Terapia de Risco

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Faz só cinco míseros meses desde que o Daniel foi obrigado a ignorar seus instintos masculinos para assistir e avaliar Magic Mike, e já tem outro filme do Steven Soderbergh chegando aos cinemas. O cara não é de ficar parado. Por isso fiquei surpresa quando ele disse que agora está se aposentando. Será que Terapia de Risco é mesmo o último filme do diretor mais rápido e mais prolífico da atualidade? Ou será que aposentadoria no ritmo dele equivale a uns três ou quatro anos sem lançar nada? =P

Novamente pelas mãos de Scott Z. Burns, seu parceiro de O Desinformante e Contágio, aqui temos mais uma história focada no drama pessoal do protagonista, mas emoldurada por um conflito maior e generalizado. Nesse caso, fala-se de quão comum e “na moda” o uso de medicamentos controlados se tornou, através de Emily, uma moça que sofre de depressão e vai precisar da ajuda de um psiquiatra, pois seu marido Martin está saindo da prisão e ela quer estar bem para recebê-lo. Depois de tentar muitos tipos de medicação sem sucesso, o charmoso Dr. Banks sugere que ela passe a usar um novo medicamento que acabou de chegar ao mercado. E esse parece finalmente funcionar, até que chegam os “efeitos colaterais”. Esse, por sinal, devia ser o nome do filme, mas acho que não puderam usá-lo por causa daquele filme de vingança do Governator.

Diferente do que os trailers indicavam, Terapia de Risco não é bem um drama psicológico, está mais para um thriller. E dos bons. Estilo Hitchcock mesmo. E como em todo thriller, quanto menos detalhes da história você souber, melhor. O que eu posso dizer é que a trama é muito bem construída, começando simples e cavando cada vez mais fundo, se complicando cada vez mais. Já fica subentendido (eu espero), que os plot twists existem, e dessa vez eles são usados de forma inteligente. Não simplesmente pelo efeito do susto, mas também para avançar a trama e empurrar os personagens em direções diferentes. O que é bom, para variar.

A princípio, Blake Lively estava cotada para o papel principal, mas trazer a Rooney Mara para seu lugar foi definitivamente um acerto. É impressionante como ela consegue convencer em todas as muitas emoções e estados de espírito pelos quais a personagem passeia. E a direção acaba contribuindo também, ajudando a deixar o clima pesado e a ilustrar as sensações quando Emily está deprimida, ou ansiosa, ou sob o efeito dos remédios.

Jude Law também está ótimo como o Dr. Banks, que consegue conquistar a sua simpatia e torcida mesmo que sua moral se mostre um tanto ambígua. Channing Tatum está até decente, mas não o suficiente para contracenar com a Rooney de igual para igual. A Catherine, por outro lado, sempre que aparece rouba a cena e te deixa intrigado.

AS CONTRA-INDICAÇÕES

E apesar de ser o grande fator que faz de Terapia de Risco um filme bom, o roteiro também é o responsável pelos maiores problemas. Do meio para o final, o filme se compromete em amarrar absolutamente todas as pontas, e dar respostas para todas as perguntas – até aquelas que provavelmente ninguém pensaria em fazer. Isso deixa o final um pouco cansativo e apressado, especialmente porque o início era levado num passo bastante calmo.

Outra coisa que me irritou foi a cena de abertura, uma daquelas já clássicas em que se mostra algo que acontece no meio da história para depois voltar ao começo e te deixar especulando como se chegou naquele ponto. Com exceção de alguns flashbacks, o filme é linear, então por que não mantê-lo assim? A apresentação dos personagens já é interessante por si só, aquela cena não faria falta nenhuma. Na verdade, ela até estraga um pouco o impacto da cena quando vem completa. É melhor não entrar em detalhes para evitar spoilers, mas se você assistir vai entender do que eu estou falando.

Por sorte isso não chega a prejudicar tanto. Terapia de Risco ainda é um suspense interessante e satisfatório. Pode não ficar na sua memória por muito tempo, mas enquanto ele estiver rolando você não vai sentir o tempo passar. Se for mesmo o último filme dele, terá sido uma boa despedida, mas eu torço para que não seja.

CURIOSIDADE

– O próprio Soderbergh cuida da cinematografia e da edição da maioria de seus filmes, usando respectivamente os nomes de Peter Andrews e Mary Ann Bernard. Ou seja, ele faz o triplo do trabalho e ainda consegue lançar os filmes com meros meses de distância. Santo workaholic, Batman!

A OBRA SODERBERGHIANA

Para você ter ideia de quantos filmes o cara faz, olha só quantos deles têm resenha aqui no DELFOS:

Doze Homens e Outro Segredo – O original não teve sequências, mas o remake teve!

Treze Homens e um Novo Segredo – E ficou cada vez mais difícil nomeá-las em português.

Che & Che – A Guerrilha – Dois filmes, uma resenha.

Confissões de Uma Garota de Programa – Não, não é adaptação daquela série com a Billie Piper. Infelizmente.

O Desinformante – Outro dele que sofreu com os títulos nacionais.

Contágio – Parece que questões de saúde pública inspiram os melhores filmes dele.

A Toda Prova – Aquele que trouxe a lutadora de MMA Gina Carano para as telonas.

Magic Mike – E o drama sobre strippers masculinos (!).