Um dos personagens mais queridos do DELFOS é nosso amigo, o chef José Marques. Se você ainda não o viu por aqui, ele é um sujeito que vê jogos quase perfeitos, como ReturnalSifu, e resolve colocar seu “ingrediente especial” no caldeirão. Este ingrediente é sua própria urina. E isso acaba estragando totalmente o jogo. Esta é nossa análise Midnight Fight Express, o jogo que mostra quão legal Sifu poderia ser se não tivesse o ingrediente especial do chef.

ANÁLISE MIDNIGHT FIGHT EXPRESS

Assim como Sifu, Midnight Fight Express é um beat’em up com um combate bem elaborado e animações lindas, além de enorme foco na história. Porém, ele claramente tem um orçamento mais limitado. Isso fez com que a câmera fosse afastada para o estilo isométrico, que não haja vozes e, para ser sincero, há uma certa crueza técnica e problemas como paredes que bloqueiam a visão.

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Não vou mentir, Midnight Fight Express está longe da beleza visual de Sifu.

O que é incrível é que, embora haja estes problemas e limitações, Midnight Fight Express seja fruto do trabalho de uma pessoa, Jacob Dzwinel (com ajuda de algumas outras pessoas). E isso muda tudo. O jogo é excelente independente da quantidade de pessoas que trabalharam nele, mas é incrível pensar que TUDO ISSO foi feito através das decisões de um só caboclo.

ANÁLISE MIDNIGHT FIGHT EXPRESS E A VARIAÇÃO EXTREMA

expliquei por aqui a tática usada por muitos desenvolvedores independentes. A galera faz um cenário, e então cria várias fases no mesmo cenário. É uma forma de ter mais fases, sem ter o trabalho de criar muitos mundos (biomas) diferentes. Pois Midnight Fight Express é o total oposto disso. Tem 40 fuckin’ fases aqui, e cada uma delas é totalmente diferente da outra. E o mais legal, elas têm uma progressão que faz sentido, dando ao jogo a sensação de uma aventura.

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Nenhum beat’em up pode ficar sem a cena do trem!

Você começa Midnight Fight Express no seu apartamento. Segue pelos telhados, desce para as ruas, passa por um posto de gasolina, vai pra estação de trem, pega o trem, vai até o litoral, pega um jet ski, chega num porto… A variação é incrível, considerando a quantidade de fases. A maioria dos capítulos dura entre cinco e dez minutos, então é inacreditável pensar que cada pequena fatia do jogo tem um cenário, uma história e inimigos diferentes.

HEIN? INIMIGOS DIFERENTES?

Pois é, camaradinha! Sabe como nos jogos da From Software, cada área é habitada por criaturas diferentes, que dificilmente se repetem nos outros biomas? Acho isso muito legal e é inegável que dá um trabalho absurdo! Pois Midnight Fight Express segue essa linha. Quando você está no porto, luta contra marinheiros. No esgoto, luta contra mutantes. Nas ruas, luta contra uma infinidade de gangues diferentes e que brigam entre si.

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Uma das gangues é claramente baseada em Saints Row.

Cada um desses grupos tem visual diferente, formas próprias de lutar e, especialmente, seu ponto na história do jogo e na sua aventura. E aí entra outra semelhança forte de Midnight Fight Express com Sifu.

ANÁLISE MIDNIGHT FIGHT EXPRESS E O FOCO NA HISTÓRIA

Pois é, Midnight Fight Express tem o maior foco em história que eu já vi em um beat’em up. Lembro que achava maior legal quando jogava o Golden Axe nos fliperamas e tinha os vilões batendo na galera das vilas, que saía correndo quando você se aproximava. Aqui tive a mesma sensação, mas mais moderno e mais elaborado.

