Forças Especiais

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Estou vivenciando cada vez mais algumas coisas interessantes que sabia apenas pelas resenhas do Corrales, quando as lia como delfonauta. Um exemplo é quando nosso Ditador Supremo elogia alguma assessora que consegue escrever seu nome corretamente (sim, ele faz isso mesmo e é muito engraçado); outro são os atrasos que acontecem nas cabines, como o de 30 minutos nesta sessão. De qualquer forma, o primeiro parágrafo está pronto e agora posso escrever confortavelmente a sinopse. =P

Elsa, uma jornalista francesa, é sequestrada pelo pessoal malvado do talibã quando começa a “bisbilhotar demais”. A França fica desesperada e envia um grupo de forças especiais (a-há!) para resgatá-la. O problema é conseguir sair de lá depois.

Não sei quanto ao delfonauta, mas eu vejo um problema na sinopse aí de cima: não são os Estados Unidos que estão em missão de resgate, mas a França. Forças Especiais causa um estranhamento enorme, porque tem um jeitão de filme “patriota americano” quando é um longa francês de 2011. Alguém ainda está realmente preocupado com os talibãs, ainda mais com a crise europeia?

No começo, essa impressão de estar assistindo a um filme “americano” falado em francês não é muito clara, mas isso piora após o sequestro da jornalista. Durante a reunião sobre o resgate, o presidente diz algo parecido com “não vamos deixar o mundo assistir à morte de uma cidadã francesa” (!?). Aí eles preparam uma megaoperação para resgatá-la, com 60 homens, mas apenas um pequeno grupo de soldados especiais é designado para a missão de salvamento. Nunca é realmente explicado qual é a importância da jornalista e o que exatamente ela estava fazendo no Afeganistão. O motivo para salvá-la é simplesmente por ela ser uma jornalista francesa em perigo, e isso não me convence.

A coisa melhora bastante quando o esquadrão entra em ação, resgata a prisioneira e começa a fugir dali, deixando de lado esse “americanismo francês” sem sentido, pelo menos até o final. Há bastante tiroteio durante quase todo o longa, mas em compensação, poucas explosões. Gostei bastante da direção, que avança rapidamente a narrativa quando precisa, sem perder tempo com o que não é importante.

Depois da primeira metade de Forças Especiais, a temática muda um pouco e os personagens começam a sofrer de cansaço por estarem fugindo dos inimigos. Aqui o foco é a sobrevivência e interação dos protagonistas, que são bem legais e interessantes. As atuações também estão boas.

Forças Especiais vai bem por um bom tempo, mas o roteiro está cheio de coisas sem sentido. Em um momento, o vilão badass do filme diz que irá aliviar a dor de um dos personagens e manda matá-lo logo a seguir. Eu tinha dado o cara como morto, mas ele volta pouco depois! Outro problema: a moçoila resgatada recebe uma pistola de um dos soldados e, quando precisa usar, não usa. Depois, ela recebe OUTRA arma de outro militar, ignorando completamente o fato da ela já estar equipada. Mas o pior mesmo é o spoiler abaixo, que mostra como o negócio fica clichezento:

O grupo de resgate decide fugir pelas montanhas, em uma altitude bem absurda (tipo uns quatro mil metros de altura). Apesar de estar frio demais, eles conseguem despistar os inimigos, que os estavam seguindo a pé. Assim que eles saem das montanhas e conseguem andar tranquilamente, sofrem uma emboscada final, que acaba matando um dos personagens mais importantes. Como diabos os talibãs os encontraram e chegaram tão rapidamente no local certo, sendo que eles estavam a pé?

Não fossem esses problemas do roteiro, Forças Especiais seria melhor. Parece um filme sem rumo, com uma proposta sem o menor sentido hoje em dia, mesmo que tecnicamente seja bom e seja “assistível” durante toda a projeção. É, Forças Especiais é um filme nada, e por isso mesmo é difícil recomendá-lo. Se você gosta muito de filmes de guerra e não liga para os problemas do roteiro, pode arriscar; caso contrário, fique longe dele.

Curiosidades:

– O filme é francês, mas tem um elenco bem conhecido mesmo para quem não costuma acompanhar a produção do país europeu. A alemã Diane Kruger e o francês Denis Menochet estiveram em Bastardos Inglórios (a moça inclusive tinha um papel bem importante), enquanto Djimon Hounsou é um rosto bem conhecido de vários filmes de ação. Ah, tem também o israelense Raz Degan, que já fez Jesus Cristo e você deve lembrar dele de algum filme cristão que já passou em TV aberta (!?!).

– Em alguns momentos da segunda parte, parecia que eu estava vendo cenas de O Senhor dos Anéis: a Sociedade do Anel, sem brincadeira. Algumas delas lembram demais alguns trechos do filme. Um exemplo claro é um plano distante mostrando os personagens nas montanhas de gelo. Também há uma morte no melhor estilo Boromir durante o longa.