Adeus à Linguagem

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Jean-Luc Godard é um dos maiores expoentes da nouvelle vague francesa, ao lado de outros nomes proeminentes, como François Truffaut, Alain Resnais, Claude Chabrol, dentre outros. Muitos deles eram críticos de cinema que decidiram passar para o outro lado e subverter as regras do chamado cinema comercial.

Godard foi um dos mais transgressores, cooptando elementos do cinema hollywoodiano e misturando-os à cultura e estética francesa e se utilizando de uma montagem inovadora para a época, toda picotada e que desestabilizava a noção de tempo e espaço para o espectador.

Posto isso, também é preciso dizer que seus filmes costumam ser chatos pra caramba e eu costumava dormir sem a menor cerimônia toda vez que um deles era exibido quando eu estava na faculdade de cinema. Quando terminei o curso, achei que nunca mais precisaria ver uma de suas obras. Porém, os anos se passaram e agora nos encontramos novamente.

Adeus à Linguagem, que chega agora aos nossos cinemas, tem apenas 70 minutos. Mas por tudo que é mais profano, foram alguns dos 70 minutos mais longos de minha vida. Pois é, os anos passaram e o cara continua mala pra caramba. Sem dizer pretensioso.

A trama, se é que há uma (ok, a realidade é que não há) gira em torno de um casal que fica falando umas bobagens pseudofilosóficas, fazem nu frontal, falam mais umas besteiradas de efeito e por aí vai. Fiquei com a impressão de que todo mundo no filme falava frases desconexas só para provar que absolutamente qualquer coisa falada em francês ganha ares dramáticos e cabeça. Ah, tem também um cachorro que fica andando pra lá e pra cá, mas ele não fala nada de cunho político-existencialista, porque, afinal, ele é um cachorro.

Com uma imagem de qualidade de VHS com cores por vezes supersaturadas e um roteiro sem fio narrativo, parecendo mais uma sucessão de pequenas esquetes com temáticas que só o diretor entende, é o tipo de filme dito “de arte” para fazer a alegria da galera metida a intelectual e que gosta de tentar explicar o que o diretor quis dizer com aquela tomada da plantinha balançando na brisa.

Eu só sei que depois que a contraparte masculina do casal aparece filosofando sentado no trono de porcelana (com direito a efeitos sonoros), minha mente imediatamente começou a passar outro filme na minha cabeça. E depois que o truta novamente aparece sentado na privada passando um fax, o Cine Cyrino automaticamente exibiu este aqui no meu cérebro.

Em suma, não consigo imaginar alguém assistindo a isso de livre e espontânea vontade, à exceção de masoquistas e daqueles tipos que gostam de encontrar significado onde não existe nenhum. Se não é o seu caso, corra para bem longe, e não olhe para trás!