Assassin’s Creed Mirage é o retorno de uma série muito especial. Responsável por me fazer gostar de mundo aberto e de jogabilidade de stealth, os assassinos que dizem credo foram muito importante na minha vida. E sempre considerei a série única. Porém, os três últimos grandes lançamentos são absurdamente comuns.

Eu ainda gostei de Origins e de Odyssey, especialmente porque ambos tinham a ambientação com a qual eu sonhava desde o início (Egito e Grécia, respectivamente). Mas quando Valhalla chegou, a fadiga de RPGs enormes e de mundo aberto já estava forte. O jogo era até bom, mas eu realmente não aguento mais games assim, com estatísticas, mapas enormes e uma duração de semanas, mesmo passando o dia inteiro jogando.

Neste momento, é difícil saber se Assassin’s Creed vai voltar ao que era ou se vai se manter como RPGs inflados e longos ao extremo. Mas o que temos para hoje, Assassin’s Creed Mirage, é um delicioso retorno às origens. Um game que traz o tesão de jogar Assassin’s Creed de volta, com conteúdo curado, e sem encheção de linguiça. Mirage é a prova de que jogos de mundo aberto ainda podem ser legais, desde que não queiram ser o último jogo que você vai jogar.

ANÁLISE ASSASSIN’S CREED MIRAGE

Análise Assassin's Creed Mirage, AC Mirage, Assassin's Creed Mirage, Ubisoft, Delfos

Até certo ponto, Assassin’s Creed Mirage parece um remake moderno do primeiro Assassin’s Creed. O visual de Bagdá é parecido com o da terra santa (claro), e o design das missões lembra o que tínhamos na trilogia do Ezio. É focado em investigação e stealth, mas as missões são bem variadas. Cada investigação conclui com um assassinato, em fases com aquele jeitão clássico, em que você precisa se infiltrar num lugar, se aproximar do alvo e usar sua lâmina escondida. Sim, cara, temos lâmina escondida aqui. Não sabia que era possível sentir falta de uma faquinha.

Outra coisa muito bacana é que, pela primeira vez em muito tempo, temos de fato uma história envolvendo os assassinos e os templários. Sim, como cronologicamente AC Mirage se passa num passado distante, as organizações ainda se chamam “Os Escondidos” e a “Ordem dos Antigos”, mas potêito, potáto e tal. É curioso, mas a maior parte dos jogos não tem nada a ver com este conflito. Em Valhalla, por exemplo, o assassino Basim, que é protagonista aqui, é um personagem secundário, e o herói Eivor nunca entra de fato no conflito das facções. O mesmo pode ser dito de Black Flag, Odyssey e até de Origins, que queria contar a origem, mas termina antes de isso de fato acontecer.

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Também quero elogiar o fato de a série voltar a países mais interessantes. Isso, que começou sendo um dos principais apelos da franquia, acabou sendo totalmente esquecido. Quase todos os jogos depois do Ezio aconteceram nos EUA/Inglaterra, literalmente os dois países mais batidos e sem graça para tematizar um videogame. Bagdá é MUITO mais interessante. Isso sem entrarmos no excesso de mecânicas pentelhas e desnecessárias, como loot e navegação, que não deveriam existir em um Assassin’s Creed.

ASSASSIN’S CREED MIRAGE E A MODERNIDADE

AC Mirage não ignora a história da série para voltar ao básico. Muitas coisas mais modernas continuam aqui – e nem tudo é positivo. Você ainda precisa chamar seu pássaro e ficar movendo um cursor para encontrar seu objetivo, por exemplo. Em algumas missões, seu objetivo é algum prédio enorme, e você sabe claramente qual é, mas mesmo assim precisa mover o cursor até apontar diretamente para o ponto que o jogo deseja para poder continuar.

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O pássaro está de volta. Quem curte essa mecânica?

As sidemissions também seguem o estilo de Valhalla. Ou seja, são pequenas histórias, que normalmente podem ser concluídas na mesma área em que começam. O principal, para mim, é que são poucas. Deve ter apenas uma meia dúzia de sidemissions, o que demonstra que o grosso do trabalho foi para uma campanha bacana e variada, não para encher linguiça. Até porque a campanha é bem enxuta. Mais longa e com menos conteúdo secundário que a dos primeiros, mas consideravelmente mais empolgante que a dos últimos. Acabou que concluí o jogo com cerca de 20 horas, e até tirei um tempinho para procurar colecionáveis e fazer as sidemissions, algo que não fazia em um mundo aberto desde, sei lá, 2017. É aquela história, ter um milhão de coisas para fazer ao mesmo tempo não é gostoso. É melhor ter poucas, e elas serem legais.

SALAAM ALEIKUM

Assassin’s Creed Mirage conta a história de Basim, que também apareceu em Valhalla. Assim como em Assassin’s Creed II, aqui o acompanhamos desde seu início até se tornar um assassino (ou escondido, se preferir), finalmente virando um mestre. Muito pouco daquele final absurdo de Valhalla realmente aparece aqui.

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Quem estava com saudades de fazer isso?

