Anthem, jogo chamado durante seu desenvolvimento de Dylan, na esperança de que ele fosse tão inovador e importante para os games como o grande Bob foi para a música, teve um lançamento bem sinuoso. Em meio a problemas técnicos, reviews negativos e pessoas xingando muito no Twitter (já segue o DELFOS lá?), a repercussão de Anthem vem sendo mais semelhante a quando Bob Dylan se aproximou do rock. Mas, como costuma acontecer aqui no DELFOS, minha opinião é diferente da maioria. Spoiler: eu me diverti muitíssimo, e o jogo tem predicados que poucos conseguem alcançar. Esta é minha análise Anthem.

ANÁLISE ANTHEM

Assim como Assassin’s Creed Odyssey não existiria sem The Witcher 3Anthem não existiria sem Destiny. A Bioware pode sonhar (e até dizer para os jornalistas) que o jogo tem um funcionamento único, mas é fato que praticamente toda sua estrutura, da classificação dos loots à forma de reviver amigos, passando pela própria organização das missões e atividades secundárias, é chupadaço de Destiny.

gameplay, por outro lado, é bem diferente. Destiny é um FPS relativamente tradicional, com um gameplay excelente. Como eu costumo dizer, o melhor da categoria. Já Anthem está em outra categoria totalmente. E não me refiro simplesmente à câmera ser em terceira pessoa. Anthem é, na falta de uma comparação melhor, um jogo do Homem de Ferro sem a licença da Disney/Marvel.

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Você controla um piloto de Javelin (Lança, na tradução para português do jogo), armaduras bem semelhantes à do Tony Stark, que vêm em quatro sabores, semelhantes às costumeiras classes de RPGs. O legal é que conforme você sobe de nível, pode escolher uma nova armadura, o que significa que eventualmente, é possível alternar entre todas elas sempre que desejar. Isso contrasta bastante com Destiny, em que, para experimentar uma nova classe, é necessário começar um novo jogo – e, por causa disso, eu só joguei com o Arcano.

STORM

Todas as armaduras são bem legais e bastante diferentes. Minha preferida é a Storm, equivalente ao mago. Com ela, você consegue ficar planando durante as batalhas, invocando raios dos céus e causando explosões com o movimento das suas mãos.

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Alguém falou em power fantasy?

Anthem pode ser divulgado como um jogo de tiro em terceira pessoa e, embora isso seja tecnicamente correto, e haja armas como metralhadoras e escopetas, não espere uma experiência de tiro tradicional. Jogando com meu Storm com as habilidades turbinadas, eu praticamente não uso as armas comuns, focando principalmente em explosões e raios.

Estas habilidades, que são ativadas com o L e o R, têm cooldown, mas além de o cooldown ser rápido, algumas podem ser usadas várias vezes antes de ficarem inativas. Monte um arsenal equilibradop e você nunca vai precisar fazer os inimigos comerem chumbo. É muito mais legal fazê-los comerem trovão!

OUTROS SABORES

Minha segunda armadura foi a Interceptor. Esta é a equivalente ao rogue. É a mais rápida, a única a ter pulo triplo e vários outros benefícios de mobilidade. Também tem excelentes ataques corpo a corpo e um ultimate mortal que deixa o personagem invencível e em modo berserk.

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A terceira classe que experimentei foi a Colossus, o tradicional tanque. E de fato esta é um tanque. Tem ataques explosivos super poderosos, é enorme e, ao contrário das outras, que morrem relativamente rápido, tem uma vida absurda de grande. O lado negativo é que o Colossus não recarrega os escudos automaticamente durante as batalhas, então você precisa fazer isso pegando itens derrubados pelos inimigos.

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O Colossus também voa, mas sua verdadeira força está no chão.

Por último, há o Ranger que, como o próprio nome deixa claro, é o soldado. Este é a experiência mais tradicional. O Ranger tem como ataques especiais granadas e mísseis. Esta é a classe em que você mais vai usar armas de fogo comuns e, portanto, achei a que menos joga com o que Anthem tem de melhor.

LADO B

Tudo que você faz dentro da armadura é em multiplayer. Dá para jogar sozinho, mas fica extremamente arrastado e frustrante. Porém, há um outro lado da experiência, focado na história em formato single player. Entre as missões de ação, você vai passar em Fort Tarsis, o hub. Lá, vai passar um bom tempo (um bom tempo mesmo), conversando com NPCs e escolhendo o que responder para eles.

