Supernatural

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Existe um problema sério com as séries de TV que duram muito tempo: depois de várias temporadas, as tramas principais ficam exaustivas e sem sentido para quem as acompanha desde o início. De cara, dá para pensar em vários exemplos de programas que sofreram disso. Smallville é o primeiro que vem à cabeça. Arquivo X também se tornou uma bagunça. Até mesmo Friends ficou meio embriagado depois da sexta temporada. Mas nenhuma diminuiu tanto a qualidade quanto Supernatural.

Exibido pela Warner desde 2005, Supernatural havia sido planejado originalmente para ter três temporadas. Com o sucesso inicial, foi ampliado para cinco e, em maio de 2010, o criador da série, Eric Kripke, finalizou a história original ao final da quinta temporada. Como nos Estados Unidos tudo que dá dinheiro continua, por mais que a qualidade caia, Supernatural ganhou mais duas temporadas, sob a supervisão da produtora Sera Gamble. Hoje está nas mãos de Jeremy Carver, que irá produzir a oitava temporada e planeja estender a série até a décima.

A ideia inicial do programa era bem bacana. Os protagonistas Dean e Sam Winchester, ainda crianças, perdem a mãe quando um homem estranho com olhos amarelos a assassina de uma forma peculiar no quarto de Sam: a mulher é levada telepaticamente até o teto enquanto sangra pela barriga e depois pega fogo, fazendo com que a casa inteira seja destruída. John Winchester, o pai, presencia tudo, salva os filhos e parte em busca de respostas, tornando-se um caçador de criaturas sobrenaturais e treinando os garotos para fazerem o mesmo. Vinte anos depois, Sam entra em uma ótima faculdade de direito e está longe da vida de caça às bruxas, mas seu irmão Dean vem pedir seu auxílio para encontrar o pai desaparecido.

O episódio-piloto é excelente e definiu muito bem todas as características da série: muito suspense, humor, MUITAS referências à cultura pop, dramas e problemas entre os irmãos Winchester e trilha sonora apenas com clássicos de rock (oh, yeah!). O foco inicial de cada episódio era a luta dos irmãos Winchester contra monstros/criaturas/assombrações que causavam problemas nas cidades, mas sempre havia espaço para uma ou outra novidade que tornava os episódios mais “viajados”. Além disso, uma importante característica das primeiras temporadas é que os irmãos estão sempre viajando em um ’67 Chevy Impala preto muito estiloso.

É bom que Supernatural tenha essas características acima, porque do contrário não se diferenciaria das séries que o influenciaram, como Arquivo X ou Buffy, que possuem o mesmo tema de “matar o monstro/resolver o mistério da semana”. Supernatural, através de seu roteiro com ótimo timing, episódios cheios de metalinguagem e personagens cativantes, conseguiu se tornar uma série melhor do que as outras duas, em minha opinião. Bem, pelo menos nas primeiras temporadas.

IDEIAS MIRABOLANTES

Voltando ao que disse no começo da resenha, Supernatural é uma série que sofreu muito com o excesso de plot twists exagerados. É normal que as tramas principais precisem ser resolvidas e trocadas com uma boa frequência em séries de TV, mas o problema é que os roteiristas aqui não souberam fazer isso bem.

Eles até são bons para trazerem elementos novos que renovam o interesse dos fãs pela série e fazem isso com inúmeras sacadas geniais, mas não as desenvolvem e depois de tantas coisas desse tipo, tudo começou a ficar sem pé nem cabeça. E, para mim, os pontos fortes de Supernatural passaram a ser seus maiores problemas depois da quinta temporada. O maior exemplo é a relação entre os irmãos Winchester. Até a quarta temporada, era legal vê-los discutindo devido aos problemas que enfrentam, mas isso foi repetido exaustivamente e hoje não tenho paciência para qualquer diálogo que envolva uma desavença entre os dois. Sentimentos são para os fracos, especialmente quando eles ocupam cerca de dois terços do tempo da série. ;D

AS TEMPORADAS: SÉRIO QUE VAI TERMINAR JUSTO AGORA?

Supernatural segue o odioso formato de temporadas com mais de 20 episódios cada, ou seja, é praticamente uma novela semanal que tenta chegar ao clímax no final de cada temporada, para fazer com que os fãs voltem sedentos para saber o que irá acontecer. Infelizmente, depois de quatro temporadas com histórias e reviravoltas interessantes, Supernatural afundou os dois pés na lama. Abaixo vai uma breve análise de cada temporada com spoilers leves e malvados. Leia apenas se você já tiver assistido à temporada em questão. Se você ainda não assistiu à sexta ou sétima temporada, pode ler de qualquer jeito, afinal, quem realmente se importa com elas?

