Onde Vivem os Monstros

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Alfredo, Alfredo de la Mancha, Delfos, Mascote, Alfred%23U00e3o, Delfianos

Spike Jonze é um sujeito estranho que faz filmes mais estranhos ainda, como Quero Ser John Malkovich e Adaptação, ambos em parceria com o também estranho roteirista Charlie Kaufman. E o que isso tem a ver? Absolutamente nada, só estou enrolando um pouco até falar de vez de seu novo trabalho, Onde Vivem os Monstros, uma adaptação (hah, sacou?) de um livro infantil muito popular nos EUA e seu primeiro filme sem Kaufman no roteiro.

Max (Max Records, que está destinado a ser dono de loja de discos no futuro já que tem o nome perfeito) é um garoto normal, mas solitário, que passa os dias brincando sozinho, inventando histórias malucas e tentando chamar a atenção da irmã mais velha e da mãe (Catherine Keener). No entanto, quando ninguém lhe dá bola, faz pirraça e volta pro seu mundo de fantasia. Num desses pitis, briga com a mãe por ciúmes do namorado dela (Mark Ruffalo, em papel minúsculo), foge de casa e vai parar numa ilha habitada pelos monstros do título, que de monstros não têm nada.

Ele rapidamente se proclama rei do lugar e passa a conviver com as criaturas, até que o relacionamento prolongado com cada uma delas, especialmente o intempestivo Carol, lhe ensina algo sobre si mesmo. A história até lembra autoajuda, mas é tão bem contada que esse pequeno detalhe que poderia ser ruim acaba por se tornar irrelevante.

O filme de fato me parece muito mais para adultos do que para crianças, visto as sutilezas da história e a construção dos personagens (cada monstro pode ser interpretado como um dos sentimentos ou partes da personalidade de Max), o que não impede os pimpolhos de se divertirem com as criaturas e suas brincadeiras com o protagonista.

E também me parece ser um daqueles casos de ou você ama ou odeia. Tudo depende da identificação com o garoto e com as situações que ele enfrenta. É uma criança que sente falta de calor humano e às vezes exagera ao tentar expressar isso, ou só um moleque mimado que merece uns tapas na bunda? Depende de você. Eu me identifiquei. E também me diverti pra caramba, especialmente com os diálogos, cheios daquela lógica que só as crianças são capazes de apresentar, o que torna as conversas de Max com as criaturas e delas entre si, cheias de um delicioso nonsense.

As criaturas são perfeitas. Bonecos reais apenas com os rostos animados por computação, uma ótima escolha já que elas realmente parecem existir. Como Max toca nelas o tempo todo, essa sensação tátil poderia ficar ruim em CGI. E convenhamos, fazia tempo que alguém não usava bonecos e fantasias de verdade no cinema. Já estava até com saudades.

Outro ponto forte é a trilha sonora, com músicas ao mesmo tempo fofas e melancólicas, cortesia de Karen O., vocalista dos Yeah Yeah Yeahs. E suas composições aqui são melhores que qualquer coisa que ela já gravou com sua banda, da qual nunca fui fã.

O único “porém” é que, em alguns momentos, o filme ameaça tomar um tom mais assustador, mas nunca chega lá de fato, quase como se fosse por medo de assustar as criancinhas no cinema. Sei lá, eu até entendo isso, mas a trama realmente pede essas partes e ao apenas arranhar sua superfície, o negócio fica no meio do caminho, tirando um pouco do brilho de um trabalho excelente.

Onde Vivem os Monstros é diversão garantida para adultos e crianças e merece uma visita ao cinema. Claro, como disse antes, essa diversão irá depender bastante da identificação com o protagonista. Mas se você está aqui no DELFOS, creio que isso não será um problema. Então vá sem medo, eles são monstros, mas são fofinhos!