Vamos Fazer Cinema de Verdade?

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É publica e notória a ojeriza que Hollywood provoca nos críticos mais “exigentes”, intelectuais e pseudo-intelectuais. Mas o cinema ianque também é conhecido por ter dado ao mundo os maiores clássicos da historia – incluindo “o” clássico, Cidadão Kane. O que incomoda este seleto grupinho é o fato da referida meca cinematográfica tratar o assunto de maneira mercadológica. Mas, queiram essas pessoas ou não, a massa vai ao cinema para se divertir. É bom que haja filmes que façam pensar, mas se o cinema fosse feito só disso, uma aula de matemática não seria diferente da telona.

Enquanto um Clint Eastwood faz filmes com a alma, no Brasil, os diretores o fazem com o umbigo. Sabe como é: dinheiro público, total falta de compromisso com o retorno financeiro. E mais: o bom e velho ego se sente feliz e confortável.

Quando a Rede Globo se meteu a estúdio (quer dizer, estúdio que faz algo além de novelas), nossa produção virou linha de montagem. O senão da historia – afinal, sempre tem que ter um – é que, para cada Cidade de Deus, tem uma enxurrada de Os Normais. Mas, na verdade, isso é… normal. Quantidade é assim: até o Steven Seagal tem algo minimamente interessante no currículo. Ou A Força em Alerta é tão ruim quanto Difícil de Matar?

E assim, temos a Conspiração Filmes, com o arrasa-quarteirão (!) 2 Filhos de Francisco e o fenômeno (na falta de melhor adjetivo) Tropa de Elite, da Zazen Produções, que tem até uma forcinha dos famigerados irmãos Weinstein no orçamento.

Na época de eleger um representante tupiniquim para concorrer ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, aquela mentalidade ultrapassada foi incorporada na equipe designada para a tarefa. O Ano Em Que Meus Pais Saíram de Férias está longe de ser ruim. Mas parece que a palavra sucesso incomoda, e muito, por aqui. Lembra do Zé do Caixão? Lá pelos idos dos anos 60, o hoje globalizado Coffin Joe já era sabotado pelos “donos da bola”.

Recentemente, alguém andou dizendo que houve uma certa pressão para que escolhessem Tropa de Elite na “eleição” para concorrer ao Oscar – lembrando que os filmes enviados por outros países ainda passam pelo crivo dos membros da Academia. Não tenho a menor idéia do que aconteceu, mas não seria o que os estadunidenses chamam de lobby?

O fato é que o longa escolhido não “comoveu” os acadêmicos, como queriam que acontecesse, ficando de fora da cerimônia que premiou os melhores de 2007. Tropa de Elite foi criticado, taxado de fascista e mais um monte de besteiras (por “aquele” pessoal). Se a obra de José Padilha não causasse tanto furor, será que isso aconteceria? Até que provem o contrário, parece haver intenções obscuras. O próprio Cidade de Deus sofreu acusações parecidas, no caso, de glamourizar a bandidagem. Balela, como sempre.

Cinema é, para o infarto de alguns, indústria. Uma indústria com pitadas de arte. Talvez, a única pretensão salutar seja a de fazer filmes de qualidade, objetivando entreter, e não “pentelhar” o expectador. A Globo Filmes até deu uma arrancada, mas o resultado está aquém do amadurecimento necessário. Leva muito tempo para comparar nossa produção com a “deles”, mas abandonar certos hábitos já é um excelente começo.

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