Quando Nietzsche Chorou

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Dentre os modernos escritores, poucos têm se mostrado tão capazes de emplacar best-sellers quanto Irvin D. Yalom. Seus livros já foram vendidos em números que ascendem aos milhões e traduzidos para muitas línguas.

Psicoterapeuta por formação, seus livros estão sempre relacionados à psicologia e, por conseqüência, à mente e às idéias. Em solo tupiniquim, teve destaque apenas quando saiu por aqui seu primeiro romance: Quando Nietzsche Chorou. Interessante é que esse livro foi escrito em 1992 e, mesmo tendo algum tempo nas lojas brasileiras (saiu por aqui perto do final de 2005), ainda continua ocupando prateleiras de destaque, físicas e virtuais.

Seu sucesso rendeu, só para variar, uma fatídica adaptação cinematográfica. Mas, felizmente, foi pouco comentada. Também teve uma adaptação para os palcos brasileiros. Mas, deixando isso de lado, vamos ao livro em si.

A história gira em torno de Friedrich Nietzsche e Josef Breuer. Um é um dos pais da psicanálise. Outro, da filosofia niilista. È a idealização, escrita em cima de alguns fatos históricos, de um encontro que nunca aconteceu. O ponto central aqui é o sentimento que os une: o desespero.

Apesar de ter importantes personagens secundários (para o livro e para a História), como Freud e Bertha Papperheim, a obra começa perdendo um Alfredo por ser absolutamente linear. Não que o enredo não seja envolvente, pelo contrário. Mas isso torna algumas passagens deveras monótonas, lembrando até alguns livros nacionais clássicos, onde você lê, lê, lê e nada acontece – com o devido respeito aos mestres e entusiastas da literatura brasileira. E, devido a isso, perde mais meio Alfredo por ter um “miolo” (desenvolvimento) lento demais.

No entanto, partindo em direção à conclusão, o livro se torna realmente empolgante e as idéias nele colocadas mexem tanto com os personagens que dificilmente deixarão de mexer com o leitor. Como nesta passagem, que sintetiza perfeitamente algo que sempre pensei sobre o sofrimento:

“Conheci muitas pessoas que não gostam de si mesmas e tentam superar isso persuadindo primeiro os outros a pensarem bem delas. Feito isso, elas começam a pensar bem de si próprias. Mas essa é uma falsa solução, isso é submissão à autoridade dos outros. Sua tarefa é aceitar a si mesmo, não encontrar formas de obter minha aceitação”.

E, são idéias e diálogos como este, primorosamente escritos, o ponto alto deste livro. Ele é capaz de fazer refletir sobre nossas escolhas, nosso caminho e as conseqüências de nossas decisões. E, o melhor, faz isso sem, necessariamente, pender para a literatura de auto-ajuda (que, a meu ver, “auto-ajuda” apenas quem escreve).

Discorrendo sobre o início da psicanálise, aliada às imposições da filosofia, o livro sonda o que temos de mais fabuloso: a mente e a consciência. Sendo assim, a empolgação final faz esquecer os momentos de marasmo iniciais, tornando o livro uma excelente leitura. Mesmo para quem, como eu, acha o niilismo e o nietzschismo um devaneio absurdo.

OBS: Dados os descontos, a nota final do livro seria 3,5 Alfredos. Mas o livro ganha meio Alfredo no epílogo porque o autor expõe claramente o que é fato e o que é ficção no seu livro. E isso é uma idéia fantástica, que deveria ser colocada em todo livro que mistura realidade e imaginação.

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