Mortal Kombat X

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Ah, a adolescência. Provavelmente a trilogia original de Mortal Kombat e todas as versões de Street Fighter II são os jogos que eu mais joguei na vida. E. eu era um verdadeiro animalzinho nesses jogos. No da Capcom, eu sabia jogar com todos os personagens e dificilmente alguém ganhava de mim. Já em Mortal Kombat, eu sabia de cor todos os golpes especiais, fatalities, babalities e friendships. Saber tudo isso de cor exige tamanho esforço que apenas adolescentes conseguem dedicar o tempo para isso.

Os jogos de luta evoluíram. Depois disso vieram os Marvel Vs. Capcom e o foco começou a ser em combos enormes que eu não conseguia, nem fazia questão de decorar. Meus amigos mais jovens começaram a ficar melhores que eu nos jogos de luta e aos poucos eu fui perdendo o interesse.

UMA GRANDE SURPRESA

Dessa forma, devo dizer que eu não acompanhei a evolução dos jogos de luta. Os únicos MK que peguei para jogar desde então foram spin-offs, como Shaolin Monks (muito legal, diga-se de passagem). Até peguei – e resenhei – Street Fighter IV, mas foi por aí que percebi que meu interesse no gênero não era mais o mesmo de outrora. Era um jogo legal para jogar no sofá, com amigos, mas online eu apanhava demais e contra o computador era um tanto maçante depois que você o terminava várias vezes.

Foi com essa mentalidade que peguei Mortal Kombat X. Esperava me divertir por algumas horas, resenhar e apagar o jogo do HD. E, meu amigo, eu me surpreendi muito com ele. Definitivamente eu não esperava que ele fosse tão divertido, e tivesse tanta coisa para fazer.

UM INÍCIO CONTURBADO

O jogo tem cerca de 35 Gb. É pesadão, mas caso você compre a versão digital, pode acessá-lo depois de cerca de 4 Gb baixados. A primeira coisa que o jogo pede é para você escolher uma facção, e aí eu me assustei. Acontece que, sempre quando ele entrava na tela de facção, dava um erro e o PS4 fechava o jogo. Isso se repetiu mais de uma dezena de vezes até que eu resolvi escolher rapidamente uma facção qualquer para tentar passar dessa tela. Deu certo. A partir daí, não vi mais nenhuma mensagem de erro e tudo rolou suavemente.

Eu já tinha baixado outros jogos, como Dying Light, que permitem ser jogados antes do download concluir, mas em todas as experiências que eu tive com isso, era possível jogar o tutorial e depois o jogo parava totalmente até terminar o download. E este é o primeiro elogio de muitos que eu vou fazer para MKX.

Assim que ele me liberou para entrar no jogo, eu podia jogar lutas simples com alguns personagens. Não dava para jogar a história nem as torres, mas já dava para tirar uns contras com uns amigos. E enquanto brincava e o download continuava, ele ia liberando novos lutadores e novos modos de jogo automaticamente, sem eu precisar sair do jogo ou mexer em nada. Achei isso muito legal.

ISSO É NEXT-GEN

O visual de Mortal Kombat X é caprichado. Devo dizer que eu ainda prefiro a estética original, com atores digitalizados, mas isso foi abandonado pela série há muito tempo, e não dá para imaginar gráficos com a atual estética melhores do que o que temos aqui.

As animações em especial são impressionantes, e cada lutador tem trejeitos diferentes. Mesmo os ninjas, que anteriormente eram diferentes apenas nas cores (por exemplo, Scorpion, Sub-Zero e Reptile) agora são personagens totalmente diferentes. Quem não conhece a história da série jamais imaginaria que eles eram todos iguais nos primeiros jogos.

A violência está presente e é tão exagerada e tão absurda que muito mais do que impressionar ou dar medo, ela é engraçada. E isso é muito legal. Por exemplo, em um dos primeiros fatalities que eu vi, do Scorpion, o ninja corta a parte da frente do rosto do seu desafeto. A cara da vítima conforme seu rosto desliza do restante da sua cabeça é simplesmente impagável. Especialmente nos casos de personagens mais monstruosos, como a Mileena.

Os raios-X também estão de volta, e são o equivalente do Mortal Kombat para os Super Combos do Street Fighter. Eles têm a vantagem de serem todos ativados da mesma forma (apertando L2 e R2 ao mesmo tempo) e são tão ou mais elaborados e doloridos do que muitos fatalities. Normalmente eles envolvem crânios e colunas vertebrais sendo partidas em pedacinhos, e o fato de que o lutador que recebeu os golpes simplesmente levanta e continua lutando apenas contribui para a diversão descompromissada de Mortal Kombat X.

