Metallica – Death Magnetic

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Death Magnetic foi certamente o lançamento mais esperado do ano pela maioria dos headbangers. E não é para menos. Faz cerca de 20 anos desde o último clássico do Metallica, o excepcional …And Justice for All. O álbum subseqüente, mais conhecido como Black Album, é um trabalho bom, mas mais simples e com uma pegada mais Pop do que seus antecessores. A partir daí, a coisa desandou. O infame trio Load, ReLoad e St. Anger é considerado pela maioria dos fãs uma verdadeira cacofonia. Foi justamente nesses três álbuns que a banda resolveu incorporar novos elementos ao seu som. E deu no que deu. Como já diz o ditado, não se mexe em time que está ganhando. Nada contra experimentalismo, desde que seja bem feito.

Para a alegria dos fãs, o que o Death Magnetic representa é um retorno às raízes. Contém forte influência dos quatro clássicos supremos (Kill ‘Em All, Ride the Lightning, Master of Puppets e …And Justice for All) e também do famoso Black Album. Veja bem, disse influência, e não cópia. Não é apenas música old school, tendo também seus toques de modernidade. Resumindo, com esse novo trabalho, o Metallica conseguiu soar novo sem perder sua identidade.

Esse lançamento não conseguiu fugir do hype, sendo que os mais empolgados chegaram a equipará-lo aos clássicos ou até mesmo considerá-lo como o melhor da banda. Bem, esse não é o caso. Tamanho alvoroço foi provavelmente causado pelo longo período de seca pelo qual os fãs passaram. Trata-se de um álbum excelente, sem dúvida. Foi um ótimo modo do Metallica mostrar que ainda está vivo e muito bem, obrigado. A produção ficou a cargo de Rick Rubin, atual produtor do Slayer. Ele fez um grande trabalho e deve ter ajudado a banda a retomar seu peso.

Bem, falemos das performances individuais dos músicos. James Hetfield está um monstro na guitarra. Dispara riffs ótimos o tempo todo e constrói bases incríveis. Quanto a seu desempenho vocal, está claro que ele não consegue mais soar como há 20 anos. Porém, continua capaz de ser agressivo e interpreta muitíssimo bem as canções.

Uma outra forma de definir esse novo álbum é “A Vingança de Kirk Hammett”. Em St. Anger, não tivemos um solo sequer do sujeito. Agora, em cada uma das músicas há solos inspirados e repletos de wah-wah. E o melhor, não soa masturbatório.

Temos aqui o primeiro registro em estúdio do baixista Robert Trujillo em conjunto com a banda. Quer dizer, ao menos em teoria. Devido à péssima mixagem, o baixo praticamente não está audível. Pode ser notado sem esforço apenas em algumas músicas, como Cyanide e Suicide & Redemption. Para não injustiçar o rapaz, fiz questão de ouvir a versão do álbum que saiu para o Guitar Hero III. Nessa versão, que tem mixagem “de gente”, notamos o grande trabalho que o baixista fez e que foi prejudicado no lançamento oficial.

Boa parte das críticas negativas do álbum foram direcionadas ao baterista Lars Ulrich. Entre outras coisas, foi chamado principalmente de “limitado”. A meu ver, ele é tudo, menos limitado. Seria isso se tentasse fazer algo e não conseguisse, o que não acontece. Seu desempenho pode não ser excepcional, mas também não ficou devendo nada. Em resumo, cumpriu bem seu papel. E dessa vez deram uma bateria de verdade para ele tocar, ao contrário dos latões usados em St. Anger.

Já quanto ao produto em si, a qualidade está boa, principalmente nas versões importadas. A capa gerou algumas controvérsias, graças a certas criaturas de mente poluída que acharam o caixão magnético parecido com alguma outra coisa. Particularmente, achei a arte bem criativa e condizente com o título e a temática do álbum. Quem comprou alguma versão importada certamente notou um detalhe muito legal: cortes no formato de caixão em cada página do livreto, dando um efeito tridimensional à capa. Já a ridícula versão nacional, além do preço salgado e da caixinha afro-descendente, não conta com esse detalhe. É uma pena, pois são esses diferenciais que estimulam o público a comprar o produto original.