1º Temporada – Nota: 4,5

A série começa com Dean indo visitar Sam, que abandonou a vida de caçar demônios para viver com a namorada e estudar Direito. Dean convence Sam a ajudá-lo a encontrar o pai desaparecido e, no fim deste 1° episódio, a namorada de Sam morre exatamente da mesma forma que a mãe deles, o que faz com que o irmão mais novo fique motivado a encontrar a coisa que a matou e se vingar.

O foco da temporada inteira é simples assim: a busca pelo pai ausente e também pela coisa que matou a mãe deles. O conflito entre os irmãos Winchester começa porque Sam quer encontrar o pai e se vingar do demônio de olhos amarelos, enquanto Dean quer seguir salvando pessoas, do jeito que John Winchester ensinou.

A fórmula de quase todos os episódios é a de matar monstros baseados em contos e lendas urbanas e, nesta temporada, isso ainda não está batido e os inimigos são interessantes. Tem alguns poucos episódios bobos, como o dos insetos, e alguns momentos de discussão dos irmãos são exagerados também. Mesmo assim, por ser a primeira, a gente tolera mais coisa. Sem falar, é claro, do poder nostálgico. Alguém já disse que o episódio IV de Star Wars é tosco?

Outra coisa que torna esta primeira temporada uma das melhores é que a trama principal vai bem com a proposta de cada episódio, que é de eliminar um monstro diferente por vez. Em outras palavras, dá para entender por que os irmãos Winchester estão deixando de procurar o pai ou de ir atrás do demônio de olhos amarelos para enfrentar monstros e salvar pessoas. Em temporadas futuras, esse seria um dos principais problemas da série, já que alguns dos motivos encontrados pelos roteiristas para justificar a trama principal deixada de lado não convencem.

Há muitos personagens legais introduzidos nesta temporada e é uma pena que eles tenham sido destinados ao total esquecimento dos roteiristas e fãs. Missouri, Cassie, Sarah, Becky e Zach: mesmo se você for fanboy de Supernatural, provavelmente não se lembrou de imediato desses personagens. Todos eles foram importantes e deixaram pontas para serem usados mais tarde, mas simplesmente não foram.

2° Temporada – Nota: 5

Para mim, a melhor temporada de todas. Ela reúne ótimos episódios que se relacionam bem à trama principal, que é bem intrigante e desenvolvida, sem falar que ela começa e termina de forma excelente. A segunda é muito mais tensa do que a primeira, simplesmente porque sabemos que algo vai acontecer e não vai ser nada bom.

Nessa segunda empreitada, Supernatural começa a ser mais criativo com os episódios e não fica apenas na fórmula de caça aos monstros/assombrações, e faz isso direito, como nos episódios Croatoan (um dos meus favoritos de toda a série) e O Blues da Encruzilhada, que são muito importantes para a série. Aqui também surgem episódios totalmente humorísticos e cheios de metalinguagem, uma característica muito boa que seria aprofundada nas próximas temporadas. Apesar dessas diferenças, a primeira e a segunda formam as duas temporadas mais parecidas.

Infelizmente, é aqui também que as desavenças entre os Winchester começam a ficar irritantes. Nessa parte, eles repetem tudo o que foi feito na primeira temporada, como as típicas discussões, uma nova fugida de Sam em um episódio, etc. Pelo menos o motivo do stress para causar tudo isso é bem maior do que um pai perdido e uma briga familiar.

Fora isso, não há outros defeitos significativos, com exceção da morte do Ash, um dos personagens mais legais de toda a série. O final desta temporada é o melhor da série: encerra uma plotline importantíssima e começa outra muito criativa.

3° Temporada – Nota: 3

Agora o negócio está realmente tenso. Dean está mais troll e brutal do que nunca, afinal, ele vai morrer. Sam está cada dia mais dark também. Para dar mais tensão e mostrar que os Winchester estão à beira de perderem a razão, a temporada ficou extremamente violenta e isso ajudou deveras no desenvolvimento dos personagens.

Parte das novidades mais interessantes foi a introdução de duas mulheres no cast principal: Ruby, a ex-bruxa medieval e atual demônio, e Bella, a mercenária que enche muito o saco dos Winchester. A primeira é uma peça principal da trama desta e da próxima temporada; a segunda foi muito mal aproveitada e quase todos os fãs a odiaram, o que levou os roteiristas a matarem a coitada no final dessa terceira temporada. Já eu a achava muito legal, mas concordo que os roteiristas deveriam tê-la desenvolvido melhor. Ela poderia muito bem se tornar algo próximo de uma Mulher-Gato, mas foi apenas uma personagem desnecessária que é chata demais para alguém se importar com ela.