Você é acompanhado pelo Droninho, um drone que conversa com você, fala de seus objetivos, dos vilões e basicamente conta toda a história. Em um beat’em up como Streets of Rage 4, mesmo quando tem história, a coisa é básica. Você vai pro bar, bate em geral, daí tem uma imagem estática com o chefe onde ele diz algo tipo “eles estão no porto”. Próxima fase é no porto, onde tudo se repete. E tudo bem. Nem todo jogo precisa ter história.

SEMPRE AVANTE!

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Falando em porto, olha os psicopiratas aí!

Midnight Fight Express vai bem além disso. Sim, analisando friamente, é uma sequência de chefes que vão te mandando para a próxima fase. Mas cada briga, cada inimigo e cada momento, tem um contexto diferente. Por exemplo, tem uma parte em que você passa por um Clube da Luta e precisa vencer um pastiche de Tyler Durden (com um nome parecido, tipo Kyler Burden ou algo assim). Ao chegar lá, eles falam com você, falam sobre o clube, explicam que você precisa lutar para passar.

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A briga de travesseiros é inesquecível!

Em outro momento, você passa por um estúdio de games, que está comemorando o lançamento de seu jogo. Eles estão fazendo uma festa de pijama e uma briga de travesseiros está prestes a começar. É brincadeira, é amigável. Mas o droninho fala algo tipo “bom, já que estamos aqui…”. E daí você pega um travesseiro e sai batendo com ele nos seus novos amigos. Cara, como nenhum beat’em up fez uma cena com briga de travesseiros antes? Isso é genial!

CORRALES, FALA DO GAMEPLAY, PÔ!

Beleza, voz da minha cabeça. Eu sinceramente estava com medo de Midnight Fight Express ser no estilo de um Hotline Miami. Você sabe, aqueles jogos em que você entra na fase e precisa procurar e matar todo mundo para poder avançar, e que só depois de decorar as posições através de muita repetição, dá para passar. Midnight Fight Express está muito mais para um Streets of Rage.

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Apesar de ter uma participação especial dos mascarados de Hotline Miami.

As fases são basicamente lineares, sem muito espaço para exploração. Você precisa vencer os inimigos para avançar, mas não precisa procurar por eles. Basicamente, o objetivo é chegar do outro lado da fase e bater em todo mundo no caminho. Perfeito pra mim!

O combate é bacana e bem variado. Depois de alguns upgrades, você fica bem poderoso, com um enorme arsenal de ataques. Há dúzias de armas diferentes, de travesseiros a machados e facas, cada uma com ataques e propriedades diferentes (mas nada de comparar estátisticas). E tem também um monte de armas de fogo, com munição limitada, mas bastante poderosas. Quando você está empunhando uma arma de fogo, o gameplay vira o de um twin-stick shooter. Quando a munição acaba, joga a arma no chão estilo Neo, e volta pra pancadaria corpo a corpo.

CHEF JOSÉ MARQUES NÃO É BEM-VINDO!

Seria muito fácil estragar Midnight Fight Express. Elimine saves, coloque limites de vida, uma única dificuldade difícil demais, fases sem checkpoints. As opções para estragar o jogo são infindáveis. O chef José Marques tem uma urina para todo tipo de desenvolvedor. O que permite que o jogo seja tudo que ele pode ser, no entanto, é que ele simplesmente não aceitou o xixi do José Marques.

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Toda fase salva e você pode repetir as anteriores livremente. Vidas são ilimitadas e cada batalha é um checkpoint. Tem três opções de dificuldade pré-tunadas, e também a possibilidade de tuná-la de acordo com o que deseja, sendo possível aumentar ou diminuir a agressividade dos inimigos ou a sua barra de vida, para citar dois exemplos.

Mesmo com tudo personalizado da forma mais fácil possível, este é um jogo difícil, em que você vai morrer bastante. Porém, como cada batalha é um checkpoint e não há loads entre as mortes, dá para tentar de novo de forma relativamente indolor, impedindo que fique frustrante.

