A virtude, a educação e os movimentos grevistas

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Alfredo, Alfredo de la Mancha, Delfos, Mascote, Alfred%23U00e3o, Delfianos

Os meus mais cordiais cumprimentos. É com enorme pesar que constato a obliqüidade das autoridades desse país, que permitem a permanência no ar deste site. Obtive infinitas promessas dos órgãos competentes no sentido de fiscalizar as atrocidades aqui publicadas. Infelizmente, todas elas revelaram-se inócuas. Perdura gloriosamente a intenção de oferecer aos nossos jovens cultura rasteira, debates pseudo-intelectuais e toda a sorte de desvirtuamento.

Como se isso não fosse suficiente, deparei-me com a mais grotesca das afrontas: um convite do auto-intitulado Ditador Supremo para que eu lhe envie regularmente meus textos para assim debatermos ampla e democraticamente minhas propostas. Não sei que nefastas intenções escamoteiam-se por trás de tão bisonha proposta. Não sei quantos cortes e edições serão feitos em meus textos, quiçá até mesmo objetivando deturpar meus ideais. Mas como já lhes disse antes: aqueles que têm como companheira a luz jamais temerão a escuridão. Aceito sua proposta, senhor ditador! Minha pena será minha única arma nessa jornada. A partir deste momento, estou ciente de que adentro o covil da besta.

Trarei comigo figuras que jamais teriam lugar entre vocês, nerds satanistas. Trarei heróis cujos ideais foram de suma importância para a construção de meus ideais. Em cada uma de minhas missivas prestarei uma homenagem a um deles. Aqui peço dedicada atenção ao garboso Emiliano Zapata. Quanta altivez demonstra sua imagem. Quanto valor demonstrou em seus ideais, pois defendeu um mundo melhor para nossos hermanos mexicanos e foi covardemente assassinado pelas forças imperialistas do norte! Senhores, alimentem-se com os bons exemplos que lhes ofereço, não com seres que usam cuecas por fora das calças.

Como sempre o fiz, continuo acompanhando silenciosamente aquilo que aqui é publicado. Claro, minhas manifestações são veementemente censuradas nos murais de discussões. Meus textos, enviados cotidianamente para o declarado “Ditador Supremo”, foram ignorados até o presente momento. Certamente que publicará este, dando a seus seguidores a possibilidade de achincalhar-me com mais um daqueles títulos capciosos: “Torquemada repete a ladainha” ou “Torquemada entra em desespero”. Que outra situação poderia eu esperar, senhor Corrales, quando seus leitores anuviados por sua sacripanta persona preocupam-se com os destinos de seu Xbox 360?

A contínua e inexorável patuscada grassa entorno de fanfarronices com pretensões de seriedade. Quanta infâmia e inconseqüência foram demonstradas ao tratar de temas ilibados como a educação brasileira. Senhores, se não perdessem tanto tempo debatendo sobre o “romantismo das tirinhas preto-e-branco do Homem-Aranha” poderiam perceber que os verdadeiros heróis estão tentando alfabetizar nossas dóceis, gentis e naturalmente educadas crianças. Que seus verdadeiros super-poderes são conscientizar-nos da importância da leitura dos clássicos de nossa literatura e sua linguagem majestosa, ensinar-nos os impenetráveis segredos da matemática através de matrizes cuja complexidade causa deleite aos mais aptos intelectualmente. Nossas escolas realizam uma pura e legítima seleção dos mais capazes, promovendo aqueles que melhor desempenho demonstram nas semi-intransponíveis questões de suas provas. Pervertidos que são, certamente imaginam ao debater tal tema nada além de impublicáveis fantasias sexuais com suas valentes, retas e idôneas professoras.

Senhores, há temas urgentes a serem debatidos. O aquecimento global e as ondas de calor produzidas por seus PCs e demais tranqueiras tecnológicas, o ocaso de um grande herói (de verdade, senhores, de verdade!) como o inquestionável Fidel Castro e suas incomensuráveis conquistas democráticas para o povo cubano. A ganância dos baderneiros roteiristas de Hollywood que ousaram desencadear um movimento grevista cujo único objetivo era engordar suas já adiposas contas bancárias. Senhores, atentem para o verdadeiro vilão: aquele que se escamoteia em sorteios de entradas para cinema, em alusões a oráculos, em falaciosas homenagens às mulheres no 8 de março.

Nossa língua pátria, devorada qual um naco de carne num ritual canibalista foi tratada com desprezo. Vieram à tona expressões esdrúxulas como “miguxês” e seus usos. Nossas políticas educacionais públicas foram subestimadas. Senhores, verifiquem os dados sobre nossa educação. Nossas crianças são cada vez mais cedo alfabetizadas, nossas melhores universidades (verdadeiros centros de excelência do conhecimento humano) multiplicam-se numa razão assombrosa tornando-se acessíveis a qualquer indivíduo em qualquer esquina deste Brasil. As avançadíssimas pesquisas de nossos doutores, como o ciclo reprodutivo dos girassóis do Vale Quará na Chapada Diamantina, foram ignoradas em seus debates tão profundos quanto uma tampinha de refrigerante.

Uma vez mais, estou certo de que meus protestos serão ignorados. Meus argumentos servirão para escárnio e deleite de jovens desgarrados, caminhantes de uma rápida estrada para o Inferno ao invés de uma dolorosa escada para o Céu. Aqueles que para este sítio apontam seus navegadores, obviamente procurando por respostas como se para o final do arco-íris rumassem, encontrarão nada além de ilusão para as massas. Se voltarei? Claro que sim, afinal o Ditador Supremo precisa alimentar seus seguidores! E que melhor alimento haveria senão aquele que desesperadamente tenta abrir-lhes os olhos. Cuidado, senhores.