ano em que eu fiquei fanático por Ozzy, comecei a ir atrás de outras bandas aos poucos. O que mais me indicavam ou eu acabava conhecendo eram bandas de hard rock, melódicas ou as clássicas do gênero. Guns’N’Roses, Dr. Sin, Judas Priest, Kiss, Primal Fear: todas essas eu cheguei a comprar discos e em nenhuma delas fiquei tão animado quanto com o vocalista britânico.

O que não ajudava também é que eu comprava os CDs completamente às cegas (nesta época eu ainda não procurava informações na internet). Porém, acabei comprando discos fantásticos dessa forma, como o Orgasmatron, do Motörhead e o Under the Blade, do Twisted Sister.

Gostando do Ozzy do jeito que eu gostava, era óbvio que iria acabar comprando vários CDs do Black Sabbath e, para a minha surpresa, acabei gostando até mais do que boa parte da discografia solo do cara. O primeiro que eu comprei não esqueço: Sabbath Bloody Sabbath, talvez o meu favorito e um dos únicos CDs que eu não consigo enjoar até hoje.

A próxima banda que me conquistou foi o Iron Maiden. Eu já tinha achado o Dance of Death legal quando o meu amigo mostrou pouco tempo depois do Ozzy, mas não tinha ido atrás. Fear of the Dark, a música, me chamou bastante atenção e eu resolvi, mais uma vez, comprar um disco às cegas.

Por algum motivo que eu não me lembro, resolvi comprar o Killers também. Killers teve tanto impacto em mim quanto o Diary of a Madman ou o Sabbath Bloody Sabbath e é um dos discos que eu mais ouvi até hoje. Em pouco tempo, acabei comprando a maior parte da discografia da donzela. Outros CDs deles que me marcaram muito naquela época: Piece of Mind e Somewhere in Time.

Também tive contato neste começo com o metal melódico do Helloween, Stratovarius e Angra, mas nenhum deles realmente me chamou atenção à época. Eu simplesmente detestava os vocais e por um bom tempo repudiei esse estilo.

Durante um ano e meio minha atenção musical ficou no Black Sabbath, Ozzy e Iron Maiden. Eu não ouvia músicas pela internet e muito menos conseguia aguentar alguns colegas pentelhos que se achavam o máximo por conhecer mais do que eu. Em uma forma de tentar conhecer bandas novas, comecei a assistir ao programa Riff da MTV. No geral, só porcarias, até que eu vi os seguintes três clipes:

Annihilator, Alison’s Hell:

Savatage, Hall of the Mountain King:

Kreator, Betrayer (infelizmente não consegui encontrar um vídeo clipe com o mínimo de qualidade e que poderia ser embedado, então vai só o aúdio):

Foi imediato. Os CDs do Annihilator, Kreator e Savatage logo se tornaram os meus novos desejos de consumo. Infelizmente, também, eu finalmente tinha chegado abaixo do mainstream e foi praticamente impossível conseguir os CDs com as músicas dos clipes.

Por causa disso, acabei comprando o Terrible Certainty do Kreator. Eu não achei o Extreme Aggression. Um dos CDs mais pesados, revoltados e perversos de todos os tempos, logo se tornou um favorito.

Por sorte, encontrei uma versão nacional do Alice in Hell, que provavelmente é o CD que mais causou impacto em mim até hoje. Lembro que estava indo comprar um disco do Jethro Tull, mas ao ver o Alice in Hell na prateleira, mudei de ideia instantaneamente.

AGORA VAI!

Estamos em 2006 agora. Foi neste ano que comecei a ouvir músicas pela internet e realmente me aprofundei no gênero. E finalmente parei de comprar CDs de bandas que eu não gostava.

Várias bandas me marcaram bastante e foi nessa época que eu me preocupei mais e mais em parecer um fiel headbanger: usar camisetas, defender e mostrar o amor ao estilo, entre outras coisas. Isso foi importante porque a música era a única identidade válida para mim naquele momento. Não que eu não gostasse ou fizesse outras coisas, mas era a arte que me definia e respondia várias perguntas para mim.

