Em geral, eu (e acho que você também) tenho expectativas sobre cada game que pego. Tipo gênero, mecânicas, estilo de arte e combate, etc. Começo esta análise Blind Fate Edo No Yami dizendo que esperava, sabe-se lá por qual motivo, um metroidvania. Não é. É um jogo de ação em fases. E constatar isso foi apenas uma das ótimas primeiras impressões que ele deixou em mim.

AS ÓTIMAS PRIMEIRAS IMPRESSÕES DE BLIND FATE EDO NO YAMI

O visual 2.5D cheio de detalhes me impressionou de cara. Mas eu realmente me animei quando caí de propósito no primeiro buraco do jogo, só para ver se morria. Morri. Mas a surpresa foi que não ressuscitei no início da fase, que estava apenas alguns metros de mim, mas um pouco antes do buraco. Pensei: peraí, ele tem checkpoint? Não acredito, vou jogar um game com checkpoints!

Daí comecei a fuçar no menu de pausa (sim, ele tem pausa também!) e percebi que não havia mapa. Além disso, havia opções de dificuldade, e a selecionada por padrão era o easy. Será possível que eu estava diante de um jogo de ação linear com opções de dificuldade e autosaves? Sim, estava. Em 2022 a existência de um game com essas características é quase inacreditável. Infelizmente, este foi o momento de maior empolgação que eu tive com Blind Fate Edo No Yami. Depois disso, foi ladeira abaixo.

ANÁLISE BLIND FATE EDO NO YAMI

Blind Fate Edo No Yami é um hack and slash sidescroller 2.5D em fases. E dá pra fazer carinho no cachorro!

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Embora o cachorro não seja exatamente como você espera.

É um jogo que mistura temática samurai, mitologia japonesa e cyberpunk. Em outras palavras, você é um ronin biônico que sai caçando yokais. E estes são máquinas. Bem “videogame”, é verdade, mas eu gosto disso.

level design é bastante simples. Basicamente, você anda para a direita até ser bloqueado. É hora de matar algumas ondas de inimigos. Quando eles param de vir, você pode avançar até chegar em uma nova arena. Algumas fases posteriores colocam puzzles rudimentares do tipo “empurre a caixa para conseguir subir” e alguns momentos de sobe e desce que remetem a games de plataforma. Mas o básico é mesmo andar para a direita e lutar. E, ei, Streets of Rage 4 consegue ser excelente sendo exatamente assim.

AS BOAS IDEIAS DE BLIND FATE EDO NO YAMI

Blind Fate Edo No Yami tem algumas boas ideias. Todas são derivadas do fato de o protagonista ser cego. Assim, quando você entra em uma nova fase, vê apenas o personagem em uma tela escura. O cenário aparece quando você sincroniza os dados. E, nesses casos, o que você está vendo é uma imagem estática. Isso significa que chuva, neve, explosões e demais detalhes ficam estáticos na tela. E isso é muito legal por dois motivos.

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Primeiro, na estética, dá ao jogo uma cara única e estilosa. E segundo, na técnica, permite que ele seja muito mais belo e detalhado do que outros jogos com orçamento semelhante que precisam se preocupar com cenários dinâmicos. As coisas começam a degringolar nos outros gimmicks relacionados a um samurai sem olhos.

ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA

Você tem quatro tipos de “visão”, que são os sensores do nosso amigo biônico. O padrão são os gráficos tradicionais, belíssimos. Os outros três representam sensores sonoros, de temperatura e de odor. A questão é que inimigos, itens e qualquer coisa que seja útil ou perigoso só aparece se um desses outros sensores estiverem sendo usados.

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Este é o “olfato”.

Como você pode ver pela imagem acima, estas visões tiram todo o impacto visual do game. É como jogar Arkham Asylum o tempo todo com a visão detetive ativada. Então na prática você quer jogar com a visão normal para curtir os gráficos. Mas fazer isso pune o jogador pelo fato de ele cair em buracos invisíveis, armadilhas ou simplesmente não enxergar os muito necessários itens.

OS INIMIGOS INVISÍVEIS

Os inimigos, inclusive chefes, também são invisíveis na visão normal. Nas outras, você consegue “enxergar” os barulhos, odores ou o calor que emitem. Para vê-los per se, você precisa bater ou apanhar deles. Alguns segundos sem contato fazem todos os inimigos sumirem de novo. Eu não diria que essa é uma ideia genial, ou que deixa o jogo muito mais divertido. Mas é criativa. Fico feliz que ainda tenhamos gente criando coisas novas em games, mesmo sabendo que experimentações também podem resultar em falhas.