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Heeeeey!

Felizmente, o mapa mostra onde tem gente com coisas novas para dizer, então não é necessário sair explorando a esmo. Cada NPC tem sua história e seus próprios conflitos, e o que você disser para eles vai afetar diretamente como estas histórias vão continuar.

Não dá para evitar passar por Fort Tarsis entre as fases, mas você pode escolher fazer como eu faço na vida real e não falar com ninguém. Felizmente, as histórias são muito bem escritas e interessantes. Além disso, as animações faciais são realmente impressionantes, algo digno de nota considerando quanto este aspecto foi criticado em Mass Effect Andromeda, jogo anterior da Bioware.

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Mesmo as fases de ação têm bastante história, mas é no hub que você realmente consegue saboreá-las, uma vez que o fato de ser single player permite tirar o pé do acelerador e prestar atenção na ambientação e no que está acontecendo.

MAS…

Pois é, agora começam os poréns. Eu gostei muito do jogo, mas é claro que joguei a mesma coisa que os outros veículos e, desta forma, preciso falar dos mesmos problemas. E o principal deles é o excesso de telas de carregamento. Você passa MUITO tempo aqui esperando o jogo carregar.

Esta é a rotina mais curta pela qual você passa ao terminar a missão e entrar em outra:

  • Uma contagem regressiva aparece na tela.
  • Loading que dura entre 40 e 60 segundos.
  • Tela de missão concluída, onde você vê o loot e a XP conquistados.
  • Loading que dura entre 40 e 60 segundos.
  • Menu onde você pode customizar seu javelin e equipar o loot recém-adquirido.
  • Loading considerável, muitas vezes passando os dois minutos.
  • Fort Tarsis, onde você vai conversar com a galera e escolher sua próxima missão.
  • Cerca de três minutos de loading.
  • Missão de ação. Conclua e aparece a contagem regressiva. Repita o processo.

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Somando todos estes carregamentos, cheguei a algo entre seis e sete minutos em que você passa apenas esperando o jogo carregar entre uma missão e outra. E este é o caminho mais curto. Se, você estiver no Fort Tarsis e resolver mexer no seu javelin, acrescente mais duas telas de loading, somando mais uns dois ou três minutos de espera no total. E estes tempos foram marcados no Xbox One X, teoricamente o console com os menores tempos de carregamento. Espere por muito mais em um Xbox One normal ou em um PS4 baunilha, por exemplo.

Também há loads durante as missões de ação, caso você entre em um lugar fechado ou haja uma cutscene (neste caso, há um para a cutscene e outro para voltar ao jogo) ou mesmo para reviver seu personagem, então prepare-se para muita, MUITA espera. Mais curioso ainda é que eu joguei Anthem depois de um patch que teoricamente diminui bastante os loads. Fico pensando como era antes.

BUROCRACIA

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Mas, ei, dá para fazer screenshots que poderiam ser capas de álbuns de metal!

Outra coisa muito estranha, que você talvez tenha percebido pela descrição acima e que eu nunca tinha visto antes, é a burocracia necessária para trocar de equipamento. Em Destiny, por exemplo, você só precisa apertar um botão a qualquer momento – até mesmo durante loadings – para fazer isso. Aqui você precisa entrar no forge, e você só tem acesso ao forge entre as missões, e tem que esperar por uma tela de carregamento para entrar e outra para sair.

Para deixar tudo ainda pior, você só pode experimentar o equipamento nas missões ou no freeplay e para entrar em uma delas, já sabe, três minutos de carregamento. Daí, se você não gostar das armas que equipou ou dos seus novos poderes, tem que voltar para o hub. E isso envolve toda a burocracia e telas de loading descritas acima, pois mesmo ao desistir de uma fase, você é levado à tela de missão concluída.

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Anthem é tão brilhante que você vai precisar fechar os olhos em alguns momentos!

O mais curioso? Assim como DestinyAnthem é um jogo baseado em loot, no qual é esperado que você consiga coisas melhores e troque de equipamento o tempo todo. Isso deixa esta burocracia toda difícil de entender, especialmente considerando que em tantos outros jogos semelhantes o processo de troca de equipamento é simples e rápido.

