Blade Runner 2049 chegou essa semana aos nossos cinemas. O lançamento da sequência de um dos grandes clássicos da ficção científica é momento mais que propício para aproveitar o timing e rever o filme original antes de pegar uma sessão do novo.

Como uma das películas mais influentes e cultuadas do cinema moderno, o Blade Runner – O Caçador de Andróides de Ridley Scott ganhou essa reputação e seu reconhecimento com o teste do tempo. Quando foi lançado em 1982 as coisas não foram bem assim. O estúdio (no caso, a Warner) fez exibições teste e não ficou feliz com o feedback recebido.

Algo que resultou em uma série de alterações na montagem que iam contra a visão original do diretor. As mais notáveis: um final feliz e a inclusão de uma narração em over por Harrison Ford completamente redundante porque aparentemente, sem ela a plateia não entenderia a trama direito…

À medida em que os anos iam passando e o filme ia sendo redescoberto, ganhando respeito da crítica e aclamação dos cinéfilos, passou a ganhar novas versões com algumas diferenças importantes entre elas. De fato, Blade Runner talvez seja um dos filmes que mais versões diferentes possua. Oficialmente, ele contabiliza nada menos que sete versões distintas, ainda que nem todas tenham sido lançadas de maneira oficial pelo estúdio.

Aí você se pergunta: “qual delas devo assistir antes de ver o novo longa?” E eu respondo: “não priemos cânico, nessa matéria falarei de cada uma delas e ao final você terá sua resposta”. Ah, para quem não viu o longa original, spoilers pipocarão a partir deste ponto. Mas ei, estamos falando de um filme lançado no ano em que eu nasci! Acho que o estatuto já prescreveu. Então, comecemos.

Delfos, Blade Runner

A CÓPIA DE SERVIÇO

Esta é a versão exibida para audiências-teste em Denver e Dallas em março de 1982, antes do lançamento oficial nos cinemas. Com 113 minutos de duração, era muito próxima da visão de Ridley Scott, embora claramente justifique seu nome como cópia de serviço, pois não é uma versão finalizada. Não tinha créditos finais, por exemplo.

Mas foram seus maus resultados nessas exibições-teste que causaram as mudanças forçadas pelo estúdio que deram origem a essa farra de múltiplas versões que pipocariam ainda no mesmo ano e também pelos anos seguintes.

Esta versão teria sido redescoberta em 1989 e exibida em alguns festivais de cinema, até que ela foi distribuída em 1990 e 1991 em cinemas de Los Angeles e São Francisco como uma “versão do diretor”, só que com um pequeno detalhe: sem a aprovação de Ridley Scott! Desta vez, contudo, a reação do público a essa variante foi positiva, o que levou o estúdio a procurar Ridley para que ele montasse sua versão oficial do diretor, como veremos mais à frente.

VERSÃO DA PRÉVIA DE SAN DIEGO

Já este corte teria sido exibido apenas numa prévia especial na cidade de San Diego em maio de 1982. Ele seria praticamente idêntico à versão original de cinema dos EUA, com a exceção de incluir três cenas a mais, que não haviam sido exibidas antes e nem teriam entrado em novas versões posteriores. Infelizmente, há pouca informação sobre essa versão e não consegui descobrir que cenas seriam essas.

VERSÃO DE CINEMA DOS EUA

Obviamente, esta é a versão que foi lançada oficialmente nos cinemas estadunidenses em 25 de junho de 1982 com 116 minutos de duração. Ou, a primeira versão oficial do filme, se preferir.

Delfos, Blade Runner

Você também pode chamá-la de o corte onde o estúdio meteu a mão. Após os resultados ruins nos testes de audiência com a cópia de serviço lá de cima, os executivos decidiram por algumas mudanças na obra.

As mais famosas: a narração de Harrison Ford (que o ator gravou muito a contragosto). E dar um final feliz para a bagaça, com Deckard e Rachael (Sean Young) fugindo de carro para o campo, com tomadas aéreas do carro na estrada em meio à natureza, que nada mais são que sobras de filmagem da sequência de abertura de O Iluminado (1980), de Stanley Kubrick, reutilizadas.