A história é basicamente a briga entre as duas sociedades secretas. Na maior parte do tempo, as missões mostram Basim investigando para desvendar a identidade dos mestres da Ordem dos Antigos, e daí finalmente o clímax de cada capítulo é numa missão de assassinato. Só bem perto do final é que a parte mais “piração de cabeção” começa a aparecer. Ainda assim, o Basim do final de AC Mirage ainda aparenta ser uma boa pessoa, ao contrário do que se revelou ser no final de Valhalla.

Narrativamente, diria que Assassin’s Creed não é mais tão interessante como era até o final da trilogia do Ezio. Naquela época, parecia que tudo estava caminhando para um final planejado, enquanto agora são apenas histórias naquele universo, e um final cuja semente foi plantada, mas que chegou de forma capada, e provavelmente foi esquecido. Sobra o gameplay, e felizmente neste ponto, Assassin’s Creed, como um jogo de stealth e mundo aberto, ainda é ótimo. Bem melhor do que em sua época de RPG.

O MEU É MAIOR QUE O SEU

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Stealth, cara! Lembra disso?

Assassin’s Creed Mirage divulgou fortemente que era um jogo menor – e justamente por isso fiquei tão ansioso para ele. Mas ele não está totalmente imune dos excessos da modernidade. Seu mapa é realmente estranho. Bagdá é extremamente detalhada. Porém, ela corresponde a uns 15% do mapa total. Não há nenhum motivo para o resto do mapa existir, pois é literalmente deserto. Tem uma ou outra missão que te leva para fora da cidade, mas sem exagero, 90% do jogo acontece no pequeno espaço de Bagdá. E tudo bem! Quem se importa com mapa grande, especialmente sem nada nele?

Vou dizer, eu sou o tipo de cara que, ao pegar um jogo de mundo aberto, vou logo vendo o tamanho do mapa. Exatamente como fazia quando precisava ler livros para a escola e ia ao final para ver a quantidade de páginas. E assim como na escola, quanto maior for, mais preguiça tenho. O deserto é bonito, e é só lá que de fato vale a pena usar seu camelo ou cavalo. Mas ainda assim é um deserto. Até pontos de fast travel são raros nessa região, até porque você consegue atravessá-la rapidinho com seu cavalo. Mas ele simplesmente não precisava existir. Poderia ter algumas fases lineares fora da cidade, como as que acontecem em Alamut, e pronto. Para que ter o trabalho de fazer todo aquele espaço vazio?

DETALHANDO OS DETALHES

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O combate é simples, mas não é fácil, como na época do Ezio. Mais do que a época italiana, este Assassin’s Creed realmente deve ser jogado focando na furtividade. É possível lutar, e até vencer, mas em geral quando você começa a ser perseguido, é melhor sair correndo do que ficar e lutar.

Uma coisa que incomoda, e que imagino que ainda pode ser resolvido com patches, é que você demora muito depois de ser visto para voltar a ficar anônimo. Não adianta matar todo mundo, nem se esconder. Depois de algum tempo sem ninguém te ver, a exclamação fica amarela. Nos antigos, você se escondia e ela sumia logo. Aqui ela fica minutos na tela antes de sumir, e durante todo este período, você não pode interagir com quase nada.

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Você precisa ficar anônimo para interagir.

No caso da missão acima, por exemplo, eu fiquei um bom tempo eliminando os soldados um a um. Daí entrei na sala do objetivo e tinha um cara do outro lado me esperando. Me pareceu que era uma luta obrigatória. Porém, venci ele e simplesmente não podia abrir o alçapão para continuar. Não tinha mais ninguém além de mim na casa, mas precisei ficar parado lá por mais de um minuto até a interrogação amarela sumir e eu poder abrir o alçapão. Parece ou não algo que vai ser consertado?

CREDO, ASSASSINO, ISSO É UMA MIRAGEM, BRO!

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Assassin’s Creed nunca foi uma série perfeita. Mas sempre foi muito boa, apesar de suas idiossincrasias. Isso também vale para seus exemplares que são RPGs ou joguinhos de barco. Eu mesmo já falei aqui nas resenhas da época que Assassin’s Creed precisava mudar para continuar. Afinal, muitos jogos foram feitos em muito pouco tempo.

Porém, eles mudaram, a meu ver, da forma errada. O foco acabou sendo em barquinhos, em loot, em XP, e simplesmente deixaram de ser Assassin’s Creed. Não seria um problema se estes episódios tivessem outro nome, tipo Skull and Bones, ou Ubisoft’s The Witcher. Mas eles se chamavam Assassin’s Creed, mesmo não sendo protagonizados por assassinos, não sendo jogos de stealth e não tendo absolutamente nada a ver com o que a série foi um dia.

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Acredita que só entendi porque eles cortavam o dedo quando vi essa cena?

Isso criou uma demanda estranha. Havia Assassin’s Creed em demasia, mas nenhum deles era o que a gente queria. E o fato de estes jogos serem tão diferentes dos originais (e tão iguais a todo o resto que a indústria AAA faz) dava uma saudade forte do passado. Esta saudade, finalmente, pode ser assassinada (rá!). Assassin’s Creed Mirage é o melhor Assassin’s Creed, e o mais próximo da proposta original, desde Assassin’s Creed Brotherhood. E isso é ótimo. Afinal, nada é verdade, tudo é permitido.