Tonya Harding era uma patinadora artística extremamente talentosa. Ela foi a primeira mulher a executar uma manobra considerada dificílima e tinha tudo para ser a melhor do mundo em sua época. Só que ela se envolveu numa das histórias mais absurdas de anti-esportividade (para dizer o mínimo) já cometidas e acabou com a imagem de vilã.

Eu me lembro que conheci a história dela quando assisti por acaso um documentário a seu respeito na ESPN uns anos atrás. E pensei que a coisa daria um baita filme de ficção. Aparentemente, a galerinha de Hollywood pensou a mesma coisa e eis que temos Eu, Tonya, o tema da resenha de hoje.

O longa é a cinebiografia da atleta, contando desde sua infância, com seus primeiros passos na patinação, culminando no episódio infame cometido por amigos de seu marido (e que este tentou acobertar) e que acabou envolvendo-a no imbróglio e prejudicando sua carreira.

Estou evitando dizer o que aconteceu pois sei que a patinação artística não é um tema tão conhecido e, portanto, deve ter muita gente que não conhece a história. Logo, é mais legal descobri-la assistindo ao filme.

O legal dele é que ele tinha todos os elementos para ser um drama pesado, e até esquemático da temporada de Oscarizáveis. Tonya (Margot Robbie) faz parte do chamado white trash estadunidense (caipiras brancos, pobres e podreiras). Sofreu diversos abusos físicos e psicológicos por parte do marido e da própria mãe.

Delfos, Eu Tonya, Cartaz

Aliás, o grande destaque no campo da atuação aqui fica por conta de Allison Janney (você deve conhecê-la como a mãe mais velha da sitcom Mom) como a matriarca Harding. Ela não só é o equivalente feminino do personagem do J.K. Simmons em Whiplash, como ainda é pior, visto que seus abusos são contra sua própria filha.

Os evil monkeys da vida eram tantos para Tonya, que mesmo na patinação sofria preconceito e se sentia por vezes injustiçada por conta de suas origens e pela patinação ser um esporte considerado de elite, para ser praticado por “princesinhas” e não por “bagaceiras”.

E mesmo com todos esses elementos, o longa acaba sendo uma comédia pela forma como é levado, intercalando depoimentos dos personagens dando suas visões pessoais com várias quebras de quarta-parede que ajudam a deixar tudo mais leve e transformar o que seria trágico em cômico. Ou, vá lá, em tragicômico.

Como um dos próprios personagens tão bem diz a certa altura, trata-se de uma história totalmente povoada por imbecis. De fato, todos eles são tão burros e sem-noção que não fariam feio estrelando um tradicional filme de terror daqueles bem bestas.

A forma esperta e engraçada como o filme trata de fatos pesados, aliada a um roteiro bem amarrado, boas atuações e a uma história que é daquelas tão recheadas de absurdos que acaba se tornando magnética tornam Eu, Tonya um ótimo programa, capaz de ser uma experiência ainda melhor se você não conhece a história real de antemão.

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Nota
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Carlos Cyrino
Formado em cinema (FAAP) e jornalismo (PUC-SP), também é escritor com um romance publicado (Espaços Desabitados, 2010) e muitos outros na gaveta esperando pela luz do dia. Além disso, trabalha com audiovisual. Adora filmes, HQs, livros e rock da vertente mais alternativa. Fez parte do DELFOS de 2005 a 2019.
eu-tonyaTítulo original: I, Tonya <br> País: EUA<br> Ano: 2017<br> Gênero: Cinebiografia<br> Duração: 120 minutos<br> Distribuidora: California Filmes<br> Direção: Craig Gillespie<br> Roteiro: Steven Rogers (eu não sabia que o Capitão América também é roteirista!)<br> Elenco: Margot Robbie, Sebastian Stan, Allison Janney e Bobby Cannavale.