ANÁLISE MIDNIGHT FIGHT EXPRESS E OS PROBLEMAS TÉCNICOS

Infelizmente, se criativamente Midnight Fight Express é quase perfeito, ele não é tão polido quanto gostaríamos. Uma coisa que acontece com frequência – tipo a cada duas fases – é um inimigo ficar preso atrás de uma parede onde você não consegue chegar. Você acha que matou todo mundo, mas não dá para andar. Daí vai procurar e vê um meliante tentando atravessar uma parede, em uma sala pela qual você já passou.

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Não estou brincando, isso acontece MUITO!

O lado bom é que sempre que isso acontece, eu conseguia matar o inimigo socando ATRAVÉS da parede quando ele se aproximava dela. Ainda assim, é algo que não deveria acontecer.

PAREDES BLOQUEANDO A VISÃO

Boa parte do jogo também exige que você lute atrás de paredes (dá para ver a silhueta dos personagens), o que não é legal. Outros games isométricos resolveram isso tornando as paredes invisíveis quando alguém se aproxima delas, o que seria viável aqui também.

Finalmente, as opções de dificuldade não salvam quando você sai do jogo, exigindo tunar tudo de novo. Este problema, pelo menos, deve ser resolvido com patches em algum momento.

ALGUMA FRUSTRAÇÃO

A única coisa criativa que não gostei é que muitas das fases têm armadilhas de instakill. Pode ter, por exemplo, um maninho num guindaste tentando te esmagar. Ou carros passando que podem te atropelar. Morte instantânea não combina com beat’em ups.

Até pode ter armadilhas, mas armadilhas que matam instantaneamente faz que algumas das arenas fiquem pentelhas. Você pode estar com a vida cheia, no último inimigo, e por um descuido, ser esmagado pelo guindaste e ter que começar a porradaria do zero. Como os checkpoints são frequentes, dá para relevar isso. Porém, há várias cenas na campanha com armadilhas desse tipo, então não é só uma parte chatinha, mas algumas.

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Encoste em qualquer carro na fase das motos e você explode imediatamente.

Outra coisa um tanto chatinha é que toda a fase tem uma série de desafios que liberam roupinhas e até algumas vantagens. Porém, estes desafios não podem ser vistos nem cumpridos na primeira jogada. É uma forma de forçar o jogador a passar pela campanha duas vezes ou mais, mas é o tipo de coisa artificial e… bem, forçada. Não vejo motivo para isso existir.

BEAT’EM UP COM CONTEXTO

Acredito que a essa altura você já tem uma boa ideia do que vai encontrar em Midnight Fight Express. Se a ideia de um Streets of Rage ou Final Fight com câmera isométrica e brigas com contexto te agrada tanto quanto a mim, tenho certeza que terá aqui uma das surpresas mais agradáveis do ano.

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Além disso, tem bastante sustância para o gênero. Eu li por aí que ele durava cerca de três horas, então pretendia matá-lo em uma tarde. Porém, levei algumas tardes para passar por todas as 40 fases e terminar minha aventura. Definitivamente, Midnight Fight Express não é um game para ser jogado inteiro em uma sentada. Isso pode ser bom ou ruim, dependendo do seu tempo e estado de espírito. Para mim, a enorme variação de cenários e inimigos, e a história que sempre avança fez com que eu ficasse envolvido durante toda sua duração, sem querer parar de jogar.

Midnight Fight Express foi um jogo que eu não fui atrás. Recebi a oferta de código de review e não tinha nem ouvido falar dele. Assim, eu ter gostado tanto de um game que nem estava no meu radar antes certamente o tornou uma grande e agradável surpresa. Assim, espero que esta minha análise Midnight Fight Express tenha colocado ele no seu radar também. E tenho uma boa notícia: Midnight Fight Express está no Game Pass. Adoraria ver o que Jacob Dzwinel conseguiria fazer como diretor de um game com o orçamento de um Uncharted. Torço para que ele chegue nesse nível um dia.