Depois de uns anos se estranhando, a Marvel e a Capcom voltaram a ser amiguinhas. Isso, claro, significa que seus personagens vão sair na porrada em Marvel vs. Capcom: Infinite, que chega às lojas amanhã.

Vivemos hoje um cenário bem diferente dos anos 90, quando a Capcom dominava os jogos de luta com a absurda qualidade dos seus jogos. A concorrência deu uma alavancada nos últimos anos, e não seria exagero dizer que muita gente considera o último Mortal Kombat melhor do que o mais recente Street Fighter.

A própria Capcom reconhece isso, e já em Street Fighter V, optou por lançar mão do modo história presente nos jogos da Netherrealm. E se no bom e velho Street, a experiência não foi tão bem sucedida, dá para dizer que a empresa aprendeu com seus erros. Marvel vs. Capcom: Infinite tem um modo história muito legal, visual brilhante e colorido e um monte de personagens legais, embora seu line-up seja menor do que o dos jogos anteriores da série.

MARVEL, A SABOTADORA

Não vai demorar para você perceber algo estranho. Onde estão os X-Men? Nem mesmo o Wolverine, que teve papel de destaque em todos os Marvel vs. Capcom aparece por aqui. Claro, ninguém fala nada, mas a gente sabe que a Marvel anda cancelando seus próprios gibis para sabotar os filmes que não são seus. Isso inclui os X-Men, todo o elenco de mutantes – incluindo Deadpool – e o Quarteto Fantástico.

O licenciamento no cinema para a Fox não impede que os personagens sejam usados nos jogos (pelo menos acredito que não), mas tem toda cara de que a Marvel deve ter solicitado que a Capcom focasse nos personagens do MCU. Assim, o esbelto elenco de Infinite conta com apenas três personagens que nunca deram as caras na série antes, e todos já apareceram ou aparecerão em breve no MCU. São eles Gamora, Ultron e Capitã Marvel. A quarta novidade vem do lado da Capcom e não é tão novidade assim. É o X, que acaba sendo tão intercambiável com o Mega Man quanto Guile e Nash em Street Fighter.

MVC Infinite, Delfos
O Homem de Ferro, claro, tem papel de destaque.

Esta suposta limitação, supostamente imposta pela Marvel, acabou demonstrando como os personagens da Capcom são legais. Não dá para negar, quem rouba a cena em Infinite é a galerinha da gigante japonesa. Quem diria que eu um dia escreveria isso, mas é bem mais legal jogar com Frank West do que com o Homem-Aranha.

Pegue, por exemplo, o hyper combo do protagonista de Dead Rising. Nele, Frank joga seu desafeto em direção a um monte de zumbis e, enquanto os miolentos fazem miséria com a vítima, ele levanta a sua câmera e tira uma selfie, ganhando um monte de PP no processo. Enquanto isso, o do Homem-Aranha é só uma sequência estilosa de ataques.

Tirando, claro, aqueles que já saíram de jogos de luta, como Ryu e Morrigan, os personagens da Capcom ganham muito por estarem fora do seu elemento, enquanto os da Marvel se encaixam naturalmente em um jogo de luta. A gárgula Firebrand, por exemplo, me deu saudades de quando eu era criança e jogava Gargoyle’s Quest no meu Game Boy.

Mesmo o tremendão Dante, que saiu originalmente de um jogo de ação, fica muito legal nessa versão, embora eu tenha estranhado que a Capcom optou pelo visual clássico e não pelo que vimos em DmC, que tinha toda a cara de que iria substituir o original.

Jogar Marvel vs. Capcom: Infinite me fez ficar com saudades dos jogos antigos da Capcom, aqueles com um visual mais cartum. O diminuto Arthur, de Ghosts ‘N Goblins, é um lutador tão legal por aqui que até deu vontade de um jogo novo da sua série – e olha que eu nunca fui muito fã dela.

É inegável, alguns dos personagens mais legais e conhecidos dos videogames clássicos são da Capcom (talvez ela perca apenas para a Nintendo neste quesito) e é uma pena constatar a quantidade de séries que são lembradas apenas em crossovers como este, além da falta de novas séries. Corrija-me se estiver errado, mas a IP mais recente da Capcom seria Dead Rising? Um jogão, mas gostaria de ver essas mentes criando novos personagens e experiências.

FIGHT!

O jogo traz algumas novidades. Já eram as lutas entre times de três personagens. Agora os combates são em dupla. As joias do infinito, que já tiveram uma participação importante no antigo Marvel Super Heroes, retornam aqui. São seis joias, e você escolhe uma antes da luta.

Cada joia tem dois poderes. Um deles é ativado com o LB, enquanto para o outro você precisa apertar ao mesmo tempo o LB e o RB e funciona apenas quando sua barrinha estiver relativamente cheia. Por exemplo, a joia da alma rouba vida do oponente com LB, mas seu grande poder ressuscita seu colega caído e possibilita uma luta em dupla por um curto período de tempo.

Dead Rising
Dante e Ultron brigam para ver quem tem a espada maior.

Admito que a primeira impressão que tive do jogo não foi muito boa. Eu peguei minha dupla tradicional, Ryu e Homem-Aranha, mas só comecei a me divertir pra caramba quando comecei a jogar com duplas mais inusitadas. Rocket Racoon e Chris Redfield? Sim, por favor!

