Semana Excalibur – Rei Arthur

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A primeira vez que ouvi falar desse filme fiquei um pouco chocado. Afinal, ele se orgulhava de fazer uma abordagem realista da clássica história do Rei Arthur e os Cavaleiros da Távola Redonda. Ou seja, nada do feiticeiro Merlin, da bruxa Morgana, da profecia da espada na pedra, da Dama do Lago, enfim, iriam retirar tudo que tornava a história do Rei Arthur especial. E, se você tira toda a magia de uma história, ela fica uma história… bem… sem magia, ou seja sem encanto, sem o carisma da obra original.

Bom, alguns meses depois, os primeiros trailers começaram a aparecer e, como já estava conformado que não veria as coisas mais legais da história nesse filme, comecei até a gostar e ficar de certa forma ansioso para vê-lo. Ou seja, assim como quando fui ver o filme da Mulher-Gato, fui assistir a Rei Arthur como se fosse assistir a um épico qualquer, cujos personagens principais coincidentemente tinham o mesmo nome daquela fantasia que permeou toda minha infância. E, pensando assim, me diverti bastante durante a projeção.

A própria história é completamente diferente da clássica (nem o Perceval está no filme), sem nada de Santo Graal, artefato sempre relacionado de alguma forma à história do rei bretão. Aqui Arthur e seus fiéis cavaleiros são soldados (escravos?) de elite do império romano e estão em vias de conquistarem a tão sonhada liberdade. Resta apenas uma missão: escoltar uma família romana através de um perigoso território.

Os inimigos de Roma (que é a verdadeira vilã, afinal, dominava o mundo através da força, mais ou menos como os EUA fazem hoje) são os Saxões e os Woads, estes últimos liderados por um carinha que dizem ser um feiticeiro, chamado Merlin. Agora alguém me explica uma coisa: admito que pode ser ignorância da minha parte, mas sempre achei que saxões eram os bretões, ou seja, eles estavam apenas se defendendo do invasor (Roma). Então por que eles são retratados como os vilões do filme? E os tais de Woads? Não sei se foi erro da tradução, mas eu nunca ouvi falar desse povo. Que eles estavam fazendo na Bretanha e por que eles não são vilões como os Saxões, já que também são inimigos de Roma?

De furos, o roteiro está cheio. Além dos apontados acima (que podem não ser erros, apenas ignorância minha), simplesmente não fica claro o motivo de Arthur e seus cavaleiros lutarem contra os Saxões em nome de Roma DEPOIS de estarem livres, sendo que todos os cavaleiros, à exceção de Arthur, odiavam o império. E por que eles não param de gritar “Rus” o filme inteiro? Que diabos significa isso? Sem contar as malditas câmeras que ficam tremendo o tempo todo durante as batalhas (eu odeio, eu odeio, eu odeio câmeras tremendo!).

Os clichês também se fazem presentes. Próximo ao final do filme, os roteiristas decidiram seguir a velha fórmula do “vilão mata amiguinho do herói para deixar herói bravinho e tornar a luta final contra o vilão algo pessoal”. Creio que qualquer pessoa que admire a sétima arte não precise pensar muito para nomear ao menos uns cinco filme que se utilizam deste artifício em seu clímax. Mas verdade seja dita, uma das baixas nos cavaleiros realmente me surpreendeu, pois não imaginava que justamente este cavaleiro fosse morrer.

Qualidades também estão presentes no filme. O elenco, por exemplo, está bem legal, com atores com um visual bem apropriado para seus papéis – apesar de que o Lancelot e o Galahad são parecidos demais, passei o filme inteiro confundindo os dois. O figurino também está muito caprichado. O visual dos Saxões, em especial, está bem legal. E uma cena de batalha que acontece em cima do gelo é uma das mais emocionantes da história recente do cinema, muito melhor do que o próprio clímax do filme.

Uma outra coisa estranha é que muitos dos personagens foram completamente descaracterizados. Lancelot, por exemplo, passa boa parte do filme se vangloriando e fazendo piadas dando a entender que gostava de possuir a namorada/esposa de seus amigos, fato completamente contraditório ao Lancelot atormentado por sentir uma atração correspondida por Guinevere, a esposa de Arthur – um dos momentos mais conhecidos da história original. Inclusive, nada sobre esse romance entre os dois (Lancelot e Guinevere) é dito no filme. Digamos que tem um certo clima entre os dois nas entrelinhas, mas eu sou adepto da filosofia “se tem algo para dizer, diga, não fique dando indiretas”, então eu simplesmente ignoro isso, pois nada acontece de fato. Apenas para apontar outra diferença na história é o fato de Tristão, erroneamente colocado nas legendas como Tristan – seu nome em inglês (provavelmente o tradutor não leu o livro) – não tem sua Isolda, romance tão famoso que gerou até um livro spin-off.

Enfim, Rei Arthur é legal, mas já que optaram por tirar toda a magia da história, também deveriam ter optado por dar nomes diferentes para os personagens e torná-lo um épico genérico, pois é isso que o filme é. Um bom épico genérico, mas nada além disso.

A semana Excalibur está apenas começando. Mais quatro resenhas surpresas serão publicadas. Não deixe de acompanhar!

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