A terceira temporada de Supernatural sofreu, assim como todas as outras séries de TV dos States, no final de 2007 e começo de 2008, com a greve dos roteiristas. Por isso, foi relegada a ter 16 episódios ao invés dos tradicionais 22. Isso atrapalhou muito o desenvolvimento da trama principal e dos novos personagens. Também sinto que a produção começou a ficar preguiçosa com os efeitos especiais e maquiagem: é a partir dessa temporada que os inimigos monstros são quase sempre humanos, com poucas distinções dos personagens normais.

Antigamente, eu considerava essa terceira parte a pior de todas. Hoje, depois da guinada horrível que a série deu, a acho mais legal. Ainda está longe da qualidade da primeira ou da segunda, mas temos aqui uma menina de nove anos loira possuída por um demônio que mata um cachorro fofo. Isso é muito doentio e, claro, deve ser valorizado.

4° Temporada – Nota: 4,0

A quarta temporada será sempre lembrada pela entrada dos anjos, da trama de libertação de Lúcifer e, principalmente, por apresentar o anjo Castiel, o personagem mais querido da série daqui para frente e um dos poucos motivos para assistir às próximas temporadas, em especial a quinta.

Ela trouxe a inovação necessária para que a série não permanecesse estagnada, mas a um custo muito grande. A presença dos anjos e a trama de proporções gigantescas tirou aos poucos os irmãos Winchester da estrada e de sua importância como caçadores, o que fez com que os roteiristas precisassem justificar a importância deles na quinta temporada com aquela história boba de destino e “captação” de anjos (se você viu, sabe do que estou falando). Daqui para frente, os roteiristas começaram a inventar mais e mais coisas sem sentido para manter o interesse dos fãs, entre outras diversas frescuras que culminariam na perda total de qualidade das próximas temporadas.

De qualquer forma, vejo a 4º temporada como a última parte realmente boa de Supernatural. Ela combinou o que as duas primeiras tinham de bom com a violência e tensão da terceira e, para dar um tempero final, trouxe as esquisitices e humor irreverente que seriam usados ad nauseam nas próximas temporadas. Isso sem falar na trama principal, com certeza a mais aterrorizante de todas, o que indicava que a série queria alçar voos muito mais altos daqui para frente.

Outra coisa legal é que ela é possivelmente a temporada que mais tem revelações de grandes segredos da história. Uma sacada brilhante é o episódio que revela que a mãe dos Winchesters também era uma caçadora e, em um momento desesperado, fez um pacto com o demônio Azazel, o que justifica tudo o que aconteceu com os Winchester. A ponta é especialmente bacana porque, no nono episódio da 1° temporada, quando os irmãos encontram o espírito da mãe, a única coisa que ela fala a eles é “me perdoem”. Embora naquele momento aquilo não faça sentido algum, com esse episódio da quarta, isso é finalmente destrinchado. Genial, não? Essa era uma ponta que ninguém mais se lembrava. Por tudo isso, a quarta é uma das minhas favoritas.

5° Temporada – Nota: 2

Após o azar infindável das quatro temporadas, o pior acontece e Lúcifer anda novamente pela Terra. Os irmãos querem pará-lo, afinal, a culpa é deles de o tinhoso ter saído do inferno em primeiro lugar, mas não sabem como.

Este é praticamente o capítulo final original, então vou dedicar mais tempo a ele. Cara, é o Apocalipse. O negócio é feio na Bíblia, nos álbuns de metal e na opinião da maioria das pessoas. Mas não é que essa temporada é justamente a mais leve de todas? Não existem grandes mistérios ou tensão durante a temporada; está praticamente tudo revelado. A violência cai muito, quase não há mortes se comparado às outras temporadas, os episódios não têm criaturas sombrias e por aí vai.

Seria muito difícil representar os quatro cavaleiros do apocalipse e Lúcifer com os recursos de uma série de TV, mas mesmo assim, é impossível não pensar que eles poderiam ter sido muito mais criativos com os recursos que tinham. Outra coisa que não faz sentido é que esses personagens precisem ser apresentados ao público com formas humanas, o que gera situações estapafúrdias, como conversas bobas entre os cavaleiros com os Winchester. Um dos melhores episódios dessa temporada é quando a Morte é invocada por Lúcifer, justamente porque ela não aparece em sua forma humana e causa muito mais tensão do que qualquer outra aparição que ela ou qualquer outro monstro tenha feito.

