Expresso do Amanhã

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Eu diria que Expresso do Amanhã é um filme de alto interesse nerd. Afinal, ele é o primeiro longa em língua inglesa do diretor sul-coreano Bong Joon Ho, do tremendão O Hospedeiro (2006), além de ser uma ficção científica cheia de cenas de ação baseada numa graphic novel francesa. Ah, e também é estrelada pelo Capitão América.

E mesmo assim, demorou uma eternidade para chegar aos nossos cinemas. Mas, para aqueles abnegados que ainda não o conferiram na Argentina, chegou a hora de vê-lo numa sala de exibição tupiniquim. Afinal, antes tarde do que nunca para conferir mais um bom longa com premissa pós-apocalíptica.

Desta vez o planeta congela e se torna inabitável. A humanidade é praticamente extinta e os poucos sobreviventes se refugiam a bordo de um gigantesco trem que corre numa ferrovia que dá a volta ao mundo. Mas, como dita todo exemplar do gênero, não há desgraça natural ou não que os humanos não consigam arranjar um jeitinho de piorar ainda mais.

Acontece que o sistema de classes é instituído dentro do trem. Assim, os bacanas desfrutam de todo o luxo e conforto dos vagões da frente, enquanto a ralé é explorada e oprimida nos miseráveis vagões de trás. Pois o Chris Evans não vai tolerar isso e lidera uma revolta com o intuito de melhorar as condições do pessoal do fundão, bem como chegar até a locomotiva e bater um papinho com o sujeito que criou a bagaça.

Apesar do enredo meio sem noção – afinal, o trem está rodando sem parar há 18 anos e aparentemente nunca uma seção dos trilhos quebrou – até que o negócio funciona legal e de forma estilosa, com uma progressão no melhor estilo videogame das antigas. Basicamente, Chris Evans e sua turma vão andando sempre para frente, com cada vagão por onde eles passam representando uma fase com inimigos e desafios diferentes, até chegar à locomotiva e ao chefão final.

As cenas de luta são legais e muito bem coreografadas, filmadas com muito estilo, tornando a pancadaria um balé encenado no espaço confinado dos vagões. Só é pena que não haja tantas dessas cenas assim, mas quando elas acontecem, sem dúvida acabam por ser o ponto alto da película.

Quando investe mais na história, entrando na questão da luta de classes e na justificativa de que todo mundo tem seu lugar pré-ordenado, assuntos esses tratados de forma rasa, acaba dando uma esfriada no ritmo. Embora a evolução pelos vagões, mostrando os diferentes ambientes e como tudo foi adaptado para tornar o trem um ambiente autossuficiente, deixa as coisas mais interessantes. Desde que, é claro, você compre a ideia da trama e não ligue para os muitos absurdos da história.

Expresso do Amanhã é uma boa ficção científica que conta com um elenco afinado e tem um visual e cenas de ação deveras caprichados. Infelizmente, o resto do filme não está no mesmo nível, mas ainda assim resulta num longa divertido que merece uma assistida por parte dos fãs da boa e velha sci-fi. Se você se encaixa nessa categoria, vai fundo.

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Nota
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Carlos Cyrino
Formado em cinema (FAAP) e jornalismo (PUC-SP), também é escritor com um romance publicado (Espaços Desabitados, 2010) e muitos outros na gaveta esperando pela luz do dia. Além disso, trabalha com audiovisual. Adora filmes, HQs, livros e rock da vertente mais alternativa. Fez parte do DELFOS de 2005 a 2019.
expresso-do-amanhaPaís: Coreia do Sul / República Checa / EUA / França<br> Ano: 2013<br> Gênero: Ficção Científica<br> Duração: 126 minutos<br> Roteiro: Bong Joon Ho e Kelly Masterson<br> Elenco: Chris Evans, Jamie Bell, Tilda Swinton, Ed Harris, John Hurt, Octavia Spencer e Ewen Bremner.<br> Diretor: Bong Joon Ho<br> Distribuidor: PlayArte<br>