Permita-me começar esta crítica Halloween Ends deixando claro que este é o novo título do filme anteriormente conhecido aqui – e somente aqui no DELFOS – como Halloween Kills Again! In Space! Para surpresa de todos, ninguém vai para o espaço e o assassino não se chama Halloween. Mas será o benedito?

Crítica Halloween Ends, Halloween Ends, Halloween, Slasher, Michael Myers, DelfosCRÍTICA HALLOWEEN ENDS E O BENEDITO

Após um início aparentemente independente de toda a série, e que pode ser descrito como um bom curta de terror, a história começa. E mostra que aquele começo não era tão independente quanto parecia.

Halloween Ends demora MUITO para começar. Tanto, aliás, que estou avisando antes para você ter uma chance de parar de ler antes da sinopse, que acaba acontecendo só lá na metade do filme. Durante boa parte da primeira metade, Halloween Ends parece basicamente “a vida pós-Michael Myers“, com Laurie Strode (Jamie Lee Curtis) e sua neta seguindo em frente depois de terem, aparentemente, dado cabo de vez de um dos vilões da santíssima trindade slasher.

Sem exagero, tanto tempo do filme é gasto mostrando a rotina da família, apresentando outros personagens e coisas do tipo, que eu sinceramente achei que Halloween Ends era apenas um epílogo. Mas eventualmente ele vira um slasher. Então agora vem a sinopse, e sua chance de parar de ler e voltar depois de assistir.

O BENEDITO CHEGOU!

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Dá um beijinho, irmãzinha! A Leia deu no Luke, afinal de contas!

Michael Myers, o famoso assassino mascarado de Halloween, só aparece aqui – e muito brevemente, depois de cerca de uma hora de filme. Acontece que a história é outra. O foco aqui é em Corey (Rohan Campbell), um pária da cidade. A família Strode, principal vítima dos massacres que assombraram a história do lugar, sentem compaixão dele e se aproximam. Logo, Corey começa a namorar a neta de Laurie.

O que elas não esperavam – ou até esperavam, mas não queriam acreditar – é que ele tivesse um lado sombrio. E não é que o Benedito acaba virando um padawan do Michael Myers e começa a matar todo mundo que o antagoniza? É exatamente aí que Halloween Ends subverte novamente as expectativas. Não só o vilão principal não é Michael Myers, mas também pelo tratamento que dá ao assassino.

CRÍTICA HALLOWEEN ENDS: FORA DAS SOMBRAS

Corey é um personagem desenvolvido. Você o vê em dúzias de cenas não assustadoras. Conhece a sua relação com a netinha Strode, com a própria mãe, no seu trabalho adulto. E ele é sempre mostrado de forma iluminada, como qualquer outro personagem. Em nenhum momento você tem dúvidas de que ele é o assassino (ele é mostrado cometendo os crimes). Mas é suficientemente desenvolvido para ser um personagem além da “personificação do mal” que estamos acostumados nestes filmes, como o Jason Voorhees ou o próprio Michael Myers.

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Não importa que você é meu irmão. Não é não, Michael!

Isso aproxima Halloween Ends de histórias bastante diferentes, como Dexter. O assassino serial mais famoso da TV é apresentado de forma mais relacionável (é o protagonista, não o vilão, afinal de contas). Porém, é legal ver o assassino de um slasher apresentado mesmo fora de cenas de morte, em outros contextos.

SUBVERTENDO AS EXPECTATIVAS

O legal é que Halloween (1978) foi um dos principais responsáveis – senão o principal – pela popularização das regras do slasher. Aquela fórmula que seria exaustivamente repetida por tantos filmes que seguiram em seus passos nos próximos 30 ou 40 anos. Fórmula que já foi transformada em comédia metalinguística (Pânico) ou mesmo cujas motivações e simbolismos já foram analisados e dissecados tantas vezes (Behind The Mask, O Segredo da Cabana).

Assim, acho muito legal ver que a própria série Halloween está terminando (será?) com dois filmes que tentam apresentar novos caminhos para o gênero. É apropriado, de certa forma. Uma série que mudou a cara e a narrativa do cinema de terror tenta mostrar outros jeitos de se manter no gênero após a fórmula passar a dar fortes sinais de desgaste.

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Quem disse que não é não? Meu presidente diz que é questão de “merecimento”.

Com isso, não quero dizer que Halloween Ends, nem Halloween Kills, são tremendos filmes, destinados a terem a mesma importância que a origem da franquia, aquela dirigida por John Carpenter antes de eu nascer. Mas quero sim, deixar claro, que admiro muito a coragem de ver a série de slasher original arriscando novos caminhos, tentando fazer algo diferente, e fazendo isso sem sair do gênero que ajudou a criar. Como fã de slashers, mas plenamente ciente que é um gênero cansado, admiro muito essa atitude.

CRÍTICA HALLOWEEN ENDS: LEVANDO O SLASHER PARA O FUTURO

Sexta-Feira 13 mais recente ou o remake de A Hora do Pesadelo não tiveram essa ousadia, se mantendo confortavelmente dentro das fórmulas e repetindo cenas que as próprias séries já fizeram antes. Ou seja, apelaram à nostalgia, enquanto Halloween tenta avançar, não apenas repetir o que já fez. Independente do resultado – Sexta-Feira 13 de 2009 ainda é mais legal que Halloween Ends – essa ousadia é digna de nota. E de admiração.

Quando percebi que Halloween Ends iria além de “mais um Halloween“, mas também que seria um filme completo, e não apenas um epílogo, passei a curti-lo bem mais. No saldo geral, a primeira hora é bem fraca, mas a segunda é intrigante e divertida. Se realmente for o fim de Halloween, é um final digno. Certamente superior ao que eu esperava.

CURIOSIDADE

  • No último sábado, 8 de outubro, fui ao show do Helloween com Hammerfall em São Paulo. Na segunda seguinte, dia 10, fui assistir a Halloween Ends. Definitivamente estamos em outubro.
  • Ei, Shavian, já que Halloween é sua série slasher preferida, aguardo seu comentário, pois faz tempo que não comenta. E, se você não se chama Shavian, comente também. Quem sabe eu não chamo você um dia num texto futuro?

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