Ruídos Delfianos: Elizabeth – O Ghost e a Condessa de Sangue

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A nação delfiana pediu, clamou, suplicou, e nós atendemos. Após duas muito bem-sucedidas edições de Ruídos Delfianos, eis que chegamos à terceira matéria da saga, e ela não podia ser mais assustadora. Tão assustadora que poderia muito bem ter entrado para o nosso Especial do Rock deste ano e feito par com a Lua de Cristal do Dream Theater.

E COM VOCÊS… GHOST

A música da vez é da banda mais falada dos últimos anos. Aquela banda que cresceu, apareceu e que mesmo tendo James Hetfield como fã ainda divide opiniões. É claro que eu estou falando do Ghost.

O Ghost, ou Ghost B.C., é conhecido por tratar de temas bastante sombrios em suas músicas, criando uma atmosfera tão intensa que é difícil não ficar levemente arrepiado. Com a música Elizabeth não é diferente. As dobras vocais que lembram os assustadores cânticos gregorianos e a levada arrastada da música são apenas uma parte do que ela traz. Porém, o que dá o toque especial é mesmo a letra, que não trata de demônios ou invocações, mas sim de uma pessoa real.

A ETERNAMENTE JOVEM ELIZABETH

Báthory Erzsébet, Erzsébet Báthory ou, em inglês claro, Elizabeth Bathory, foi uma condessa húngara que viveu entre 1560 e 1614. Pertencente à renomada família Báthory, se casou muito nova com o militar Ferenc Nádasdy, quando tinha por volta de 14 anos. Era conhecida por sua beleza e também era muito inteligente, sendo fluente em alemão, grego e latim.

“Sim, mas e daí? O que ela fez para estar em uma música do Ghost?” Calma, delfonauta, eu já ia chegar lá: ela é histórica e mundialmente conhecida por ser uma das primeiras assassinas em série de que se tem notícia. Famosa por seus atos de crueldade e por infligir os mais sádicos tipos de tortura, Elizabeth ganhou o simpático apelido de Condessa de Sangue.

A Condessa Drácula, como também se tornou conhecida, praticava suas maldades em seus criados. Apesar de na época ser normal o comportamento cruel da nobreza com a sua criadagem, Elizabeth sempre se destacou neste quesito, executando as mais diversas formas de tortura possíveis.

Quer exemplos? Espetar alfinetes em partes sensíveis do corpo, como nos mamilos ou embaixo das unhas. Ou então, o seu preferido para as tardes de inverno: despir uma criada e fazê-la andar sem roupa pela neve, enquanto jogava água fria na coitada para que ela morresse congelada. E é claro que por ter um marido militar ela também aprendeu alguns métodos de tortura com ele. Um deles era o de cobrir o corpo de uma criada com mel e esperar que os insetos a devorassem. Está achando ruim? Pois você sabe que o pior vem no parágrafo seguinte.

O apelido Condessa de Sangue não veio à toa, delfonauta. Como o próprio Papa Emeritus II canta na música, Elizabeth gostava mesmo era do sangue de camponesas e criadas virgens. Ela acreditava que o sangue de virgens rejuvenescia a pele e a deixaria eternamente jovem, e por isso um de seus maiores prazeres era beber e banhar-se nele.

Uma história clássica da Condessa, que não se sabe ao certo se é verídica ou não, diz respeito a como ela descobriu esse gosto pelo sangue. Uma cria, ao pentear os seus cabelos, puxou a escova com muita força e, para castigá-la, Elizabeth deu-lhe uma tremenda surra tão tremenda que fez a criada sangrar, e as gotas do sangue respingaram em sua mão. Foi ao fim desse espancamento que, limpando sua mão, Elizabeth percebeu que a área em que o sangue havia respingado estava mais clara, rejuvenescida.

É claro que Elizabeth não fazia isso tudo sozinha. Em 1604, seu marido morreu, e após isso ela começou a passar bastante tempo com Anna Darvula, que se tornou sua companheira de crime. Bissexual assumida, Anna era vista por muitos na época como uma bruxa e foi a principal estimuladora de Elizabeth, influenciando-a a cometer seus crimes. Quando ela morreu, em 1609, Elizabeth achou em Erszi Majorova sua nova amante.