Claro que quando o filme foi redescoberto, essa versão passou a ser muito malhada justamente pela narração supérflua, que atrapalha o clima do filme, e obviamente pelo final que vai contra toda a construção narrativa.

À época foi lançada em Betamax e VHS em 1983, mas depois disso passou muitos anos fora de catálogo em home video até ser lançada como parte do box com cinco discos da Ultimate Edition do filme lançada em DVD em 2007.

Delfos, Blade Runner

VERSÃO DE CINEMA INTERNACIONAL

O corte internacional conta com um minuto a mais, totalizando 117, e é praticamente a mesma versão do lançamento nos cinemas estadunidenses, com a inserção de detalhes mais violentos em três cenas que foram cortados da versão estadunidense pela censura.

Esta versão também é conhecida como Criterion Edition, ou “versão sem cortes”. A Warner a lançou na Europa, Austrália e Ásia em laserdisc (quem aí lembra desse formato?). Posteriormente, ela também foi lançada na América do Norte em VHS e laserdisc e relançada em 1992, rebatizada como “Edição de 10o Aniversário”.

VERSÃO PARA TRANSMISSÃO NOS EUA

Lançada em 1986 e cortada para 114 minutos de duração. Basicamente é a versão de cinema dos EUA editada para ser transmitida na televisão, pela rede CBS. Partes mais violentas, nudez e palavrões foram cortados e/ou amenizados com o intuito de se encaixarem nos padrões de transmissão da TV aberta de lá.

A VERSÃO DO DIRETOR

Delfos, Blade RunnerDepois que a cópia de serviço voltou a circular no início dos anos 90 com uma boa repercussão, sendo chamada até de “versão do diretor”, mesmo não sendo, isso inspirou a Warner a fazer a sua versão oficial de director’s cut em 1992.

Ridley Scott foi envolvido no projeto, ainda que mais uma vez ele não tivesse controle total da coisa, mas ele aproveitou a chance. Com 116 minutos de duração, Scott fez três grandes mudanças em relação à versão de cinema.

A primeira: retirou todas as narrações. A segunda e uma das mais importantes: incluiu a famigerada cena do sonho com o unicórnio, uma cena chave para a interpretação de que o próprio Deckard seria um replicante. E, por fim, removeu o final feliz.

Essa versão do diretor foi lançada em VHS e laserdisc em 1993 e em DVD em 1997. Por conta disso, quem assistiu ao filme no Brasil em disco digital, provavelmente assistiu a esta montagem. Ela também fez parte da Ultimate Edition com cinco discos.

O CORTE FINAL

Lançado em 2007 e também chamado de Edição de 25o Aniversário, a Warner fez um lançamento limitado em salas de cinema e logo depois lançou essa versão em DVD, HD DVD e Blu Ray.

Dessa vez Scott finalmente teve controle total do projeto. Trata-se de uma versão restaurada do filme, com som e imagem remasterizados seguindo as especificações do cineasta e um projeto para lançamento em box set com as versões anteriores de cinema e da versão do diretor do filme e material adicional, como documentários e featurettes, como a Ultimate Edition que eu já havia comentado antes.

Quanto a essa versão do longa em si, trata-se da versão do diretor com a sequência do unicórnio estendida e as cenas de violência da versão de cinema internacional reinseridas, totalizando todo um minuto inteiro a mais (uau!) em relação à versão do diretor.

Logo, se você quer assistir à visão mais próxima do que Ridley Scott pretendia, esta é a pedida. E até por ser a versão mais recente, é a mais facilmente encontrável, incluindo-se aí uma rápida viagem à Argentina.

Delfos, Blade Runner

Pronto, agora você já sabe tudo que há para saber a respeito das diferentes montagens de Blade Runner – O Caçador de Andróides. Basta então escolher a que lhe apetece mais, dar o play e curtir uma das ficções científicas mais famosas do cinema. Bom divertimento.