Este é um ponto em que o modo história funciona muito bem. Ao obrigar você a jogar com personagens que normalmente não escolheria, você acaba vendo quão legais eles são. No final das contas, joguei pelo menos um pouco com todos os 30 disponíveis aqui e veja só, a dupla mais sem graça foi justamente a primeira que escolhi.

PRELÚDIO À HISTÓRIA

Não dá para negar que o modo história não tem o mesmo fator uau de Injustice 2. O visual é lindo, colorido e brilhante, mas Injustice parece ser tecnicamente mais elaborado. Além disso, coisas como a sincronia labial estão bem melhores no jogo da Netherrealm.

Em Injustice, por exemplo, é impressionante como o jogo passa de cutscene para gameplay e volta para cutscene imperceptivelmente. Aqui rola um load considerável (algo entre 30 segundos e um minuto) sempre que muda de um para o outro. Aliás, diminuir a quantidade de loads deveria ser uma prioridade para a Capcom, pois Infinite simplesmente tem mais do que deveria.

Marvel Vs Capcom Infinite

Jogos de luta mais recentes têm disfarçado o load com animações que passam naturalmente da tela de seleção de lutadores para o estágio em si. Aqui a abordagem é mais old-school, com uma tela de versus e musiquinha. Só que a luta não começa quando a música termina. A imagem fica estática durante um tempo, e depois ainda entra numa tela preta com a frase “now loading”. Chega a ser curioso o arcade ser assim aqui, considerando que o próprio Street Fighter V consegue fazer seu survival praticamente sem interrupções.

Aliás, uma tradição chata da série mantida aqui é o último chefe, Ultron Omega. Trata-se de mais uma luta contra um inimigo grandão, que fica imóvel do lado direito da tela, atacando de tempos em tempos. E este tipo de luta é simplesmente muito chata, pois exige que você fique martelando o botão tornando seus hyper combos e especiais praticamente inúteis.

HISTÓRIA

Felizmente, o modo história, apesar destes supracitados engasgos técnicos, é muito legal. Com uma narrativa criada por escritores da Marvel e da Capcom, ela brinca bastante com interações divertidas entre os personagens. Quem nunca quis saber quem é mais convencido, o Dante ou Homem de Ferro, por exemplo?

Marvel Vs Capcom InfiniteCuriosamente, a história começa meio que no meio, com todos os personagens já se conhecendo. Eu pensei que seguiria aquela tática de começar no meio, voltar e contar linearmente, mas não é o caso. Até rola um flashback perto do final contando como foi a convergência, mas não espere ver o primeiro encontro dessa galera.

Na história, temos a junção de Ultron e Sigma, que se tornaram Ultron Sigma, um vilão a fim de exterminar toda a vida orgânica de ambos os universos. Obviamente, isso vai fazer toda a turminha feita de carbono (e alguns robôs) reagir. Porém, diante de tamanho poder, eles precisam apanhar as joias do infinito e, para chegar a elas, uma aliança com Thanos pode ser necessária.

O mais legal não é nem a história em si, que é bem tradicional de videogame, mas o climão divertido da coisa toda. Personagens como o Homem-Aranha e o Rocket Racoon fazem piadas o tempo todo e arrancarão suas risadas. Além disso, as lutas são interessantes e desafiadoras.

A única picuinha que tenho com elas é que você pode, por exemplo, estar jogando contra o Thanos, vencer, e daí na cutscene que se segue, ele nocautear seu herói com um único golpe. Ora, se a história exige que o Thanos vença neste momento, por que não jogamos com ele?

ALÉM DA HISTÓRIA

Felizmente, Marvel Vs. Capcom: Infinite tem bem mais conteúdo do que Street Fighter V tinha no lançamento. História e arcade, no entanto, são apenas prelúdios para o foco de qualquer jogo de luta: o versus. Eu joguei umas boas partidas contra amigos compartilhando o sofá e foram bem divertidas. Bem o tipo de coisa que cai bem quando você junta um monte de nerd e serve uns refrescos.

Como joguei antes do lançamento, não consegui testar o online a tempo para o fechamento deste texto. Procurei partidas e deixei o fight request ativo o tempo todo, mas nunca fui juntado com ninguém. As próprias leaderboards do jogo no Xbox One tinham, quando chequei, apenas duas pessoas, então é batata que as coisas vão ficar bem mais movimentadas no lançamento.

Marvel Vs Capcom Infinite
Capeitão América, como diria o mestre Rob.

Tem também alguns arquivos onde você pode ler sobre os personagens, ouvir as músicas e vozes e coisas do tipo, além de um modo de missões que serve para ensinar os combos e golpes especiais dos personagens.

MARVEL VS. CAPCOM: INFINITE

Talvez quem acompanhou a série até aqui sinta falta de algumas coisas, como os times de três, os X-Men ou mesmo uma maior variedade de personagens. Haverá uma galerinha adicionada via DLC. Já anunciados, temos Sigma e Pantera Negra, mas aproveitando que o embargo nessa informação acaba de vencer, posso confirmar aqui que os seguintes serão Monster Hunter, Soldado Invernal, Viúva Negra e Venom.

Assim como aconteceu com Street Fighter VMarvel vs. Capcom: Infinite está fadado a crescer bastante no futuro. Felizmente, o que temos aqui já é o suficiente para uma boa diversão. Talvez não seja tão completo ou tenha tantos personagens como Ultimate Marvel vs. Capcom 3, mas há bastante qualidade no que de fato temos aqui.