Até comentei no meu artigo de Remnant 2: há um bom tempo estou com vontade de jogar um bom soulslike. Sim, eu ainda odeio a dificuldade exagerada que estes jogos costumam ter, mas gosto muito de absolutamente todo o resto do gênero quando é bem feito. E eu tinha um pressentimento que este meu próximo “bom soulslike” seria Lies of P. Cá estamos no dia do embargo de reviews, e o lançamento oficial é apenas semana que vem, o que demonstra que a turma da Neowiz também está confiante na boa repercussão. E vou dizer, sem mais delongas, é um jogão.

LIES OF P X NIOH: A LUTA PARA COROAR O MELHOR SOULSLIKE QUE NÃO É DA FROM

Até hoje, eu considerava que o melhor soulslike era Nioh 2. Ainda amo ele, mas convenhamos que é um jogo bem diferente dos da From Software. O combate é diferente, as mecânicas são diferentes. É um soulslike, porém claramente evita apenas copiar. Já Lies of P não é apenas influenciado pela From. É um cover direto.

Lies of P, Neowiz, Soulslike, Soulsborne, Delfos
Bloodborne feelings? Pois é!

Menus, upgrades, conversas com NPCs e até mesmo a história em si são bem típicos das coisas que a From Software costuma criar. Assim, Lies of P é quase um mod de Bloodborne. Porém, as fases são novas e ele traz também todas as qualidades dos souls originais.

As mecânicas de combate são excelentes, auxiliadas pelas animações telegrafadas dos inimigos. É tudo lento e considerado, assim como Dark Souls. Mas o especial é que, embora ele copie também as babaquices (perder XP ao morrer, dificuldade extrema nos chefes, inexistência de pausa), ele traz também tudo que eu gosto nos jogos da From.

TUDO QUE EU GOSTO NOS JOGOS DA FROM

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Olha esse cenário, fala sério!

Os gráficos são simplesmente demais e, ao contrário da From, são belos artística e tecnicamente. Admito que não sei o tamanho do orçamento de Lies of P, mas me senti jogando um AAA. O visual é impressionante, as músicas são fantásticas e tudo é absurdamente polido, mesmo eu tendo jogado mais de duas semanas antes do lançamento. Em comparação com os outros jogos que estavam embargados para hoje (e que saem nos próximos dias), Gunbrella veio com um bug que matava o jogo e Boti Byteland tinha um monte de menus crus, sem falar achievements que não funcionavam.

Lies of P não. Embora eu tenha jogado minha cópia de Windows em um beta criado para review da imprensa, tudo está ótimo. Ele reconhece o controle do Xbox e mostra os botões apropriados. Não travou nenhuma vez. Não rolaram as maledetas pausas das shader compilations, mesmo sendo um jogo de Unreal 4. Na verdade, na minha RTX 3070, rodou de forma perfeita, ligado na TV a 4K e 60 fps, desde que eu ligasse o DLSS. Com resolução nativa, ele ficava a uns 40 fps.

Isso é superior à versão de PS5, à qual também tive acesso no período de review. Esta tem os tradicionais modo qualidade e desempenho. Outra coisa legal é que a versão de PC também tem HDR e som surround, o que nem sempre é garantido no Windows. Aliás, assim como em Ratchet e Clank, as imagens neste artigo parecem acinzentadas porque foram capturadas em HDR, mas o jogo tem cores bem mais bonitas do que estas minhas capturas mostram. Se alguém souber como resolver este problema, me conta nos comentários, pois vai ajudar nossas futuras análises de PC a ficarem mais bonitas. =)

LIES OF P É QUASE PERFEITO

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Com visual, atmosfera, mecânicas, level design e polimento, Lies of P é quase perfeito. Além de toda essa parte de gamedesign propriamente dito, também gostei muito do tratamento que ele dá à história do Pinóquio. Assim como God of War faz com as mitologias grega e nórdica, não é uma adaptação direta ou uma continuação, mas uma espécie de fanfic.

No mundo de Lies of P, a sociedade humana é ajudada por bonecos, que são animados por ergo (o nome que o game dá à XP). Os bonecos seguem as leis da robótica de Asimov, numa adaptação que o game chama de “o grande pacto” e que inclui a quarta regra: um boneco não pode mentir.

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Olha o tamanho desse chefe!

Porém, os bonecos começaram a se rebelar. A atacar humanos e a criar novos bonecos para aumentar seus exércitos. O que aconteceu? Dá para impedir isso? Quem vai descobrir é o Pinóquio, um boneco especial, acompanhado pelo Grilo Falante, e com a ajuda da Fada Azul para subir de nível. Pois é, nosso Pinóquio não é “sem donzela“. Vou dizer que foi apenas quando joguei o demo, e vi a interpretação que ele deu ao mundo clássico que fiquei realmente animado para o game final.