Neste período, lembro de ter acompanhado o lançamento do CD A Matter Of Life And Death, do Iron Maiden, e ter gostado bastante. Aliás, gostado tanto quanto alguns clássicos da donzela, e por isso não entendia como os críticos especializados e os fãs menosprezavam o CD. Acho que o principal é que a empolgação com discos cai para muitas pessoas na vida adulta, ou às vezes é simplesmente difícil ouvir com paciência CDs novos, pois eles necessitam de muito tempo de dedicação que geralmente poucos têm.

Foram muitas músicas, discos e bandas que me marcaram nesta época. Só para o delfonauta ter uma ideia geral do meu gosto, aqui vão alguns artistas que eu gostava muito: Carcass, Grave Digger, Annihilator, Savatage, Avantasia (o primeiro disco), Metal Church, Metallica, Megadeth, Slayer, Bathory, Death, Candlemass, Marduk e algumas outras coisas de black metal em geral, entre vários outros.

No geral, eu gostava muito da diversidade do estilo, da inteligência das letras e também da “honestidade” dos músicos. Um pouco depois, descobri que isso é balela e uma grande besteira, lógico. E se isso diminuiu um pouco o meu interesse pelo gênero, pelo menos me permitiu conhecer outras coisas fora do heavy metal.

MUITO BOA INFLUÊNCIA

Como falei até agora, não tive muitos amigos que gostassem do estilo. Claro, tinha alguns conhecidos que indicavam uma ou outra banda, mas não era como ter alguém para dividir os gostos e informações. Por isso mesmo, eu descobria muitas bandas ao ler resenhas e ver notícias pela internet. Até que uma pessoa influenciou bastante meus gostos.

No final de 2007, comecei a namorar. Ela foi (e é) a pessoa que mais dividiu bandas e gostos comigo. E, apesar de ela não gostar do metal extremo que eu gosto, eu consegui mostrar algumas coisas bem bacanas para ela e vice-versa.

Como a minha coisinha fofa gosta de bandas góticas e outras coisas esquisitas, ela me mostrou músicas com bastante medo de ser trollada, porque sempre tiravam sarro dela pelos seus gostos estranhos.

As bandas que ela me mostrou foram: Tristania, Moonspell, Testament, Paradise Lost, Bauhaus e outras coisas que eu já conhecia, mas não gostava: Helloween, Pink Floyd e Led Zeppelin. Sim, antes eu odiava essas três últimas bandas, e foi só a minha namorada que me fez entender como elas eram legais.

Dois CDs destas bandas me marcaram em especial e estão dentre os meus favoritos até hoje: World of Glass do Tristania e Better Than Raw do Helloween. O curioso é que o Helloween teve uma influência forte dos empresários na época do Better Than Raw e do The Dark Ride, ou seja, mesmo quando o aspecto comercial é forte é possível produzir músicas boas e inspiradas.

HOJE

Depois de quase oito anos ouvindo o estilo, continuo descobrindo bandas de metal que me deixam boquiaberto. Algumas que eu comecei a ouvir recentemente foram o Sabbat, Enslaved e King Diamond. Sim, eu sei que o King Diamond é bem famoso e tal, mas eu não gostava muito dos vocais até comprar o Abigail e conseguir me acostumar com eles.

O heavy metal foi responsável por me fazer pensar sobre muitos aspectos, e teve uma influência muito positiva na minha vida. Parece frase de um troll, mas antes de músicas como Crazy Train, eu não ligava muito para música no geral. E hoje ela é parte essencial da minha vida.

NÃO DEIXE DE LER O RESTO DA SÉRIE “DELFIANOS E O ROCK”:

O Bruno e o Rock: o texto que deu origem à série.

O Corrales e o Rock: Heavy Metal, Hard Rock e mamãe.

O Cyrino e o Rock: guitarras dissonantes e alternativas.

O Guilherme e o Rock: só os elementos mais pesados da tabela periódica.

O Allan e o Rock: alternativo e MTV.

O Pscheidt e o Rock: mais conhecido como o “cara, você é muito poser”.