Com pelo menos um ano de atraso, finalmente o novo do prolífico Woody Allen chega aos cinemas tupiniquins. É o segundo longa dele desde que a sociedade se lembrou que o baixinho não é exatamente um cara legal. Eu sempre soube disso – lembro da minha mãe comentando essas coisas quando era criança – mas de todos esses cineastas que não são flor que se cheire, a obra de Allen é a que mais me agrada. Então permita-me começar essa crítica Festival do Amor dizendo o quanto gostei dele.
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CRÍTICA FESTIVAL DO AMOR
Festival do Amor é o mais puro suco de Woody Allen (uhn? Eca!). Trata-se da história de Mort Rifkin (Wallace Shawn), um baixinho neurótico e intelectual, casado com uma moça que é claramente muita areia para seu caminhãozinho (Gina Gershon).
A esposa trabalha como assessora de imprensa e um de seus clientes é Philippe (Louis Garrel) um diretor jovem, bonito e supostamente talentoso. Mas para Mort, ele é apenas um moleque pretensioso. E para piorar, Mort sente que a patroa tem uma quedinha pelo galã, o que pode ser exacerbado quando todos vão passar alguns dias em um festival de cinema na Europa.
Por essa sinopse, eu achei que Festival do Amor seguiria o caminho que deixou Dom Casmurro famoso (ela traiu ou não?). Mas assim como o clássico de Machado de Assis, a obra vai muito além disso. E, bem, se você viu o trailer, já sabe a resposta para essa pergunta de qualquer jeito.
O FIM DO AMOR
Festival do Amor é um filme de amor. Mas sobre o fim do amor. Sobre os últimos dias de um casamento em que nenhuma das partes está feliz. Mas o que temos aqui não é nada parecido com o terrível Separados Pelo Casamento, em que os dois protagonistas ficam tentando deixar o outro triste. O casamento está acabando, e ambos sabem, mas como duas pessoas que se gostaram um dia, eles se tratam civilizadamente o tempo todo.
O mais imaturo que temos aqui são os diálogos entre Mort e Philippe, que ficam se alfinetando. Porém, eles fazem isso de forma tão fina e sutil que deixa essas cenas absurdamente engraçadas. Ao olhar para Wallace Shawn e Louis Garrel, ninguém pensaria na química absurda entre os dois para a comédia, mas Allen viu isso, e funciona que é uma beleza.
Enquanto a patroa tem seus olhos em um diretor, Mort também sonha com outra moçoila, uma bela médica que ele conhece por acidente. Quase todo o filme é contado do ponto de vista dele, inclusive com narração do próprio, então a gente sabe muito bem o que ele está pensando a todo momento. E saber se a esposa traiu ou não é o de menos importante em tudo que acontece aqui.
CRÍTICA FESTIVAL DO AMOR E A DIREÇÃO DE WOODY ALLEN
Woody Allen não é um cara legal, já estabelecemos isso. Mas o considero um excelente diretor. A cada ano que passa fico mais incomodado com aquele estilo MCU de montagem, em que cada soco é um corte. Allen vai para o outro extremo, e eu amo isso. Obviamente, Festival do Amor não é uma história de pancadaria, mas de diálogos. E cada diálogo é uma cena seguida, sem cortes, muitas vezes filmadas de ângulos muito bacanas. E isso deixa o filme muito mais bonito do que se fosse um videoclipe neurótico.
Além disso, Allen conseguiu uma brechinha para homenagear seus heróis. Como o protagonista é um apaixonado por cinema europeu clássico, seus sonhos parecem ter sido dirigidos por pessoas como Godard e Truffaut. E essa é a desculpa para Allen colocar dentro do seu filme estéticas e planos diferentes, que não refletem o seu estilo, mas o de outrem. Até porque eu acho que nunca usei a palavra “outrem” por aqui e decidi que estava na hora.
Festival do Amor é um filme cínico e realista, mas também positivo. Como uma esquete de Vida de Brian, seus argumentos demonstram como a vida é uma merda. Porém, é a única merda que temos, então é melhor a gente aproveitar.
E neste momento da minha vida, é exatamente o tipo de mensagem que eu preciso. 2021 foi um ano muito difícil para mim, mas não dá para desistir. Tenho que encarar meus problemas e sair desse buraco em que me enfiei. E, sem brincadeira, eu já estava com a intenção de dar meus primeiros passos nisso hoje antes mesmo de ver o filme. Você está lendo essa resenha já em 2022, mas eu a escrevi em 15 de dezembro de 2021. Então rumo a um 2022 que também vai ser uma merda, mas eu pretendo aproveitar essa merda!