Lúcifer, ao contrário, devido às próprias regras da série, deveria ter um corpo humano para sair andando por aí, mas mesmo assim o ator Mark Pellegrino não convence. Já Jared Padalecki o interpreta um pouco melhor, mas nada sensacional também. Outra coisa que incomoda é a tosquíssima “batalha” entre Miguel e Lúcifer, por exemplo. Sabemos que um monte de gente vai morrer com essa luta, mas eles colocam os anjos para conversarem a respeito de seus problemas pessoais! Fuckin’ fuck, mil vezes fuckin’ fuck!

A parte de ação mesmo é muito menor do que você esperaria em uma temporada que relata o Apocalipse. A 4° temporada dá impressão de que muito mais coisa ruim está acontecendo com a Lilith quebrando os 66 selos (e os personagens parecem muito mais preocupados com isso também). Ok, a ideia inicial era ter um Apocalipse por debaixo dos panos, tentando representar o mundo em que nós vivemos, sem ninguém saber o que está acontecendo. Mas do que adianta se a temporada não consegue passar ódio, sadismo, violência e medo com o mundo que vivemos hoje?

Outro aspecto utilizado pelos roteiristas para criar um desconforto em relação ao Apocalipse, embora isso não tenha funcionado, é que essa é a temporada mais engraçada de todas. Não é à toa que ela tem um episódio que mostra como seria Supernatural se a série fosse uma sitcom. Bobo, mas muito legal!

Também não gosto da salada mista que começou aqui, como em um episódio que utiliza deuses nórdicos, egípcios e outros da antiguidade em um episódio sem quase nenhuma importância e desmerecendo-os totalmente. Se Supernatural fosse uma série de humor nonsense, seria mais do que aceitável mas, apesar de tudo, este ainda é um programa de TV “sério” e colocar deuses antigos em um restaurante com o único propósito de comer seres humanos (!) é bastante ridículo.

Como final original, a quinta temporada é bem fraca e eu não consigo deixar de pensar que Lúcifer deveria ter tido mais tempo de tela e ter sido o vilão de duas temporadas, assim como os vilões anteriores (Azazel e Lilith). A resenha poderia acabar em mais um parágrafo, porém, contudo, todavia, a Warner resolveu fazer mais temporadas para manter a lucratividade e assassinar de vez o que era um excelente programa de TV. Vamos a elas.

6º e 7º Temporadas, as mal amadas – Nota: 0,5

Se você não gostou da salada mista da quinta, pode ter certeza que vai ter problemas com estas. Em uma tentativa de renovar a série, a sexta temporada atira para todos os lados: coloca Dean vivendo em uma família normal, traz de volta o avô chato e desnecessário dos Winchester, volta às lutas contra os monstros comuns e com chefões ridiculamente nomeados de Alfas, cria um novo vilão ultrapoderoso (a Eva), apresenta o purgatório, transforma Castiel em um anjo pilantra, tira a alma de Sam, coloca novamente… é tudo tão rocambolesco que é impossível levar a sério.

Castiel, após uma sequência de erros cometidos por ter mudado sua forma de pensar devido aos acontecimentos da quinta temporada, absorve todas as almas do purgatório e se proclama um novo Deus. Decisão arriscadíssima dos produtores, difícil de desenvolver no roteiro, mas também a coisa mais interessante da série desde o último episódio da quarta temporada. O problema é que eles não tiveram bolas suficientes e resolveram voltar atrás no segundo episódio da 7º temporada, matando Castiel e criando uma nova raça de inimigos completamente sem graça que nós sabemos desde o começo que serão mortos pelo Winchester: os Leviatãs.

Sinceramente, foi nesse momento que perdi todo o respeito pela série, que se andava mal das pernas desde o começo da quinta temporada, pelo menos ainda mantinha um mínimo de discernimento e lógica nos episódios. Se é para criar uma trama nova e interessante ao final da sexta temporada, fazer os fãs esperarem meses para que ela continue e vê-la acabando um episódio depois, era melhor nem ter optado por isso.

Para segurarem o interesse dos fãs depois de todas essas péssimas decisões, eles decidiram matar o Bob, um dos principais personagens da série. E como é que essa sétima temporada termina? Com Dean preso no Purgatório, nada diferente de Dean preso no Inferno (final da terceira) ou Sam preso no Inferno com Lúcifer (final da quinta). E com tudo isso, decido não ver mais Supernatural até eu conseguir pegar todas as 120 estrelas verdes de Super Mario Galaxy 2.

VALE A PENA ASSISTIR?

Supernatural é uma série muito boa até a quarta temporada, praticamente perfeita até a segunda, mas eu recomendo assistir até a quinta, já que ela é o final natural da quarta e de toda a série. Ignore a sexta, a sétima e a próxima temporada, que dificilmente vai recuperar a qualidade das primeiras. Ok, você vai assistir a elas de qualquer jeito, mas considere-se avisado. 😉

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