Permita-me começar esta crítica Wonka com uma história dos bastidores do jornalismo. Lá na época de outrora, quando comecei com o DELFOS, cabines (sessões para imprensa) em geral eram eventos. Especialmente para grandes distribuidoras como a Warner, e mais ainda para grandes filmes, como A Fantástica Fábrica de Chocolate do Tim Burton.

Na época qualquer filme pequeno tinha no mínimo um café da manhã bem caprichado, com pães e docinhos. Tinha um bolo de pão de mel que era lendário entre os jornalistas, e que eu nunca soube quem fazia, mas ele estava em quase todas as cabines. Mas a de Fantástica Fábrica de Chocolate me surpreendeu, pois tinha um monte de doces tematizados. O que mais me marcou, no entanto, foi uma fuckin’ cachoeira de chocolate.

Dezoito anos depois temos um novo filme da franquia, também distribuído pela Warner. Não pelas mesmas pessoas, claro. Essas empresas grandes têm uma grande rotatividade de funcionários e acredito que desde aquela época pelo menos duas empresas diferentes cuidaram da assessoria de imprensa de cinema da marca. A punchline da história é como as coisas mudaram desde 2005. Lá, tínhamos um lugar todo enfeitado e uma cachoeira de chocolate. Hoje quando tem pipoca e refri é um grande evento. Curioso, não? Não que isso afete as críticas, claro. E como prova, já começo dizendo que gostei bem mais de Wonka do que de A Fantástica Fábrica de Chocolate.

CRÍTICA WONKA

Wonka conta a história do Willy antes de ele ser um magnata dos chocolates. O personagem é o mesmo, não apenas no nome, mas especialmente no humor e em sua deliciosa lógica distorcida, porém sábia. Mas aqui ele não é aquele magnata do mal que chama crianças para sua fábrica e as pune de forma horrível com desfiguração ou desaparecimento por transgressões banais de criança, como comer chocolate.

Wonka, Crítica Wonka, Warner, Delfos

Pelo contrário, o Willy de Thimothée Chalamet é muito mais bonzinho e carismático do que o vilão interpretado por Johnny Depp. Não sei dizer se isso é porque ele ainda não teve tempo e fortuna para virar mal, ou se hoje em dia não pega mais bem ficar mudando a cor de crianças inocentes. O lado bom é que é muito mais fácil de gostar deste Wonka do que do magnata da história clássica.

LEIA AS LETRAS MIÚDAS

A história mostra Wonka chegando em uma cidade com uma dúzia de sestércios e a intenção de ficar rico da noite para o dia. Só que ele gasta toda sua parca fortuna logo que chega na cidade grande e, no desespero de arranjar um lugar para dormir, assina um contrato com uma dupla de vigaristas. Isso o deixa preso, obrigado a trabalhar para pagar a dívida. E você sabe, trabalhar não combina com vender chocolate.

E mesmo que ele conseguisse fugir, terá que lidar com o cartel das grandes empresas de chocolate, que não querem um novo concorrente. Eles têm a polícia no bolso, e pretendem usá-la para, legal ou ilegalmente, impedirem nosso jovem herói de realizar o sonho da fortuna própria.

PROMESSA DE DEDINHO É A MAIOR PROMESSA QUE TEM

Uma coisa que não esperava é que Wonka seria um musical. Tá, talvez isso seja óbvio para você, mas como alguém que não acompanhou o marketing, eu só fiquei sabendo quando o Timóteo Chalameto começou a cantar. Infelizmente, as músicas não são tão legais e, tirando o clássico tema do Oompa Loompa, nenhuma outra ficou na minha cabeça.

Wonka, Crítica Wonka, Warner, Delfos

O que eu esperava, e que o filme entregou em espadas, é o esplendor visual. Wonka é tão bonito que não faria feio na filmografia do Tim Burton. Com a diferença brutal de que, claro, este aqui é bacana. É tudo cheio de cores brilhantes, coreografias, magia. Mesmo os números musicais mais mundanos são brilhosos e chamativos. É o tipo de filme que há de colocar estrelinhas nos olhos das crianças. O Oompa Loompa de Hugh Grant também arranca muitos risos, e é uma pena que apareça tão pouco.

WILLY WONKA E A FANTÁSTICA FÁBRICA DE CHOCOLATE

Vale elogiar também o quanto eu gosto da lógica e do humor do personagem Willy Wonka. Ele fala as coisas mais absurdas como se fossem óbvias e com isso parece sábio. Tem muito a ver com a forma que eu mesmo falo com minha filhinha quando ela pergunta coisas que eu não sei responder. Afinal, a vida sempre fica mais legal com um pouco de humor e magia. Aliás, outro personagem que segue esta linha e que muito me agrada é o pai do Calvin.

O visual, o humor e a lógica absurda de seu protagonista tornam o filme uma delícia de assistir. Não é algo especialmente criativo quanto ao roteiro. Adultos já viram esta mesma história muitas vezes, mas é do tipo que vai agradar bastante aos pequenos – e mesmo a alguns grandinhos. É um filminho bonitinho e inofensivo, que faz a gente se sentir bem quando termina. Eu me diverti, e já estou fazendo plano de ver de novo com a pimpolha. E você?