É uma coisa curiosa, mas da santíssima trindade dos slashers, e apesar de ser o primeiro e o que iniciou boa parte dos clichês que seriam reutilizados ao longo dos próximos 20 anos, Halloween é o mais chatinho. E é também o que mais tem filmes. É um raro caso de série que teve reboot, o reboot ganhou continuação, e daí voltaram à cronologia original. Esta é nossa crítica Halloween Kills.

CRÍTICA HALLOWEEN KILLS: AAAAH! IT’S HALLOWEEN! TONIGHT!

Halloween Kills é a continuação direta de Halloween (2018). Não confundir com Halloween (1978), do qual o Halloween de 2018 é uma continuação direta. Confuso não? Lembra quando os filmes usavam nomes como RockyRocky IIRocky III? Saudades. Mas enfim…

Crítica Halloween Kills, Halloween, Halloween Kills, Michael Myers, DelfosSabe o que é curioso? Eu sinceramente não tinha nenhum registro de que o Halloween de 2018 existia, e a princípio estranhei Halloween Kills começar “pela metade”. Daí, uma frase lá no meio do filme me fez lembrar… Peraí, eu assisti ao Halloween de 2018! E, se eu o fiz, provavelmente o resenhei. Uma busca aqui no DELFOS retornou apenas a minha resenha de Halloween 2, de 2010. Sei lá em que situação, causa ou circunstância eu vi o de 2018 então. Mas eu vi, e aos poucos minhas memórias dele foram voltando.

Halloween Kills é direto ao extremo. Ele começa com a Laurie (Jamie Lee Curtis) sendo levada ao hospital para uma cirurgia, crente que finalmente matou o maledeto Michael Myers. Enquanto ela está grogue, ainda feliz pela sua vitória, o resto da cidade tem que lidar com a verdade. Myers não morreu. E está matando de novo!

MASQUERADE, MASQUERADE, GRAB YOUR MASK AND DON’T BE LATE!

E aqui é onde o filme subverte as expectativas. Tradicionalmente, no gênero slasher, popularizado orgulhosamente pelo próprio Halloween de 1978, o assassino passa o filme matando adolescentes bonitos, roqueiros, tarados e emaconhados. Aqui, diante da falha do sistema em capturar e punir Michael ao longo de mais de 40 anos de crimes, a sociedade diz chega! Eles pegam forcados, bastões e vão à caça. E a presa se chama Michael Myers.

Obviamente, isso não significa que Myers seja a vítima. Longe disso, aliás. Mesmo a cidadezinha estando preparada, e ativamente o caçando, ele mata geral. E de formas extremamente violentas e explícitas, especialmente para os tradicionais padrões teen de um slasher.

O bacana é como isso inverte os clichês que a própria série criou. Michael não ataca adolescentes cujo único crime é querer dar umas bimbadas. Suas vítimas não são mais indefesas. Só um tanto burrinhas. E obviamente, não existe aqui a tal figura mítica da “final girl“, a jovem virgem e inocente, que é a única que realmente tem chance de sobreviver. Você sabe, o papel que a própria Jamie Lee Curtis imortalizou lá em 1978.

Eventualmente, a raiva da cidade, que não por acaso usa forcados como armas, acaba vitimando pessoas que nada têm a ver com Myers. E a polícia, meio perdida, fica sem saber como reagir. Afinal, nenhum cidadão pode assumir a justiça com as próprias mãos e executar alguém, mesmo que seja um assassino cruel.

SOMEONE’S SITTING IN A FIELD, NEVER GIVING YIELD

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E sabe, enquanto escrevia as linhas acima, comecei a pensar “que legal! Eu quero ver este filme”. Este filme, no entanto, não é Halloween Kills. Apesar de ser verdade que todo o descrito está de fato no longa, minhas linhas podem causar expectativas que não refletem a realidade.

Em outras palavras, essas ideias estão lá. Elas só não são especialmente bem elaboradas. Na prática, Halloween Kills é um slasher onde as vítimas são pessoas mais velhas do que o tradicional. A própria Jamie Lee Curtis, principal ligação com o clássico de 1978, aparece muito pouco, já que ela passa o filme em pós-operatório.

Além disso, Halloween Kills também sofre com a síndrome da trilogia. Claro, Halloween a essa altura deve ser uma trilogia em 20 partes. Porém, Halloween (2018), Halloween Kills (2021) e o vindouro Halloween Kills Again! In Space! (2024) claramente foram pensados como uma trilogia que tem o objetivo de encerrar a história original. O problema é que dava para essa história ser encerrada aqui mesmo, mas claro, Hollywood sempre quer três, mesmo que o segundo seja na verdade o vigésimo. E isso faz com que o filme termine, mas logo em seguida ele não termine mais. Assim deixa um gancho para continuar em Halloween Kills Again! In Space!.

Halloween Kills até funciona em sua proposta de subverter as expectativas, mas a verdade é que poderia levar a discussão que propõe de forma bem mais aprofundada e interessante. Mas, no final das contas, opta por ser apenas um slasher da terceira idade. O que, por si só, é uma boa definição da franquia Halloween.