A Forca

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Lembro de quando Bruxa de Blair estreou em 1999. Eu estava no ensino médio e todo mundo começou a comentar daquele filme que era feito de cenas reais, de filmagens encontradas. Fui ao cinema e de fato fiquei impressionado. Questionei se de era real mesmo, mas lembro de ter comentado com o colega que assistiu comigo que, se não fosse real, os atores eram muito convincentes.

Era uma época mais inocente. A internet ainda não era tão popular e também não era tão fácil encontrar quaisquer informações que você desejasse – ou fotos de underboobs. Obviamente, com o passar do tempo, todo mundo ficou sabendo que Bruxa de Blair era uma obra de ficção com um esqueminha de marketing deveras criativo.

Outros filmes foram feitos se utilizando da mesma linguagem, e talvez o único que tenha chegado perto do sucesso comercial da bruxinha é Atividade Paranormal. Muito do impacto se perdeu, no entanto. Se todos sabem que é um filme como qualquer outro, a linguagem fica sem propósito, se reduzindo apenas a uma opção estética.

A Forca é da Blumhouse, mesma produtora de Atividade Paranormal e em muito se assemelha a este último. Se não tanto na história, muito na fórmula que segue.

O filme começa com um acidente em uma peça de teatro escolar, no qual um aluno que deveria ser enforcado na peça acabou enforcado na vida real. A história se tornou lendária na escola, e ainda é lembrada décadas mais tarde.

Ainda assim, 20 anos depois, os alunos resolvem montar a mesma peça. Mas o caboclinho que faria o enforcado é um péssimo ator e não consegue decorar suas falas ou entrar nos momentos certos.

Um amigo que está de saco cheio da aula de teatro sugere que eles entrem na escola durante a noite e destruam todo o cenário, impossibilitando que a peça se realize. E lá vão eles. Obviamente, coisas estranhas vão acontecer na escola. Vai dizer que na sua não rolava essas coisas?

O principal problema do filme é justamente sua semelhança com Atividade Paranormal. Assim como no maior sucesso da produtora, as coisas demoram muito para acontecer. Pelo menos metade do longa é apenas o carinha que está filmando sendo um babaca com todo mundo, até mesmo com os seus amigos.

A opção pela estética found footage não tem apoio narrativo. Por exemplo, tem um sujeito que não para de filmar, mesmo tendo acabado de quebrar a perna. Também não faz sentido em outro momento que rola uma perseguição, mas o cinegrafista se preocupa em filmar o perseguidor a toda hora. São coisas que são necessárias para manter o fio narrativo, mas carecem do apoio na própria história, como no caso de Bruxa de Blair, em que eles estão fazendo um documentário, ou no excelente [REC], em que os personagens são uma equipe de repórteres a trabalho.

Tem algumas cenas boas, no entanto, todas elas concentradas mais para o final do filme. Se você para de se preocupar com a dúvida cruel de “por que esse idiota ainda está filmando?”, o equilíbrio entre o mostrado e o não mostrado é bastante interessante e leva a alguns momentos de susto.

A popular viradinha, onipresente nos filmes de terror também é satisfatória, e devo dizer que o final me fez até dar um pequeno up na nota que ilustra esta resenha.

Ainda assim, não é o suficiente para valer o preço do ingresso, a não ser que você seja um grande entusiasta de found footage. Fãs mais casuais da linguagem ou do gênero terror sobrenatural como um todo, podem se divertir moderadamente assistindo-o na TV daqui a um tempo.

REVER GERAL
Nota
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Carlos Eduardo Corrales
Editor-chefe. Fundou o DELFOS em 2004 e habita mais frequentemente as seções de cinema, games e música. Trabalha com a palavra escrita e com fotografia. Já teve seus artigos publicados em veículos como o Kotaku Brasil e a Mundo Estranho Games. Formado em jornalismo (PUC-SP) e publicidade (ESPM).
a-forcaPaís: EUA<br> Ano: 2015<br> Gênero: Terror / Found Footage<br> Duração: 81 minutos<br> Roteiro: Travis Cluff e Chris Lofing<br> Elenco: Reese Mishler, Pfeifer Brown e Ryan Shoos.<br> Diretor: Travis Cluff e Chris Lofing<br> Distribuidor: Warner<br>