Um grande erro da NetherRealm, na minha opinião, é que praticamente todos os golpes dos personagens clássicos têm novos comandos. O arpão do Scorpion, por exemplo, sempre foi acionado com dois toques para trás e um dos socos. Agora é necessário colocar para trás e depois para frente, antes de apertar o botão. Não quero dizer que é difícil, mas se você sabia tudo de cor na época dos clássicos, como eu, tem que aprender a jogar novamente com os personagens. Este foi um erro que a Capcom não cometeu em Street Fighter 4. Os golpes do Guile continuam exatamente iguais aos antigos, o que facilita a diversão descompromissada e pick up and play.

MODOS DE JOGO

Este é o principal aspecto que torna Mortal Kombat X muito mais divertido e substancial do que seu concorrente. Para começar, temos um modo história, que envolve jogar com vários personagens diferentes e assistir a muitas cutscenes. Também rolam alguns QTEs. A história é divertida, mas não é inovadora. Basicamente, o modo história acaba servindo como um tutorial para usar vários personagens.

O lado ruim é que no modo história não dá para dar fatalities. Eu até entendo o motivo, um personagem que morre lá está morto na cronologia da série, mas fica faltando algo quando você tira os fatalities de um Mortal Kombat.

Depois da história, tem também as torres, que são o desafio tradicional de Mortal Kombat. Encare uma quantidade fixa de oponentes, com um finish him no final. A torre “Klássica” é a mais próxima dos jogos antigos, e termina sempre com duas batalhas fixas contra dois chefes, Goro e Shinnok. Ao vencer Shinnok, você assiste um final específico do lutador que escolheu, como era no fliperama.

Tem várias torres diferentes além da klássica, inclusive as chamadas torres vivas, que são como desafios diários que mudam conforme o tempo passa. Tem também a possibilidade de jogar uma torre aleatória e mandar um convite para um amigo para que ele tente bater sua pontuação na dita-cuja. Eu venho trocando vários desses desafios com o Pixáiti, e é bem divertido.

Uma das torres é formada pela tradicional fase de bônus do “Test Your Might”, na qual você tem que martelar os botões para destruir objetos cada vez mais difíceis. Eu consegui chegar até o último, mas daí meus dedos pediram arrego. =/

É claro que não podia faltar o modo online, o que eu adoraria que existisse quando eu jogava bem e ganhava de todo mundo. Também há várias opções para jogar online, como lutas simples ou mesmo o modo torre, no qual dois ou mais jogadores completam uma torre individualmente ao mesmo tempo e quem fizer mais pontos ganha.

Outro modo é o “Rei da Colina”, que é basicamente como todo mundo jogava esses jogos na época de outrora. Dois jogadores lutam e o vencedor continua jogando enquanto o perdedor vai para o final da fila. É bem satisfatório vencer um campeão, e ainda mais se manter campeão por algumas partidas. O lado ruim é que os jogadores que estão na fila ficam apenas olhando. O jogo poderia ter algum sistema de fazer os perdedores jogarem entre si e os vencedores ganham o direito de encarar o campeão ou algo do tipo. Afinal, a gente jogava assim antigamente porque só dava para jogar de dois, mas online dá para contornar essa limitação.

DLCs

Este é um ponto que não dá para não criticar, ou eu perderia a minha carteirinha da Liga Delfiana Anti-DLCs. O Shinnok é destravado para você jogar com ele quando termina a história, mas o Goro deve ser comprado por cinco dólares, o que não é legal, até porque ele já está presente no jogo.

A mesma coisa pode ser dita de outros personagens clássicos que aparecem como inimigos no modo história. Refiro-me a Sindel, Rain e Baraka. Pois é, cortaram o preferido de muita gente, o Baraka, do jogo só para vendê-lo posteriormente à parte. Estes três personagens ainda não foram oficialmente anunciados como DLC, mas é batata que eles estarão disponíveis, afinal, eles já estão no jogo.

Uma coisa é vender personagens como Jason e o Predador. Esses faz sentido. São personagens à parte, que não têm a ver com a série. São compreensivelmente um conteúdo extra mesmo. Já Sindel, Rain e Baraka são clássicos que sempre estiveram disponíveis para os jogadores na série. Além disso, os personagens têm papel importante na história, então por que não dá para jogar com eles?