Como já comentado anteriormente, a mixagem atrapalha um pouco a experiência de ouvir um novo álbum do Metallica. A grande compressão de áudio fez com que os sons ficassem altos e misturados, mandando o pobre baixo para as profundezas de um abismo infernal. A qualidade não está horrível, mas poderia ser muito melhor. Principalmente considerando que temos incríveis composições aqui. Quanto às letras das músicas, elas estão no geral bem abrangentes e abertas a diferentes interpretações, mas flertam com o tema “morte” o tempo todo. Vamos a uma análise música por música:

That Was Just Your Life – Começa com o som de um coração batendo, indo então para um dedilhado de guitarra e culminando em um pesado riff. É o som do Metallica ressuscitando e mostrando que ainda tem muita energia. Uma das melhores do álbum. “Like a touch from hell, I feel how hot that it can get if I get caught”.

The End of the Line – Após o término da primeira música, nem temos tempo de nos recuperar e já surge outra pauleira. Bem construída, com ótimas quebradas e um trecho lento para podermos piscar. A letra fala sobre vício. “The slave becomes the master”.

Broken, Beat & Scarred – “What don’t kill you make you more strong”. É isso que estará gravado em sua cabeça após a audição dessa faixa. Essa frase é repetida até a exaustão, em uma otimista letra que fala de luta e superação, certamente relacionado ao que o próprio Metallica passou. É um tanto quanto repetitiva, mas é pesada demais para ser chata.

The Day That Never Comes – A clássica balada presente sempre na faixa quatro dos álbuns do Metallica. Veio na hora certa, para podermos reorganizar os pensamentos após as três porradarias que abriram o disco. Lembra bastante Fade to Black e Welcome Home (Sanitarium). Começo lento, algumas levadas mais rápidas e, após a metade, adquire ares mais pesados no melhor estilo One. “The sun will shine; This I swear!

All Nightmare Long – A melhor do álbum. É simplesmente de fazer o queixo cair. Ótima introdução, seguida por passagens espetaculares e um grande riff principal, além de um bom solo de Hammett. Também há um final falso, provavelmente para que possamos retomar o fôlego. Que refrão! Aposto que jamais sairá da sua cabeça. A letra é bem legal, e poderia muito bem ser uma continuação temática de Enter Sandman. “Hunt you down all nightmare long”.

Cyanide – Foi a primeira música a ser divulgada. Essa faixa é a que mais destoa do resto do disco. Tem uma pegada mais Pop. Não quer dizer que seja ruim, pelo contrário. Conta com uma estrutura excelente e quebradas interessantes. Quanto à letra, é a que mais abertamente fala sobre a morte. “Death, won’t you let me stay?

The Unforgiven III – Segunda balada do álbum, e certamente a que provocou maior curiosidade quando a lista de faixas foi divulgada. Causou-me uma estranheza inicial a ausência da introdução das outras duas Unforgivens. Essa começa com um pianinho fofo. É uma balada bonitinha, que não faz mal a ninguém. E tem o melhor solo de guitarra de todo o álbum. Sério, Kirk Hammett extrapola aqui. Bem, diria que está no mesmo nível da primeira The Unforgiven. “And how can I blame you when it’s me I can’t forgive?

The Judas Kiss – Uma das faixas mais pesadas (e legais). Ideal para bater cabeça. A letra trata de religião, de uma maneira bastante criativa. “Bow down, sell your soul to me, I will set you free”.

Suicide & Redemption – Primeira faixa instrumental dos caras em muitos anos. Ela foi a maior responsável pelo desaparecimento misterioso de meio Alfredo. Em seus quase dez minutos de duração, apresenta apenas riffs genéricos e uma brusca queda de criatividade. Muito aquém das clássicas Orion, The Call of Ktulu e To Live Is To Die.

My Apocalypse – A música mais rápida do álbum (em todos os sentidos). É como se, após terminar de mostrar sua ressurreição, o Metallica resolvesse quebrar tudo. Animada, veloz e não muito trabalhada. Quase um Slayer. “Suffer unto my apocalypse!

Depois de ouvir a 10ª música, você certamente estará muito satisfeito com o trabalho que a banda fez. O Metallica mandou todos aqueles que diziam que a banda estava morta saírem do hall e irem ouvir pagode. Então, você me pergunta: é um clássico? A resposta só saberemos em alguns anos. =)

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Nota
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Carlos Eduardo Corrales
Editor-chefe. Fundou o DELFOS em 2004 e habita mais frequentemente as seções de cinema, games e música. Trabalha com a palavra escrita e com fotografia. Já teve seus artigos publicados em veículos como o Kotaku Brasil e a Mundo Estranho Games. Formado em jornalismo (PUC-SP) e publicidade (ESPM).
metallica-death-magneticAno: 2008<br> Gênero: Heavy/Thrash Metal<br> Duração: 74:41<br> Artista: Metallica<br> Número de Faixas: 10<br> Produtor: Rick Rubin<br> Gravadora: Warner Bros. (Universal Music no Brasil)<br>