Em 1985, pouco depois do tremendão De Volta Para o FuturoMichael J. Fox fez Teen Wolf, que aqui na terrinha levou o sofrível título O Garoto do Futuro. Por que falei isso? Porque Não Olhe, tema da crítica de hoje, me lembrou bastante este clássico da Sessão da Tarde.

CRÍTICA NÃO OLHE

Maria é uma moça tímida. Recatada até demais. Sua vida se resume a nunca satisfazer suas vontades. Um dia, seu reflexo fala com ela. A moça do espelho se chama Airam (sacou?). A princípio ela parece ser amiguinha e querer ajudar, mas logo seu plano se revela: Airam quer trocar de lugar com Maria, prendendo esta no espelho e assumindo sua vida.

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Reflexos são perigosos.

Airam, agora fora do espelho, é o oposto de Maria. Ela não tem filtro algum, e vive imediatamente suas vontades. Sacou a semelhança com O Garoto do Futuro? Pois se o Michael J. Fox em sua versão furry usou seu lado mais primal para ficar popular, Airam sai em uma cruzada de prazer e vingança.

ROTEIRO

A questão é que o roteiro é muito fraquinho, a começar pela sinopse. Para citar um exemplo, Maria é uma garota que sofre bullying físico no colégio. E isso é simplesmente inacreditável. Você consegue imaginar um homem agredir fisicamente uma mulher em público, na frente de colegas e professores? Na vida real, ou em um filme com bom roteiro, este sujeito não seria expulso, seria preso. Mas o roteirista e diretor Assaf Bernstein quer que a gente aceite que a escola inteira ficaria assistindo à agressão e gargalhando, sem fazer nada.

Não Olhe, Crítica Não Olhe, Assaf Bernstein, DelfosBullying existe e é um problema sério. Admito que só vi acontecer bullying de homens contra homens na minha época de escola, mas um filme poderia ter humilhação inter-gêneros, se isso fosse importante para a história. Mas agressão física entre homem e mulher em público sem repercussões não é aceitável. Não por ser tabu, e portanto não poder ser abordado. Pelo contrário. A questão é que, da forma que o filme mostra, este bullying sem repercussões acaba sendo mais fantasioso do que o reflexo do espelho criar vida.

Este é só um exemplo de uma cena realmente muito mal escrita, mas infelizmente o roteiro tem várias delas que não convém citar por conta de spoilers. E tudo culmina em um final que você precisaria ser muito gentil para chamar de “resolução”.

A GAROTA DO FUTURO

Acaba valendo pela curiosidade da coisa toda. Esta é uma história que já foi bastante abordada no cinema (como nos famosos longas de troca de personalidade). Porém, costuma ser contada apenas em comédias. Eu estaria interessado em ver uma interpretação mais trevosa para o tema, mas para me convencer precisaria ter um roteiro melhor desenvolvido do que o de Não Olhe.