A DERROCADA DE ELIZABETH

Foi após se envolver com Majorova que Elizabeth começou a cometer grandes deslizes. Até então, seus crimes apenas causavam burburinhos entre o povo, mas neste momento ela passou a matar e torturar jovens de sangue nobre. E foi devido a essa mudança brusca que Elizabeth foi levada a julgamento, junto com cinco cúmplices.

Duas delas, Helena Jo e Dorothea Szentes, foram condenadas à fogueira depois de terem seus dedos decepados. Outro foi Johannes Ujvary, também conhecido como Ficzko, que foi condenado a ter sua cabeça decepada e então ser mandado à fogueira (curioso, não?). Majorova também foi executada, e dos acusados apenas Katarina Beneczky escapou.

Mas e Elizabeth? Ela foi condenada a prisão perpétua e morreu após três anos presa. Sua prisão era uma câmara onde só havia uma janela, por onde passava comida e ar.

A CONDESSA DE SANGUE NA CULTURA POP

É claro que uma pessoa com uma história tão hedionda não seria esquecida em um canto empoeirado da História. Elizabeth morreu, mas seu nome ecoa até hoje pelo mundo afora, já tendo aparecido em diversos filmes e músicas ao longo dos anos.

Você sabia, por exemplo, que Elizabeth aparece em uma história de Buffy, a Caça-Vampiros? Ela aparece no conto “Die Blutgrafin”. Esta história faz parte do livro Tales of the Slayer Vol. 1, o primeiro volume de uma série de quatro livros que compõem o chamado Buffyverse. Ildikó, a caça-vampiros que está na ativa na época em que se passa o conto, se infiltra no castelo de Elizabeth para matar a Condessa, mas curiosamente acaba morrendo nas mãos de Bathory, terminando o conto sem saber se ela é uma vampira ou não.

Ela também influenciou a criação de Dracula, de Bram Stoker. A história de Elizabeth, assim como a do Príncipe Vlad III, o Empalador, foram as principais influências do famoso livro – que ganhou uma resenha delfiana que você pode conferir aqui.

Bathory também deixou sua marca nas telonas. Três grandes produções em que a Condessa de Sangue de fato é retratada são Countess Dracula, um filme alemão de 1970, The Countess, de 2009 e Bathory: Countess of Blood, de 2008. Além disso, Elizabeth também inspirou a criação de muitos personagens. Um deles foi a Rainha do Espelho interpretada por Monica Bellucci em Os Irmãos Grimm, em que a personagem necessita do sangue de doze virgens para recuperar sua juventude.

Outro que merece ser citado é O Albergue Parte II no qual uma mulher se banha no sangue de uma personagem aparentemente virgem em uma clara referência à Condessa.

E é claro que, no mundo da música, não foi só o Ghost quem homenageou a Condessa. A música Beauty Through Order, do Slayer, também foi inspirada em Elizabeth, assim como Countess Bathory, o maior sucesso comercial do Venom. O metal tupiniquim também possui seu representante nessas “homenagens”: a música Elizabathory, da banda Malefactor.

Mas existem bandas que foram ainda mais além. O Kamelot compôs uma série de três canções contando a história da Condessa: Elizabeth I: Mirror, Mirror, Elizabeth II: Requiem For The Innocent e Elizabeth III: Fall From Grace. E, como se não fosse o bastante, o Cradle Of Filth fez ainda mais. Cruelty and the Beast, o terceiro álbum da banda, é conceitual e conta a história da Senhora Bathory.

YOU’RE STILL ALIVE, ELIZABETH

Esta é só a terceira matéria de uma série que pode crescer ainda mais. Sendo assim, não deixe de dar sugestões e dicas para as próximas! Tem mais alguma música que você gostaria de ver por aqui? Diga o nome dela nos comentários e mantenha-se delfonado.