Enterrado Vivo

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Quando eu era moleque e a maior parte das crianças se preocupava em completar a coleção do Comandos em Ação, eu perdia meu sono com o inevitável dia em que eu seria Enterrado Vivo. Sério mesmo, esse é um medo que eu tenho desde a mais tenra idade e inclusive quem vasculhar as tranqueiras da minha casa vai achar vários desenhos com esse tema que eu fiz quando era pequerritinho.

Dessa forma, quando o Pixáiti nos avisou sobre este filme, eu pensei que finalmente alguém tinha percebido o potencial assustador desse tema. Até hoje, o mais próximo disso que tinha visto na tela grande é aquela cena de Kill Bill 2. Porém, quando fui procurar imagens para ilustrar essa matéria, percebi que existem exatamente 42 filmes que no Brasil têm o título Enterrado Vivo. Não sei quão semelhantes ou diferentes eles são desse aqui, mas talvez o tema não seja tão novo para a sétima arte quanto eu pensava.

Tudo que você precisa saber sobre Enterrado Vivo pode ser deduzido pelo próprio título. Ryan Reynolds é Paul Conroy, um sujeito que um dia acorda e se vê Enterrado Vivo em um caixão sabe-se lá onde. E é isso.

Apesar de ser uma situação agonizante, o delfonauta deve concordar que esse é um tema difícil, cuja abordagem mais palatável envolveria flashbacks com a vítima e onde o verdadeiro protagonista seria o policial que procuraria por ele. Mas não. O diretor Rodrigo Cortés escolheu o caminho mais difícil. Não há flashbacks e o filme jamais sai do caixão. Caramba, não há nem outros atores além do Ryan Reynolds (apenas vozes das pessoas com quem ele fala pelo celular).

Tinha tudo para dar errado e ser um filme chatíssimo. Mesmo assim, deu tudo muito certo. Com um único local (o caixão) e sem muito para mostrar nesse local, vemos a absurda criatividade do diretor ao lidar com um tema mais peludo que sovaco de freira.

Repare na edição e nos diferentes ângulos de filmagem. Se o cara fez tudo isso com algo tão limitado, imagina o que o sujeito não faria num blockbuster. É verdade o que dizem: a limitação incita a criatividade. E Enterrado Vivo sem dúvida nenhuma é um filme criativo e inovador, daqueles que deveriam ser mostrados em faculdades de cinema para mostrar como fazer muito com pouco.

Mas se o amigo delfonauta não se importa muito com essa parte técnica e quer apenas morrer de medo, saiba que o filme também detona nesse ponto. Ele é agonizante, claustrofóbico e aterrorizante. Não bastasse a situação do sujeito ser terrível por si só, a falta de cooperação daqueles com quem ele consegue falar pelo telefone deixa tudo pior, pois é assustadoramente real e demonstra muito bem como grandes empresas não se importam com as pessoas. Caramba, demonstra bem como as pessoas simplesmente não se importam com as outras.

Só não leva o Selo Delfiano Supremo por causa da cena da cobra. Essa, que talvez seja a mais assustadora de todas, abre alguns furos no roteiro. Como a cobra estava onde estava desde o início e ele não percebeu? E como a forma que ele escolheu para se livrar dela não acabou destruindo o caixão junto, considerando que era de madeira e tal?

Pequenos problemas à parte, Enterrado Vivo é um filme difícil de filmar e de assistir, que mostra muito pouco e, em boa parte das cenas, não mostra nada além de uma tela preta. E é justamente aí que está seu maior charme e o segredo que o deixa tão assustador. Goste você de cinema como um todo ou se simplesmente gosta de passar medo, este é um filme que você não pode perder. É a realização do meu pior pesadelo, e possivelmente do seu também. Como qualquer bom filme de terror deve ser.