Outra coisa que vem gerando polêmica por aí é o tal pacote com 30 fatalities fáceis, que custa cinco dólares. Trata-se de um consumível que permite que você execute os fatalities segurando R2 e apertando um botão da frente do controle. Não que os finalizadores sejam especialmente difíceis, mas por que não simplificar de uma vez e dar comandos simples e iguais para todos, como fizeram com os golpes de raio-X? É o tipo de coisa que provavelmente teria sido implantada no jogo naturalmente em outras épocas, mas que hoje é vendida à parte.

BRUTALITIES

Os brutalities também estão de volta, mas diferentes. Se antes eles eram basicamente fatalities com outros nomes, agora eles acontecem quando você finaliza a luta com algum golpe especial específico. Por exemplo, se você estiver jogando com o Sub-Zero, congelar seu desafeto e finalizá-lo com um uppercut, vai rolar um brutality estiloso naturalmente.

Achei essa implantação bem legal e me lembra dos fatalities de cenários de antigamente. O lado ruim é que a maioria dos brutalities não são tão naturais quanto este do Sub-Zero. Além de finalizar a luta com um golpe específico, eles podem ter algumas exigências um tanto absurdas, como passar a luta inteira sem defender ou executar um combo com mais de 10 golpes durante a peleja.

Se fosse simplesmente terminar com um golpe, seria legal porque poderia acontecer de surpresa, mas para a maior parte dos personagens, para dar um brutality você precisa se programar a luta toda para isso, além de saber de cor o golpe com o qual deve finalizar.

DUBLAGEM

E chegamos ao ponto polêmico que não poderia faltar. A versão brasileira de Mortal Kombat X vem dublada, e traz a cantora Pitty no papel de Cassie Cage, performance que vem sendo tão criticada quanto a do Roger em Battlefield Hardline.

No entanto, aqui devo dizer que, se a performance da moça realmente deixa um pouco a desejar, a dublagem em geral está com aquela qualidade padrão da dublagem brasileira. Eu sempre prefiro o original e o jogo permite a escolha (infelizmente, não há opção nos menus, você deve mudar a língua do sistema para o inglês), mas não vi grande diferença da dublagem de Mortal Kombat X para a que vemos comumente na TV.

Também ajuda que Pitty lidou com as críticas de forma bem mais madura do que o cantor do Ultraje a Rigor, dizendo que fez o melhor que pôde. E eu acredito nela. Além disso, com exceção do modo história, você só vê os lutadores falando alguns insultos engraçadinhos no começo de cada luta. Não é nada assim tão importante.

Performance dos atores à parte, a dublagem de MKX sofre com erros de tradução um tanto bisonhos. Coisas como um personagem chamando a Sonya de “amigo” ou outro se referindo a uma mulher como “tolo”. Também não dá para não falar do já famoso “Eu tenho isso” soltado pela Pitty como tradução a “I got this” (que seria algo como “deixa comigo”).

Porém, não posso também deixar de elogiar o que merece ser elogiado. Em uma luta do Johnny Cage contra a Mileena, fui presenteado com o seguinte diálogo:

Johnny: E aí, Raimunda?
Mileena: Eu espero que isso seja um elogio.
Johnny: É… mais ou menos…

Se você conhece a Mileena e o que significa se referir a uma mulher como “Raimunda”, deve ter percebido como isso se encaixou perfeitamente nos personagens. E eu nem imagino como era o diálogo original, pois esse foi tão bem traduzido/adaptado que ficou simplesmente perfeito na nossa língua e eu duvido que seja mais engraçado em inglês.

Uma opção curiosa é que o jogo não foi totalmente dublado. Algumas frases que os lutadores falam durante a porradaria, como o famoso “get over here” do Scorpion, continuam em sua versão original. Tudo que o narrador fala, como “Scorpion wins” ou “Fatality” também não foi traduzido.

Fica difícil saber se não traduziram por opção, já que essas frases são tão características da série, ou se foi por erro mesmo. Em determinado momento, Johnny Cage solta um “Call me” na tela de versus, o que me faz tender à segunda opção, no entanto.

Por outro lado, eu só joguei em português para poder falar sobre a dublagem, e no futuro vou jogar sempre em inglês, então nem levei esses probleminhas em consideração.

FINISH HIM!

Mortal Kombat X me divertiu muito mais e me manteve jogando por muito mais tempo do que outros jogos de luta, Street Fighter IV inclusive. Minha principal bronca com ele é o fato de personagens como Goro e Baraka serem DLCs, mas com ou sem DLCs, o jogo vale muito a pena, mesmo se você não for mais tão fã de jogos de luta. Trata-se de uma diversão descompromissada e um excelente jogo para festas, que provavelmente nunca mais será apagado do meu HD.

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