Eder Jofre foi o primeiro brasileiro a sagrar-se campeão mundial de boxe. E não apenas isso, até hoje ele é reconhecido mundialmente como um dos melhores da categoria. Jofre foi duas vezes campeão, por duas categorias de peso diferentes. Em suma, uma lenda do esporte.

A qual ganha sua cinebiografia, 10 Segundos para Vencer. E apesar de ser focado em um boxeador, não espere algo como um Rocky brasileiro. Como a maioria das cinebiografias tupiniquins, falta ousadia narrativa, preferindo contar de forma expositiva e burocrática os principais fatos da vida de seu biografado.

Assim, começamos com a infância pobre de Eder em São Paulo e como o boxe sempre esteve presente em sua vida. Seu pai, Kid Jofre, era treinador e seu tio foi um lutador promissor, porém atrapalhado pela personalidade zoeira.

Delfos, 10 Segundos para Vencer, CartazGrande parte do filme é centrado na relação com o pai e técnico Kid Jofre e como seus métodos severos de treinamento geraram um campeão. Ainda assim, muitas vezes Eder se ressentiu dos sacrifícios que teve que fazer, tanto físicos quanto ficar longe de sua família por longos períodos.

CENAS DE PUGILATO

As cenas de luta são bem filmadas, porém são poucas. A influência da estética de Creed é notável nessas sequências, ao colocar a câmera dentro do ringue, bem próxima dos pugilistas. Só é uma pena que a produção opte em vários momentos não por recriar as lutas, mas apenas usar imagens reais de arquivo. Porque todas as vezes que reencenou os confrontos, eles ficaram bem legais.

Talvez a ideia dessas cenas de arquivo, que sempre puxam umas cenas ficcionalizadas em preto-e-branco, seja utilizar também uma pegada de Touro Indomável. Mas com tão poucos momentos de pugilismo, na minha humilde opinião, era mais legal recriar tudo mesmo.

O filme tem boas cenas de luta, boas atuações e momentos bacanas. Contudo, seu roteiro é bem esquemático de cinebiografias. Foi o que eu quis dizer com o “expositiva e burocrática” lá do segundo parágrafo. Logo, mesmo para quem não conhece a história de Jofre (como eu não conhecia), não é nem um pouco difícil saber de antemão tudo que vai acontecer.

Delfos, 10 Segundos para Vencer

Mas talvez o principal problema seja que falta conflito na trama. Não é pela relação com o pai, afinal, fica claro desde o primeiro segundo que o velho o ama e é severo com o filho não por babaquice gratuita, mas para extrair seu melhor.

Não é com a origem pobre e humilde de Eder e sua família. Afinal, todos os problemas decorrentes da falta de grana não possuem qualquer peso na tela. Da forma como ficou, parece que o maior problema do protagonista é não poder comer pudim para não ganhar peso.

Este é um longa que eu colocaria num limbo entre um filme nada e um razoável. Como eu gosto de histórias de boxe, acabei arredondando sua nota para cima. 10 Segundos para Vencer tinha todos os elementos para render uma grande película sobre uma lenda do esporte, mas é tão quadradinho e padrão das cinebiografias nacionais que acaba apenas como mais um dentre eles. Ainda assim, se você gosta do tema e/ou da figura retratada, até vale uma conferida.

REVER GERAL
Nota
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Carlos Cyrino
Formado em cinema (FAAP) e jornalismo (PUC-SP), também é escritor com um romance publicado (Espaços Desabitados, 2010) e muitos outros na gaveta esperando pela luz do dia. Além disso, trabalha com audiovisual. Adora filmes, HQs, livros e rock da vertente mais alternativa. Fez parte do DELFOS de 2005 a 2019.
critica-10-segundos-para-vencerTítulo: 10 Segundos para Vencer<br> País: Brasil<br> Ano: 2018<br> Gênero: Cinebiografia<br> Duração: 114 minutos<br> Distribuidora: Imagem<br> Data de estreia: 27/09/2018<br> Direção: José Alvarenga Jr.<br> Roteiro: Thomas Stavros , Patrícia Andrade, José Alvarenga Jr. e José Guertzenstein<br> Elenco: Daniel de Oliveira, Osmar Prado e Sandra Corveloni.