Uma ode ao voto nulo

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“Vote consciente: não vote nulo”. Quantas vezes você já viu essa frase nas campanhas publicitárias do governo para estimular o brasileiro a votar? Milhares, certo? E, muitas vezes, a gente acaba aceitando o que vê na TV sem refletir sobre isso. Pois é, fazer você refletir nessas coisas é um dos meus objetivos com o DELFOS, principalmente com as Pensamentos Delfianos. Desnecessário dizer, então, que eu discordo completamente dessa frase – o que não significa, de forma alguma, que você tenha que concordar comigo.

Antes de mais nada, não seja um idiota e não interprete esta argumentação de forma errônea. Defender o voto nulo não é, de forma alguma, abrir mão deste direito, que é essencial e foi conquistado através de muita luta. Existem dois principais motivos para votar nulo e não são necessariamente interligados. O primeiro é você reconhecer que não entende o suficiente do assunto para exercer tamanho poder e, portanto, não está apto a assumir a responsabilidade que o acompanha. Isso é algo que você, e só você, pode decidir. O segundo motivo é externo e reflete uma insatisfação com os candidatos atuais. Vamos falar desse primeiro, pois acredito que será mais rápido.

Dizem por aí que, se mais da metade dos eleitores votar nulo, uma nova eleição será convocada. Ao escrever essa matéria, fiz uma extensa pesquisa sobre o assunto pesquisando materiais da grande mídia, conversei com advogados e pessoas especializadas na lei eleitoral e, aparentemente, não existe consenso quanto a isso, pois a lei é dúbia e depende da interpretação de quem a lê. Algumas pessoas dizem que sim, isso realmente acontece e que os candidatos são proibidos de se candidatarem novamente. Outros acreditam que a eleição acontece, mas não exista nenhuma lei que proíba os caras de se candidatarem de novo. Para acabar com essa confusão, finalmente o site oficial do Tribunal Superior Eleitoral foi atualizado e agora deixa claro que votos anulados pelo eleitor não gera nova eleição. A anulação da votação acontece apenas em alguns casos específicos, como fraude, por exemplo.

Ainda assim, acho ridículo alguém votar no “menos pior” ou em “qualquer um, pois é tudo igual”. O Brasil deveria ter uma lei eleitoral mais elaborada e possibilitar que o eleitor recuse os candidatos. Enquanto isso não acontece, não se sinta coagido a votar em alguém em quem você não acredita. Se nenhum dos candidatos atuais lhe apetece, vote nulo e “lave suas mãos” da escolha atual enquanto faz seu papel de cidadão tentando exigir uma lei mais apropriada e que, de preferência, não dê espaço para interpretações.

Na verdade, o paranóico em mim diria que essas propagandas babacas com o famoso “Vote consciente: não vote nulo” têm justamente como objetivo impedir que isso aconteça e, assim, manter o oligopólio que vigora em nosso país. Oligopólio sim, senhor. Ou você realmente acredita que temos mais do que dois presidenciáveis nessa eleição?

A exemplo dos EUA e seu bipartidarismo (republicanos e democratas), não vejo mais nenhum candidato com possibilidade de se eleger por aqui além do Alckmin e do Lula. Sinto até que é quase inútil votar em qualquer um dos outros. E não vou com a cara de nenhum dos dois. O primeiro abandonou o governo de São Paulo para satisfazer suas ambições mesquinhas e egoístas, o que prova que ele não tem capacidade, responsabilidade ou honestidade suficiente para levar suas obrigações até o fim. Já o outro… bem, acho que qualquer pessoa que tem lembranças de como o Brasil era há quatro anos vai concordar comigo que, se houve alguma mudança nesse tempo, não foi para melhor.

Claro que você pode discordar de mim e achar que um desses dois é a salvação do Brasil. Nesse caso, vai fundo. Vote em quem você acredita. Mas tenha certeza não apenas de suas propostas e de que ele vai cumpri-las, mas também exatamente de quais seriam as funções dos seus candidatos. O que me leva ao outro e principal motivo para esta defesa ao voto nulo.

O Brasil é um país de analfabetos políticos. Discorda de mim? Então quer dizer que você sabe quais são as funções exatas de um deputado? E a diferença entre um senador e um vereador? E não me venha com essa de responder apenas que são funções legislativas, pois a maior parte de nossos compatriotas não sabe nem quais são os três poderes. Diga-me, delfonauta, você ao menos sabe quantos deputados exercem o cargo ao mesmo tempo? Ou nem vamos pedir tanto, você sabe exatamente o que envolve o trabalho de um presidente? Ou o encara apenas como o líder de um país e responsável por todas as mudanças que ocorreram durante seu mandato? Ou ainda como uma “cara” do Brasil para os países estrangeiros?

Cara, se você não sabe a resposta para todas essas perguntas, eu diria que você tem apenas dois caminhos responsáveis para a próxima eleição: se abster votando nulo ou então se informar muito. E rápido, pois as eleições já estão aí. E lembre-se, voto nulo e branco NÃO são a mesma coisa. Se você deseja se abster, anule-o, NÃO VOTE BRANCO de forma alguma.

E não me entenda mal, não estou me colocando acima de ninguém aqui, pois, embora eu saiba algumas das respostas acima, não sei todas e também me considero um analfabeto político. A diferença é que, ao contrário da maior parte da população, tenho consciência de que, no momento, não tenho condições de exercer a imensa responsabilidade que é votar. Isso não significa que estou abrindo mão desse direito para sempre, pois algum dia posso vir a dominar o assunto e acho importante que eu tenha a OPÇÃO de votar.

“O voto é um direito e um dever”, ou pelo menos foi isso que eu aprendi na aula de Educação Moral e Cívica. Isso é ridículo. O voto não pode ser um DEVER, apenas um direito. Pois se for um dever, as pessoas vão acabar votando em qualquer um (já que TÊM que fazê-lo mesmo) e uma escolha errada nessa área pode afundar o nosso país de vez. Ou você nunca se deu conta da importância que aqueles dois minutos que você passa na urna terão para os quatro próximos anos da sua vida? Mas aparentemente os brasileiros não têm consciência disso, ou simplesmente não se importam em votar no candidato errado.

Por esse motivo, não consegui até hoje ver nenhum argumento válido na obrigatoriedade do voto, para começar que você obrigar alguém a exercer um direito político combina tanto com democracia quanto o serviço militar ou de mesário obrigatório. Pela simples mudança para o voto facultativo, garantiríamos que ao menos a maioria das pessoas que vão visitar as urnas estejam bem decididas sobre o que acreditam ser o melhor para o país e não que tenham ido até lá revoltadas por estarem perdendo um dia de praia e querendo sair logo dali, como acontece com a imensa maioria dos eleitores hoje em dia. Acredito que essa mudança afetaria nosso país mais do que qualquer outra medida política, pois isso faria com que as pessoas votassem por vontade própria, não pela obrigação de estar lá escolhendo o “menos pior”.

Por isso, amigo delfonauta, nas eleições desse ano, exerça sua cidadania. Pesquise, se informe, decida o que você considera o melhor para o país e vá votar informado, crente de que está fazendo o melhor para o nosso país. Ou se isso não for possível, abra mão do seu voto. Vote nulo e torça para que algum político algum dia seja sensato o suficiente para instituir o voto facultativo e, assim, garantir que apenas pessoas bem informadas e que levam esse direito a sério o exerçam. E por vontade própria. Enquanto aqueles sem opinião/informação/vontade podem simplesmente aproveitar seu domingo na praia.

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