Duna Parte Um ficou conhecido na minha memória como “o filme da sinopse”, e eu não esperava que Duna Parte Dois mudasse isso. Diante da absurda insistência hollywoodiana em franquear tudo, fizeram um filme de quase três horas que termina antes do primeiro ato. Basicamente, você fica três horas no cinema e sai com uma sinopse. Não li os livros, mas duvido que o primeiro filme tenha adaptado o livro até seu final. Até Final Fantasy 7 Remake fez um trabalho melhor transformando uma parte de algo em um troço mais satisfatório e completo.

Eu até falei na minha crítica de 2021 que, quando estivéssemos com a obra completa, talvez eu me tornasse um grande fã de Duna. Mas ainda não estávamos lá. Ainda não estamos em 2024, mas com Duna Parte Dois finalmente chegamos a algum lugar. Claramente há espaço para outros filmes, mas arrisco dizer que o final deste é onde o primeiro filme deveria ter terminado. E imagino que deve ser também onde o primeiro livro termina.

CRÍTICA DUNA PARTE DOIS

Duna, Duna Parte Dois, Denis Villeneuve, Delfos
Ei, não é o herói do Lies of P?

Duna Parte Dois começa onde o longa anterior terminou. Paul Atreides e sua mãe estão com os Fremen, depois do extermínio de sua família e de sua casa. Alguns veem nele uma figura messiânica, enquanto outros o consideram um estrangeiro indigno de seus costumes.

Boa parte de Duna Parte Dois envolve Atreides se adaptando aos costumes do povo do deserto e lidando com a profecia que o proclama salvador. Sua mãe, surpreendentemente, não tem dúvidas de que o seu moleque é um menininho especial, e fica colocando lenha na fogueira de sua lenda.

O ESTRANGEIRO SALVADOR

Provavelmente estou me tornando um velho chato. Aliás, corta isso, já era um velho chato antes mesmo de chegar aos 18 anos. Mas o fato é que eu já vi este tipo de história um monte de vezes, e arrisco dizer que você também.

Duna, Duna Parte Dois, Denis Villeneuve, Delfos

Lembre comigo: alguém de fora cai de para-quedas numa comunidade fechada, aprende seus costumes, fica melhor do que os nativos neles, e daí salva todo mundo. MatrixAvatarStar Wars. Exemplos no mundo da fantasia e da ficção científica não faltam. Aliás, tenho a sensação de que esta é a única história que estes gêneros são capazes de contar. Tá na hora de escapar dos grilhões da jornada do herói. Daí sobram os pormenores. E estes são legais em Duna.

Coisas como a forma de luta dos Fremen, que envolve se esconder embaixo da areia e sair nos momentos mais apropriados, rendem excelentes cenas de ação. O mesmo pode ser dito da tal habilidade de montar nas minhocas (isso não é um eufemismo) ou até das naves que batem as asas como moscas. O mundo de Duna é interessante, e o filme de Denis Villeneuve claramente foi feito com muito dinheiro e capricho. O problema é que ele simplesmente não mostra muito.

CORES DO DESERTO

Filmes como Star Wars costumam ser um espetáculo visual, com roupas e cenários coloridos e um monte de estímulos. Duna Parte Um tinha algo disso também. Porém, Duna Parte Dois acontece quase totalmente no cenário desértico de Arrakis. Em outras palavras, as cenas de luta na areia até são legais, mas o filme é tão marrom quanto um FPS lançado em 2011.

A sessão de imprensa foi feita em Imax, mas de nada adianta ter uma tela enorme na sua frente se ela mostra apenas uma cor. Isso prejudica bastante a diversão que normalmente acompanha outros longas do gênero. Porém, diante da própria temática, não acredito que tenha muita saída para contar esta história. E, dentro das limitações, sem dúvida mandaram bem.

DUNA PARTE DOIS – METONÍMIA

Diante de quão lenta é a narrativa de Duna Parte Dois e como Atreides demora para assumir seu papel de líder, sinceramente achei que esta seria a totalidade de Duna Parte Dois. Que o filme terminaria quando ele virasse líder e a guerra contra o Barão viria num terceiro longa. É o que o anterior me fez esperar, mas felizmente não é o que acontece.

Depois de mais de duas horas aprendendo os costumes e ganhando moral entre os Fremen, a guerra acontece aqui. O curioso é que tudo que vem antes foi contado a passo de tartaruga, enquanto este clímax encerra a participação de alguns personagens que pareciam ser importantes no anterior, mas não tiveram seu tempo de brilhar, nem antes, nem agora. Totalmente Boba Fett feelings, sabe?

O personagem de Austin Butler, por exemplo, demora para aparecer e logo toma o lugar que parecia ser do de Dave Bautista. Isso foi um problema narrativo forte para mim. Fiquei dois filmes e cinco horas esperando Duna chegar lá, e os finalmentes duram poucos minutos e sem muito desenvolvimento. Se há um filme que faz jus a “o livro é muito melhor”, provavelmente seria este.

DUNA – QUANTAS PARTES?

Duna, Duna Parte Dois, Denis Villeneuve, Delfos

Estou sendo um tanto negativo, eu sei. E a verdade é que eu fiquei entediado na maior parte da projeção. Mas quando as coisas começaram a andar, acabei me envolvendo e me divertindo, ainda que tenha ficado com a mesma sensação de “isso rendia mais” que costumo sentir nos filmes de George Lucas.

Gostaria de ter visto mais da guerra e da relação política entre as três facções do que dos costumes do Fremen e de Paul Atreides relutando em assumir o papel de líder. Talvez isso tivesse dado mais liga comigo, uma vez que essa história de “estrangeiro melhor que os nativos” é algo que já deu, pelo menos para mim. O Último SamuraiDança com Lobos. Agora estou só citando filmes de memória e vendo eles se encaixarem perfeitamente.

A meu ver, junte os dois Duna, corte umas três horas de duração, e você tem um único filme bacana. Talvez este roteiro funcionasse melhor como uma série de TV. Os dois filmes, do alto de suas seis horas, poderiam render uma boa primeira temporada. Mas para ver no cinema, em dois capítulos separados por três anos, considero falho, embora tenha suas qualidades.

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