Alguns jogos criam novas experiências, diferente de tudo que vimos antes. Outros, se limitam a andar por caminhos anteriormente traçados. Esta é nossa análise The Entropy Centre.

ANÁLISE THE ENTROPY CENTRE

The Entropy Centre está tão fortemente inserido na segunda qualificação supracitada que não vou nem tentar fugir disso. O objetivo da desenvolvedora Stubby Games era claramente criar um Portal para chamar de seu. E foi bem-sucedida nesta empreitada.

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Do visual ao humor, é simplesmente impossível jogar The Entropy Centre sem pensar em Portal o tempo todo. A principal diferença entre ambos, é claro, é sua mecânica principal. Afinal, se The Entropy Centre também focasse em puzzles com portais, poderia se envolver em problemas legais.

AS MECÂNICAS DE THE ENTROPY CENTRE

A boa notícia é que The Entropy Centre é bem sucedido em diferenciar suas mecânicas de Portal. Verdade, seus quebra-cabeças que envolvem rebobinar o tempo em objetos são bem mais comuns em games (de memória lembro de God of War AscensionRatchet & Clank A Crack in Time). Mas, ao contrário destes dois, aqui o foco é totalmente nisso. Cada capítulo nada mais é do que uma sequência de puzzles em que você manipula o tempo de cubos de vários tipos para fazê-los apertar botões em ordens altamente específicas.

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Colocar o cubo em cima dos botões pode abrir portas, ativar máquinas, etc.

A questão é que os quebra-cabeças devem ser resolvidos ao contrário. Ou seja, você deve colocar os cubos no último botão e levá-lo todo o caminho de volta para, então, poder rebobinar enquanto avança para sair da sala. Isso dá um tilt forte no cérebro, ao mesmo tempo que faz com que você se sinta bem inteligente quando consegue solucionar um desafio.

MEU TOC, SEU TOC

Uma coisa que ele pega de Portal e que me agrada bastante é quão organizadinho The Entropy Centre é. Os puzzles têm placas com números, além de placas mostrando as direções das coisas. É comum que games tenham como objetivo deixar o jogador perdido. The Entropy Centre, por outro lado, é bem guiadinho.

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Hum… placas com direções…

Portal também segue essa linha, mas eventualmente, tanto no primeiro quanto no segundo, você “sai do roteiro”, “quebra as regras”. Aqui a coisa é bem mais previsível. Logo no início, você recebe um objetivo, chegar ao reator. Daí é basicamente seguir o plano, resolvendo os puzzles no caminho.

Cada um dos 16 capítulos do game traz um trecho curto em que você navega pelo Centro de Entropia, consertando coisas para conseguir avançar. Depois disso, vem a parte previsível, as cinco grandes salas de puzzles. Quase todo capítulo tem essas cinco, que ficam cada vez mais complexas. E isso complica o timing da campanha.

TEMPO, TEMPO, TEMPO

No começo, com salas de quebra-cabeças mais simples, o timing funciona bem. Afinal, você está sempre avançando, sempre vendo mais desenvolvimento da história. Cada sala pode ser resolvida em uns dois minutos. Depois de alguns capítulos, no entanto, não é raro passar mais de 20 minutos em cada puzzle. Isso faz com que cada capítulo, excluindo a parte da navegação, dure mais de uma hora. Daí a coisa degringola.

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Alguns puzzles são muito complicados.

Chega ao ponto que você sabe o que tem que fazer para avançar, mas tem dificuldade em realizar isso, o que é um grande erro em jogos de quebra-cabeças. Isso porque a arminha do tempo permite rebobinar cerca de 30 segundos. O que significa que a “viagem” de cada cubo pode durar no máximo isso. Às vezes essa limitação serve ao objetivo. Você precisa descobrir o caminho mais eficiente. Outras, você já sabe o caminho, mas simplesmente não consegue passar por todo ele com precisão no tempo exigido. E acredita que tem até combate aqui?

ARE YOU STILL THERE?

Apesar de ser um game de quebra-cabeças, The Entropy Centre tem inimigos e a necessidade de lutar. Você faz isso basicamente rebobinando os tiros dos robozinhos para retorná-los a eles. Não é um problema ele intercalar áreas de combate com quebra-cabeças. O que é um problema é misturar os dois na mesma área.

Pois é, tem algumas salas de quebra-cabeças em que inimigos ficam vindo constantemente. Não adianta destruí-los, pois mais virão. O único jeito de progredir é resolvendo o puzzle. E você já tentou pensar com cinco robôs atirando em você o tempo todo? Não é legal. Aliás, era o principal problema que eu tinha com o primeiro God of War.

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Uma quebra de timing que é muito bem-vinda são cenas de corrida/perseguição. Nessas, você deve avançar rapidamente pelo cenário enquanto tudo desmorona, consertando o caminho antes de avançar. Se combinasse melhor estes três pilares (corrida, combate e quebra-cabeças), The Entropy Centre podia ser especial. Ou então se fosse mais curto.

ANÁLISE THE ENTROPY CENTRE E A LONGEVIDADE

The Entropy Centre tem uma narrativa e gameplay mais simples e repetitivos, como Portal 1, porém tem a duração de Portal 2. Isso o deixa muito cansativo. O roteiro, engraçado e bonitinho, faz muito do trabalho pesado, mas não leva o jogo nas costas. Faz rir, mas não é uma das coisas mais engraçadas que a mente humana já concebeu, como Portal 2.

Além disso, os puzzles, que existem em excesso, são todos variações da mesma ideia. Em todos eles você deve colocar cubos em cima de botões. Portal 2, por exemplo, vai além em mecânicas. Além dos portais, ele tem as geleias, eventualmente combina tudo, e há trechos longos que são puramente narrativos. Aqui, trechos narrativos são raros, e boa parte do jogo você apenas passa por um corredor para ir da sala de puzzle 0402 para a 0403.

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Com isso não quero dizer que os puzzles sejam ruins. Pelo contrário, acho muito legal ver como cada aspecto do cenário é colocado deliberadamente, tanto para guiar o jogador como para bloqueá-lo. A questão é que simplesmente há quebra-cabeças demais, eles são muito parecidos e chega a um ponto em que parece que você está simplesmente indo de uma sala de desafio para outra, não vivendo uma aventura.

Acredito que The Entropy Centre seria muito mais especial se mantivesse todo seu conteúdo narrativo e de exploração e diminuísse a quantidade de “salas de quebra-cabeças” pelo menos pela metade. A outra metade poderia até estar incluída como um modo à parte da campanha, exatamente como fez Portal: Still Alive.

CONSERTA E CORRE

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As partes de “conserta e corre” são as mais emocionantes da campanha.

Também não machucaria se The Entropy Centre se arriscasse mais em ser diferente de Portal. Os cenários são parecidos, é o mesmo tipo de humor. Até a mensagem da história é o mesmo. Isso é legal para quem tem saudades de Portal – e quem não tem? – mas acaba deixando o jogo extremamente derivativo.

Se você tem uma coceira forte pedindo por mais PortalThe Entropy Centre é o seu jogo. Mas mesmo como um Portal Cover, ele tem problemas de timing que o tornam muito menos envolvente do que Portal 2. Vale jogar? Vale sim, mas maneire suas expectativas.