Elton John está naquela pequena lista de músicos cuja obra eu gostaria de conhecer mais, mas ainda não me esforcei para ir atrás. Eu adoro piano, mas eu gosto do instrumento especialmente quando é usado em canções animadas. Apesar de curtir as músicas, sempre tive a sensação que o Elton John criava baladas quase exclusivamente. A possibilidade de escrever esta crítica Rocketman era minha chance de conhecer mais de suas composições e constatar se este era mesmo o caso.

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A primeira impressão, quando o filme mostra que o artista veio de uma família disfuncional, foi péssima. Não poderia ter começado mais clichê. As coisas melhoram consideravelmente quando as músicas começam a tocar. Isso porque Rocketman não segue a linha tradicional da cinebiografia, na qual as músicas popam linearmente, conforme os músicos as escrevem.

Não, Rocketman flerta forte com o musical, e isso o afasta da mediocridade.

Logo no início, por exemplo, há uma rendição bem bacana para o clássico Saturday Night’s Alright for Fighting. E ela vem toda espetaculosa, com dezenas de dançarinos, vários efeitos especiais e, o mais legal, em plano-sequência. É tão legal que realmente dá o tom do filme.

Rocketman não é apenas uma cinebiografia ou um musical, mas um combo dos dois com uma direção que apresenta um floreado e um estilo que não é comum em nenhum dos gêneros. E isso parece bem apropriado considerando quem é o homenageado por aqui.

Não por acaso, é justamente nos clipes musicais que Rocketman é mais belo e empolgante.

O OUTRO LADO

Rocketman filme, Rocketman, Elton John, Taron Egerton, DelfosPois é, infelizmente há um outro lado. A obviedade, como as cenas de abertura mostrando a infância sofrida do músico, nunca recua. Ao longo de seus 121 minutos, veremos Elton lidando com um agente malvado, com drogas, com problemas familiares. Se você já viu qualquer cinebiografia de músico, literalmente QUALQUER UMA, você conhece a história de Rocketman.

Sim, o roteiro disso aqui é ruim desse jeito. Digo mais, é um dos piores roteiros que já vi em uma superprodução, considerando o quanto ela segue tintim por tintim sempre o caminho mais óbvio.

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Oi, eu sou um agente malvado e vou te deixar rico. “My name is Charlie, the chainsaw’s my tool!”

Ok, talvez a vida do cinebiografado seja este emaranhado de clichês. Neste caso, a culpa não é exclusivamente do roteirista, mas sim do produtor que resolveu realizar este filme, com tantas histórias mais interessantes e criativas esperando para serem contadas. Não fosse a direção e o aspecto musical, Rocketman seria péssimo.

TARON EGERTON

E, como sempre em cinebiografias, precisamos falar sobre o ator que faz o papel principal. Não tenho reclamações da atuação de Taron Egerton, mas não gostei de sua escolha. Em tempos de representatividade, este é mais um caso em que os gordos são levados para escanteio.

Rocketman é um dos poucos filmes grandes que trazem como protagonista um gordinho com cara de nerd e, ao invés de dar chance para um ator com estas características, que dificilmente conseguiria protagonizar outro filme, escolheram um galãzinho genérico.

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Taron Egerton provavelmente estará nos gatos do mês da Capricho.

É o tipo de coisa que machuca para quem lida com a agressividade contra gordos a vida inteira. Finalmente um de nós ganha um filme para chamar de seu, e daí pegam alguém tão padrão para o papel. Extrapolando para você ver o absurdo, seria como se pegassem o Brad Pitt para interpretar Malcolm X. Só que isso Hollywood nunca faria, pois a raça negra tem representatividade. Está na hora de expandir isso para outros tipos de pessoas também.

Lembro de um episódio de Curb Your Enthusiasm em que o Larry David quer escalar um careca. Ele está certo. Se existe na vida real, também deve existir nos filmes. E olhe ao seu redor no ponto de ônibus: o mundo não é feito de galãs.

BORA BRIGAR NO SABADÃO?

Perdoe-me pelo desabafo um tanto off-topic, mas pode demorar para outra oportunidade surgir onde possa falar sobre isso. Independente do ator principal, no entanto, Rocketman funciona como um belo musical cheio de cores e estilo, mas falha forte até mesmo em um gênero de cinema menor, como a cinebiografia, graças ao péssimo roteiro.

E sobre o questionamento que fiz no início da resenha… De todas as músicas do filme, apenas três não são baladas. Uma é o clássico já citado Saturday Night‘s Alright for Fighting, que não poderia faltar. E uma das outras é um cover do The Who. Parece que minha impressão estava correta, e o Elton gosta mesmo é de criar baladas.