Que mané fantasmas, assassinos e violência. Sabe o que realmente dá medo? Problemas mentais. Tente viver com depressão, ansiedade, baixa auto-estima. Isso sim é terror. Mente sã, corpo são. E não por acaso, esta é nossa análise In Sound Mind.

ANÁLISE IN SOUND MIND

In Sound Mind é um jogo de terror extremamente habilidoso, especialmente considerando que não foi feito pela Capcom ou pela Remedy, mas pela consideravelmente menor We Create Stuff. As duas empresas citadas não foram escolhidas por acaso. Isso porque a melhor forma de fazer você sacar a sensação de jogar In Sound Mind é fazendo comparações com jogos que você provavelmente já jogou. No caso, ele me lembrou bastante uma amálgama de Resident Evil com Alan Wake.

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Screenshot cuidadosamente escolhida para fazer você lembrar de Alan Wake.

É uma comparação de responsa, com jogos AAA de orçamento bombado, coisa que In Sound Mind não tem. Mas ele também não é um indie. Eu o classificaria como um AA. Mesmo jogando no Xbox Series X, ele não tem os gráficos tão elaborados quanto os de um Resident Evil VII, mas é bem feito o suficiente.

O problema para mim foi a performance. Ele parece querer rodar a 60 fps, mas tem quedas constantes, que atrapalham bastante o gameplay. Espero que a coisa seja melhorada com patches, mas este é mais um daqueles casos de um jogo que não está disponível para PS4/Xbox One, mas de alguma forma saiu para Switch. E eu nem quero saber como roda a versão de Switch.

O que mais destaca In Sound Mind, no entanto, é sua temática.

ANÁLISE IN SOUND MIND E A TEMÁTICA

Aqui você controla um terapeuta que está sofrendo com o fim trágico de alguns de seus pacientes. Cada fase se passa dentro de uma fita, que representa as gravações das sessões de terapia do fulano ou ciclana. A forma como tudo é apresentado é a melhor parte.

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Sim, dá para fazer carinho na gata.

O jogo tem um hub, semelhante à vila de Resident Evil Village. É um prédio com várias áreas fechadas. Você precisa encontrar a fita, levá-la para o escritório e tocá-la. Isso inicia a “fase”. Durante cada fase, você adquire novas habilidades e, quando voltar ao prédio, pode usá-las para acessar áreas anteriormente inacessíveis. Algumas terão upgrades e itens. Uma delas terá uma nova fita. Repita até terminar.

Quando você toca a fita, e sai do escritório, há um prólogo. Uma pequena área linear por onde você se movimenta enquanto ouve parte da terapia do “dono da fase”. O caminho termina na fase em si, onde você aos poucos resolve o mistério do que aconteceu, e ajuda a pessoa a seguir em frente (o que, por sua vez, lembra um Psychonauts mais dark). Depois da fase, há um caminho linear de volta ao escritório, onde você ouve mais alguns trechos da terapia, quase como um epílogo. Eu achei toda essa apresentação sensacional. E ela é combinada a um roteiro bem escrito que deixa fácil criar empatia com os “donos da fase”.

AS FASES DE IN SOUND MIND

As fases, ou fitas, são, claro, o grosso do gameplay. E do medo. Algumas são mais lineares, outras envolvem mais vai e vem no estilo da mansão Spencer. O lado ruim é que todas são muito escuras, e isso é algo que já está enchendo o saco em jogos de terror. É possível criar medo sem ser literalmente difícil de enxergar, caramba!

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Todas as fases têm inimigos padrão, que você mata com alguns tiros. Mas elas têm também um personagem especial, imortal, que representa o dono da fase lidando com seus problemas. Esses imortais, claro, seguem a linha Mr. X, mas eles não te perseguem o tempo todo. Você precisa fugir deles e explorar as fases para encontrar formas de ajudá-los com seus problemas mentais.

A primeira dessas histórias, por exemplo, envolve uma mulher que, quando criança, adquiriu cicatrizes no rosto de uma forma horrível. Isso destruiu a auto-estima dela, que passou a evitar sair de casa, sentindo que era sempre julgada pelos desconhecidos. Não à toa, sua fase é cheia de espelhos, que são vitais para você ajudá-la.

AGORA VOCÊ ME VÊ

Aliás, o espelho, que você adquire nessa primeira fase, serve como uma faca. Uma forma de se defender sem gastar munição. Mas mais importante, olhando através dele, é possível ver dicas, mensagens e outras coisas escondidas na fase.

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Olhando pelo espelho.

Mas In Sound Mind também tem armas tradicionais, como revólver e escopeta. Apesar disso, o combate não é tão frequente aqui como num Resident EvilIn Sound Mind é mais um jogo de exploração e puzzles com combate do que um jogo de ação e terror.

TERROR E HUMOR

E sim, é um jogo de terror. Não há dúvidas disso. Porém, ele se arrisca a fazer algumas piadas que dão toda uma personalidade interessante para o jogo. Em especial, há uma criatura/fantasma que fica te ligando a toda hora, dando dicas ou tentando te atrapalhar. A personalidade desse fantasma lembra muito o Freddy Krueger. Ou seja, ele é claramente mau, mas tem um jeitão jocoso que acaba deixando-o carismático.

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Tipo, quando você tira uma foto, ele faz um photobomb!

Um exemplo de seu humor é quando você entra em uma sala para pegar um item. Ao virar para a porta, nosso amigo está lá, e ele fala algo tipo “hora do puzzle” e daí tranca a porta. Obviamente, você precisa resolver o quebra-cabeça para sair dali.

Outra coisa que queria destacar são os manequins. Isso é algo muito usado em jogos de terror, e normalmente são muito assustadores (depois de Condemned, eu nunca mais vi um manequim da mesma forma). Porém, em In Sound Mind, eles são amigáveis. Fazem o mesmo truque de se mexerem quando você não está olhando, mas a cada nova posição, mostram caminhos, dão dicas para puzzles ou simplesmente fazem um joinha quando você vence um desafio.

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Eu resolvi chamar esse manequim de Adalberto.

ANÁLISE IN SOUND MIND E O MEU PROBLEMA DE PRIMEIRO MUNDO

Eu gostei muito de In Sound Mind. Porém, minha experiência com ele foi manchada por um problema que não te afetará em nada. Eu travei pra caramba! O motivo pelo qual isso aconteceu é que eu o joguei antes do lançamento, quando ele estava embargado. Certamente na hora que você puder ler isso, já haverá guias, dicas e walkthroughs. Então se você empacar, a solução estará a uma busca de distância.

Mas ela não estava para mim. E isso fez com que o jogo ficasse muito mais cansativo do que seria de outra forma. Cada vez que empacava, ficava pensando se “este seria o momento em que teria que parar de jogar”. Eu consegui terminar a campanha, mas empaquei em alguns momentos por mais tempo do que gostaria.

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Embora eu esteja te contando isso aqui, não é um motivo pelo qual eu deixaria de recomendar In Sound Mind. Na verdade, eu o recomendo com força. Foi algo que afetou minha diversão, mas como você só vai jogá-lo depois do lançamento, não acho que vá afetar a sua. Em geral, In Sound Mind é excelente, e vai agradar a qualquer fã de joguinhos de medo.