O que eu gostaria de ver mais na cultura pop são histórias que se aproveitam de temáticas católicas e cristãs para criar sua ficção. A gente tem muita coisa de mitologia nórdica, grega e outras coisas antigas, mas temos muito pouco baseado em religiões que ainda são seguidas por muita gente ao redor do mundo. Pois bem-vindo à nossa análise Last Days of Lazarus.

ANÁLISE LAST DAYS OF LAZARUS

Last Days of Lazarus é um point and click em primeira pessoa. Um Myst-like, digamos assim. E assim como Myst, ele é incrivelmente obtuso. Mas não naquele estilo Monkey Island, em que você precisa combinar um nariz de cachorro com um tapa-olho para criar uma âncora. Aqui a dificuldade é muito mais inconveniente. Os puzzles são todos relativamente simples, mas você vai viver empacado simplesmente por não saber com o que dá para interagir.

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Exemplo.

Isso porque Last Days of Lazarus exige uma precisão que sua UX simplesmente não comporta. A diferenciação entre o que é interativo e o que não é está no seu cursor. Este cursor é um pontinho branco quase invisível. Quando você o coloca em algo interativo, ele se torna uma bolinha branca quase invisível. Esta é sua única dica que é possível interagir com aquilo.

Na imagem acima, por exemplo, você consegue ver a bolinha de interação no botão verde do toca-fitas. E daí entramos na precisão exigida. Se você quer tocar a fita, não basta clicar no gravador. A única parte que aceita interação é justamente o botão de play. Como você deve imaginar, isso causa problemas graves. Especialmente porque muitas vezes objetos não são interativos até você interagir com outros e ver que precisa deles. É uma sequência de exigências tão absurda que é praticamente impossível não empacar a cada passo.

ANÁLISE LAST DAYS OF LAZARUS E A HISTÓRIA

Mas estamos falando de um adventure e, como tal, a história é importantíssima, certo? E é mesmo. O que não significa que é bem escrita. Aqui acompanhamos Lazarus, um sujeito de bigode que volta para a casa da família na Romênia após o aparente suicídio da mãe.

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A mãe era totalmente beata, o que acabou afastando Lazarus e sua irmã, que não alcançavam o ideal moral pretendido pela progenitora. Isso é refletido na decoração e no design de sua pequena casa, que é assustadoramente parecida com quadros e objetos presentes na moradia em que cresci.

Essa temática familiar é algo que valorizo bastante. E, ao mesmo tempo, deixa o terror mais assustador quando coisas estranhas acontecem em um lugar que literalmente parece a casa da vovó.

ROTEIRO SEM SENTIDO

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Este tipo de imagem foi muito mais frequente na minha adolescência do que eu gostaria.

O problema é que é tudo muito mal escrito. Parece coisa do George Lucas, sabe? Tipo logo no início, Lazarus vê que sua casa está sendo tomada por criaturas nojentas. Mas mesmo assim ele constantemente volta para a casa, inclusive para passar a noite, dizendo que “lá estará seguro”.

Em outro momento, você encontra um monte de presuntos e, pouco depois, um cara que diz que matou todo mundo porque eles eram maus. Na frente dele – literalmente, a um metro de distância – está um moribundo. Você resolve ir atrás de medicamentos e curativos para ajudá-lo. Quando volta com estes itens, o moribundo te pede uma arma, para matar o assassino. E enquanto isso o assassino está ali do lado, ouvindo a conversa e esperando tudo acontecer.

Esta cena rola relativamente no início da história, e foi aí que Last Days of Lazarus me perdeu definitivamente. Gosto muito da temática católica em uma história de terror, mas com uma qualidade de roteiro neste nível, não dá para defender.

ADVENTURE COM HISTÓRIA RUIM

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Apesar de ser um jogo de terror, Last Days of Lazarus é, antes disso, um adventure. Isso significa que não há falha ou morte. Você pode explorar tudo com calma, clicando em qualquer coisa sem medo de morrer ou dar ruim. E tudo bem, sabe? Acredito que um adventure, mesmo um de terror, funciona bem melhor sem colocar limitações de tempo ou punir as falhas.

O problema é que é quase impossível avançar na história sem assistir a um guia. Talvez você consiga, com muita paciência e tentativa e erro. Mas eu usei quase o tempo todo o vídeo abaixo para conseguir progredir. E na maior parte das vezes, a solução era simplesmente algo interativo que não tinha percebido que era interativo.

Sem história decente e com interatividade terrível, fica difícil recomendar Last Days of Lazarus como um game, apesar de, no quesito audiovisual, ele ser bem caprichado e interessante. No final das contas, o principal valor do jogo acaba sendo sua platina fácil e rápida (eu a conquistei em uma tarde), mas isso é muito pouco para justificar a compra.