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Alguns caminhos você só consegue ver se usar os sensores certos. Este é o olfato.

Os inimigos invisíveis não é algo exatamente legal, mas também não é tão chato quanto pode parecer. Dificilmente durante o combate, você fica muito tempo sem contato, então sempre sabe onde bater ou de onde desviar. O combate também tem um gimmick: quadradinhos de stun. Encha eles e vai aparecer um símbolo que corresponde a um dos três sensores. Ative o sensor correto e um quicktime event se inicia. Se vencer, vai dar um ataque bem poderoso e ainda ganhar alguns segundos para recuperar a stamina. Sim, além de administrar tudo isso, você precisa tomar cuidado com a stamina, ou não vai conseguir atacar, defender nem desviar nos piores momentos possíveis.

É um combate criativo e até interessante. O problema é o uso que Blind Fate Edo No Yami faz dele.

ANÁLISE BLIND FATE E O COMBATE

Há vários problemas aqui. O primeiro que você vai perceber é quanto demora para matar qualquer minion que apareça. As barras de vida vão do enorme ao Kid Bengala. Isso faz com que matar um único inimigo já encha o saco. Mas não é assim que o level design funciona. Não, este é um jogo de arenas.

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O QTE do ataque de stun, e o lindo cenário que você enxerga quando usa qualquer um dos sensores.

Arenas cheias de inimigos em geral já são chatinhas. Mas Blind Fate Edo No Yami leva isso a outro nível. Vamos supor que temos aqui 10 tipos de inimigos. Ao iniciar uma arena, você luta com os tipos 3, 3 e 7. Vença os três e outros três iguaizinhos aparecem. Vença de novo e eles aparecem de novo. Isso acontece até o jogo resolver que vai te deixar avançar mais um pouquinho. Daí na próxima arena, aparecem os tipos 1, 2, 5 e 8. Vença os quatro e adivinha o que acontece? Aparecem mais quatro iguais.

Morra na terceira onda dessa arena e você não vai voltar do início da arena em questão. Você vai voltar duas, três, às vezes até quatro arenas. Ou seja, morrer no último grupo de 1, 2, 5 e 8 vai, no mínimo, te colocar de volta lá atrás no cenário, antes de você vencer a primeira onda 3, 3, 7. E você nunca sabe quando de fato passou por um checkpoint. Só dá para saber de onde você vai voltar ao morrer quando você morrer. Ah, e mesmo no easyBlind Fate Edo No Yami é incrivelmente difícil. E esses checkpoints que voltam várias arenas ajudam a deixar tudo extremamente repetitivo e sacal. Lembra que qualquer inimiguinho genérico demora vários minutos para morrer? Tem isso também.

O ARCO DRAMÁTICO DA ANÁLISE BLIND FATE EDO NO YAMI

Na verdade não foi um arco. Minha empolgação foi descendente. Mas sem dúvida foi dramática. Eu comecei empolgado com o que Blind Fate Edo No Yami poderia ser. Quando vi que os inimigos seriam invisíveis, torci o nariz, mas ainda estava me divertindo. O mesmo posso dizer com os sensores que não me deixavam ver os belos cenários que claramente o povo criou com tanto carinho. Porém, quando comecei a morrer várias vezes em cada combate, e me surpreendendo com o quanto cada morte me fazia voltar, a coisa degringolou.

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Veja, Blind Fate Edo No Yami não é um jogo de exploração. Não é do tipo “tá muito difícil aqui, vou procurar outro caminho”. Voltar três ou quatro arenas apenas exige que você faça todas as lutas de novo. Blind Fate Edo No Yami é simplesmente um simulador de perda de tempo. Mesmo no easy, que deveria se chamar hard as all fuckin’ hell. Não quero nem ver como o jogo funciona de fato no hard, mas é difícil imaginar como ele seria ainda mais frustrante.

Quando começaram essas repetições, queria acreditar que era um checkpoint especialmente chatinho e que voltaria a ficar legal depois. Não ficou. Quanto mais eu avançava, piores eram as combinações de inimigos e mais distantes eram os saves. A cada vitória, eu consultava na internet quanto ainda tinha de jogo para ficar livre disso. E tinha MUITO! Sem falar os chefes. Por Odin, é cada chefe horrível que temos aqui! Blind Fate Edo No Yami ganha alguns dragões vermelhos por arriscar algumas ideias e conceitos novos. Porém, a execução é falha, e o jogo é simplesmente chato demais. Não gaste seu tempo aqui. Espero que esta análise Blind Fate Edo No Yami tenha pelo menos servido para você não perder mais do seu tempo jogando ele.