NOVIDADES DE LIES OF P

Lies of P tem sim algumas poucas novidades. Uma imensa melhoria de qualidadde de vida é que quando você morre em um chefe, sua XP fica te esperando do lado de fora da batalha, o que possibilita que você pegue e continue com ela mesmo que queira explorar outros caminhos. Era melhor não perder a XP logo, mas já que vai ser babaca, pelo menos Lies of P não é tão babaca.

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Outra novidade, meio que puxada de Sekiro, é o braço mecânico do Pinóquio. Este pode ser equipado com habilidades especiais, que vão de um socão a uma corda que puxa os inimigos para perto. Esta é uma mão na roda para separar um carinha que fica te esperando junto com os amigos.

Por fim, de Bloodborne ele pega a possibilidade de recuperar vida batendo nos inimigos. A diferença aqui é que a única vida que pode ser recuperada é a que você perdeu defendendo. Então a ideia é ser agressivo, mas não tanto quanto em Bloodborne. Como você perde vida defendendo, a tática “tartaruga” de Dark Souls não dá tão certo. O jogo quer que você defenda, mas que logo em seguida retribua, e assim você se mantém vivo em batalhas mais longas.

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A novidade exclusiva mais interessante, no entanto, é a possibilidade de misturar as duas partes de cada arma encontrada. A alça determina a animação do ataque, enquanto a lâmina afeta a distância. A combinação das duas forma o dano total. Assim, é possível combinar a lâmina de uma greatsword com a alça de uma adaga. Isso possibilita ter um ataque de longo alcance com animação rápida. É bem legal e interessante, e espero que a comunidade crie algumas armas bem overpowered com essas combinações.

“QUASE” PERFEITO

Você reparou que eu disse “quase” perfeito antes, né? Pois entonces. Tem uma opção de gamedesign muito chata e que sinceramente não sei porque está aqui: não dá para subir de nível nas fogueiras. Dá para se teleportar entre elas, e tudo mais que você espera de um soulslike. Mas para subir de nível, você precisa se teleportar até a base e falar com a fada azul. Em outras palavras, você fica a toda hora indo e voltando para a base.

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Você vai encontrar muitos personagens conhecidos da fábula original.

As telas de carregamento são rápidas (mais uma demonstração do polimento), mas mesmo assim, são viagens desnecessárias. Sabe o que deixa isso ainda mais parecido com um chute nas bolas? Antes de você chegar à base, o primeiro objetivo do jogo, você pode usar as fogueiras para upar. Esta é a única coisa que deixa Lies of P inferior aos games da From, e parece tão estranho que eu imagino que em algum ponto do jogo um upgrade vai resolver isso. Ou então vão fazer um patch.

NÃO, NÃO CHEGUEI AO FINAL

Delfonautas mais antenados já perceberam que eu falei acima que um upgrade pode mudar isso em algum momento da história. Pois é, outra coisa que me irrita nesses jogos é essa insistência em dificuldade extrema. Lies of P sempre deixou suas inspirações bem claras, e por isso mesmo eu pedi para cobrir a versão de PC. Normalmente, como fiz em Blasphemous 2, espero o jogo sair para já jogar com mods. Mas estava muito animado para Lies of P, ele veio com muita antecedência e eu quis pelo menos jogar até onde deu para publicar algo no embargo.

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Em Wo Long, por exemplo, eu comecei a jogar no PS5, e depois que travei lá resolvi jogar no PC um dia. Porém, como tinha que começar a campanha do zero, acabei não fazendo isso ainda. Em Lies of P já fui mais inteligente. Quando os mods existirem, vou simplesmente ligar a invencibilidade, matar o chefe onde travei e seguir em frente.

MALDITOS CHEFES

Como costuma acontecer nesses jogos, meu problema não é com as fases, mas com os chefes. Até onde posso perceber, Lies of P não tem coop, mas tem um item que você pode usar antes dos chefes para invocar NPCs. Porém, assim como em Dark Souls, se você usar o item e morrer, ele some permanentemente do seu inventário. Então dá para ficar preso em um chefe que você não conseguia matar sem ajuda, sem poder chamar ajuda.

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Este foi o chefe que me venceu. Por enquanto.

No caso, quem me venceu foi o robozão acima, que apareceu para mim lá pelas sete horas de jogo. Ainda tem bastante coisa pela frente, imagino, mas certamente joguei o suficiente para ver que quem curte um soulslike vai amar Lies of P tanto quanto eu. Quando os mods saírem, certamente vou voltar a ele para ver o restante deste mundo tão bacana.