PROBLEMAS TÉCNICOS

Além disso, existe uma miríade de problemas técnicos, como logs de texto que não aparecem quando você os seleciona, servidor que perde a conexão com frequência (pelo menos uma vez por dia isso acontecia comigo) ou fases que não avançam os objetivos mesmo quando você os cumpre (exigindo jogar de novo desde o início).

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O que mais me incomodou, no entanto, também está relacionado aos loads e a algo que qualquer jogo online faz naturalmente: sincronização de carregamento. Pelo que sei, é normal que alguns consoles carreguem mais rápido do que outros. Os games resolvem isso fazendo os jogadores que ficam prontos antes esperarem pelos mais lentos.

Anthem te coloca no jogo assim que seu carregamento termina. Isso faz com que seja comum seus parceiros já estarem longe, às vezes cumprindo objetivos. Pior: os diálogos da história começam a rodar assim que o primeiro jogador entra no jogo, então quase sempre você perde pedaços da história. Isso contribui para ser bem mais fácil entender as histórias contidas do Fort Tarsis do que a da campanha principal.

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Anthem é lindão, cheio de efeitos e partículas que devem deixar o jogo bem pesado – e talvez por isso com tantos loads.

Às vezes a coisa fica ainda pior. Quando você entra no jogo, seus parceiros já estão tão longe que você é transportado para eles. E isso não é feito instantaneamente, mas adivinha só, com uma tela de carregamento que leva uns 40 segundos. E isso interrompe qualquer diálogo que esteja rolando, então é mais história perdida.

CADÊ SINCRONIA?

Em alguns casos, ao reviver, o jogo te coloca super longe da ação, o que ativa uma contagem regressiva para te teleportar para a batalha. Daí vem outro carregamento longo e, mais de uma vez, quando voltei para a ação, meu personagem já estava caído novamente, antes de eu poder controlá-lo ou sequer ver o que me matou.

Uma vez, havia uma cutscene antes de um chefe. A cutscene não pode ser pulada, então quando eu voltei para o jogo, meu time já tinha tirado mais da metade da vida do vilão. Você literalmente perde pedaços da campanha, história e gameplay por causa desta ausência de sincronia. É um erro absurdo de uma desenvolvedora conhecida por contar boas histórias.

Talvez o mais grave, embora não tenha acontecido comigo, é que o jogo está brickando alguns PS4s, algo inaceitável. Uma solução para este problema deve sair esta semana, mas ainda é tempo demais para quem teve o videogame inutilizado por um jogo.

ENDGAME

Anthem, assim como Destiny, ambiciona ser o último jogo que você vai jogar na vida. Ele espera que você fique repetindo suas missões ad infinitum para conseguir loots cada vez mais poderosos. Quando eu terminei a história, por exemplo, o jogo me desafiou a cumprir estes objetivos:

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Por exemplo, ele espera que você faça 25 Strongholds. Há apenas três Strongholds em Anthem (e um deles é simplesmente uma reprise da última missão de história), então a Bioware quer que você faça cada um deles 8,333333333 vezes. Não, obrigado. Isso não é para mim.

Ao contrário de Destiny, no entanto, Anthem já está saindo com bastante conteúdo. Não sei passar em horas, mas eu joguei Anthem exclusivamente por mais de uma semana até terminar a história e parte das missões secundárias. Isso sem repetir missão nenhuma, a não ser quando não tinha opção, por causa de algum problema técnico. Como comparação, eu vi tudo que Destiny 2 oferecia no lançamento em dois dias.

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Assim, não estou analisando Anthem como um RPG que você vai jogar para sempre, como os criadores gostariam. Tem muitos reviews com esta proposta por aí. Eu joguei Anthem como uma experiência autocontida, vendo todo o conteúdo que ele oferece uma vez. E considerei sua duração apropriada e satisfatória, e seu gameplay único e divertidíssimo. Ele pode parecer com Destiny no seu funcionamento e em suas ambições, mas a sensação de jogar Anthem simplesmente não existe em nenhum outro lugar.

Tem problemas técnicos, uma infinidade deles, e alguns gravíssimos. Estes provavelmente serão arrumados no futuro. Apesar disso, eu ainda gostei muito do que joguei. Anthem é o melhor jogo do Homem de Ferro já feito, e nem tem o Homem de Ferro.