Clash Artifacts of Chaos me pegou numa armadilha. Nessa vida de crítico de games, a gente acaba priorizando o que gostamos mais. Normal. Até para você, leitor, não é tão legal ler uma análise de alguém que não gosta do gênero. É por isso que você dificilmente vai ver um novo texto meu falando sobre roguelikes ou RTS.
E daí vêm os soulslike/soulsborne. Eu gosto do gênero, mas a dificuldade que costuma vir junto me afasta. Por isso, ultimamente só vou atrás mesmo de soulslike com pedigree. Tipo da Team Ninja ou da From Software. Porém, soulslike é basicamente um subgênero dos games de ação. E antes do lançamento, é raro um jogo se autoidentificar desta forma, ou mesmo os vídeos de divulgação revelarem este aspecto. Particularmente, eu esperava que Clash Artifacts of Chaos fosse um beat’em up, algo na linha Monkey King.
Sinceramente, não esperava um jogo excelente, mas um representante de um gênero quase morto. Ao invés disso, caí na armadilha de ter que jogar e escrever sobre mais um representante do gênero mais prolífico da última década. Então vamos lá falar sobre Clash Artifacts of Chaos.
CLASH ARTIFACTS OF CHAOS
Em sua defesa, Clash Artifacts of Chaos até ousa mais do que outros games do gênero. Ele tem até pausa, quem diria? Há tantas diferenças entre ele e um game da From Software quanto semelhanças.
O combate talvez seja o maior destaque, com seu foco em socos, chutes e posturas diferentes, que podem ser alternadas como se fossem armas. Há armas, mas elas têm durabilidade baixa e são raras, então o ideal é guardá-las para os combates mais desafiadores.
SOCO, CHUTE, DESVIA, MAIS SOCO
A porradaria é bem interessante e exige muita agressividade. A coisa aqui é rápida. Num mundo ideal, você enche o desafeto de murros e, quando ele vai atacar, desvia e já desfere mais golpes. Quando funciona, é bem legal. Mas aí que tá, Clash Artifacts of Chaos não funciona muito bem. O espaço que o personagem viaja quando desvia, por exemplo, não costuma ser o suficiente para escapar dos golpes de área que os inimigos adoram dar.
Isso sem falar de problemas técnicos, como uma performance terrível na versão de Xbox Series X, ou mesmo bugs absurdos. Em uma luta contra uma dupla de chefes, eu venci um deles e, quando dei um uppercut no segundo, ele saiu voando, e nunca mais caiu. Eu fiquei preso na arena (se você foge, morre em dez segundos), com o personagem olhando para cima e o meliante nunca caindo. Tive que me matar e voltar do início. Não foi legal.
BERSERK NOS DADOS
Ainda falando em combate, ele tem um modo berserk diferenciado. Quando você enche a barrinha, pode apertar um botão para focar em um inimigo e lutar contra ele em primeira pessoa, num estilo bem parecido com boxe. Acerte porradas suficientes no limite de tempo e o herói vai dar um super ataque que tira uma pá de vida do monstrengo.
Uma coisa totalmente nova são os artefatos do título. Este é um joguinho que você pode iniciar antes de lutar contra criaturas inteligentes (em geral chefes). Basicamente, envolve jogar alguns dados e o vencedor ganha um buff ou aplica um debuff no adversário. Porém, a coisa parece ser inclinada para que os NPCs ganhem quase sempre. Então na prática você gasta alguns minutos antes da luta pra ficar em desvantagem. É melhor sair logo batendo e economizar tempo.
NOITE E DIA
Outro diferencial é o tratamento que ele dá à morte. Normalmente em soulslikes, o que você pega é para sempre seu, mesmo que morra. Aqui, morrer te ressuscita à noite, como um boneco de madeira. A noite é mais perigosa, com tipos mais poderosos de inimigos e em maior quantidade. Seu objetivo é chegar até o seu presunto, matar quem o estiver guardando, e então acordar. Isso permite continuar. Porém, se você morrer à noite, ou escolher voltar do checkpoint, seu save será restaurado. Ou seja, toda a exploração, XP, itens coletados e tudo mais que conquistou desde o save será perdido. É consideravelmente mais punitivo do que o tradicional “perca toda a XP” dos outros soulslikes.
Também é comum o game exigir que você jogue de noite para progredir. Há caminhos bloqueados por espinhos que você só consegue atravessar em sua forma madeireira. Quando cheguei em um ponto em que não havia outro caminho, deduzi que precisava atravessar o espinho à noite e encontrar uma fogueira onde pudesse acordar. Mas não, só depois de procurar guias, descobri que vencer um tipo de inimigo extremamente específico e muito difícil queima os espinhos, permitindo voltar para a fogueira e então voltar a explorar de dia. Eu nunca descobriria isso por conta própria. Afinal, o inimigo em questão parece aqueles overleveled que a From adora colocar no caminho, meio que comunicando que não é para você ir por ali ainda, sabe? Esta é uma das muitas coisas que Clash Artifacts of Chaos não te conta.
CLASH ARTIFACTS OF CHAOS É BONITINHO, MAS OBTUSO
Clash Artifacts of Chaos é um jogo muito estranho. Ele tem um visual bem bonito e um combate elaborado. De forma alguma ele parece uma bomba. Porém, a performance cheia de gaguejadas atrapalha muito e o jogo não para de vomitar glitchs que impedem o progresso.
O visual, aliás, é um grande destaque. Ele usa cores vivas e tem uma estética que lembra um Borderlands, o que muito me agrada. Mas o que realmente mata é quão obtuso ele é. É o tipo de jogo que me parece impossível chegar ao final se você não acompanhar sua campanha com um guia.
Os cenários que encontrei são todos parecidos e as fases são totalmente labirínticas. É comum você andar um montão em uma direção e acabar saindo em uma área pela qual passou um tempão atrás, sem sinal algum de progresso. Como até onde cheguei, não existe fast travel, isso não causa aquela sensação bacana de segurança como os games da From. Basicamente, sair em uma área já explorada significa que você foi pro caminho errado e deve voltar tudo. Boa sorte achando o caminho certo.
GÊNERO SATURADO
Não há nenhuma indicação de para onde ir, não tem mapa e você sequer sabe seu objetivo na maior parte do tempo. Basicamente, é um jogo em que você explora por onde não explorou e torce para avançar. Isso pode ser legal em um game linear, mas quando você se sente simplesmente andando em círculos, sem nenhum progresso, fica bem frustrante.
Isso, no final das contas, foi o que fez com que eu desistisse de Clash Artifacts of Chaos. Com tantos soulsborne no mercado, o gênero está supersaturado e não vejo motivo algum mesmo para os fãs mais hardcore saírem dos melhores e mais bem-feitos. E Clash Artifacts of Chaos, definitivamente não é um deles. Talvez com waypoints e opção de dificuldade, ele se tornasse razoável. Talvez.