Como ser um cafajeste interiorano

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A arte da cafajestagem está em extinção, infelizmente. Há muito tempo os cafajestes estão sumindo do mapa e dando lugar a estes homens chatos, sem classe e sem pegada carisma que chamamos por aqui de carinhosos, e é pensando nisso que eu estou aqui, na gloriosa seção das Cafajestadas Delfianas, ensinando mais um pouco desta gloriosa arte para você, delfonauta. Porém, a lição de hoje é voltada para você, cafajeste que anda em baixa.

Eu, como todo bom delfonauta, sempre me apropriei das lições de cafajestadas para tentar me dar bem. O problema é que eu moro no interior, onde a vida tem suas particularidades e suas diferenças em comparação com as cidades grandes. Ora pois, o que fazer quando nem sempre ser um cafajeste à moda antiga funciona? Simples, delfonauta: você se adapta à situação.

É a evolução, caro amigo cafajeste. O mundo mudou, a tecnologia está avançando e os velhos cafajestes não estão mais conseguindo se manter. É a seleção natural se aproximando, e só os cafajestes que se adaptarem a este mundo novo sobreviverão e continuarão cafajestando por aí. E, assim como já falamos aqui sobre os cafanerds, está na hora de falar de outro tipo de cafajeste: o cafajeste interiorano ou cafarano.

NÃO É NA SOLA DA BOTA E NEM NA PALMA DA MÃO

Esqueça aquele interior de novela, com pasto, vaca e chapéu de boiadeiro, estamos falando do novo interior. O interior agora tem concreto, shopping, televisão, wi-fi. Nada mais de sertanejo, agora o que toca é funk – sertanejo só se for universitário. E aí, nesse balaio de gato chamado crescimento urbano, qual é o jeito certo de cafajestar? Pois é isso que nós vamos ensinar, delfonauta. Venha comigo e siga estes cinco passos para ser um exímio cafajeste do interior.

5 – APRENDA A MEXER EM COMPUTADORES

Ora, nada mais óbvio e mais importante, não é verdade? Não estamos falando de uma cidade grande onde há cinco técnicos de computadores por esquina, mas sim de uma cidade do interior. Sabe aquela sua vizinha bonitinha, loira e com aquele sorriso meigo que só garotas interioranas têm? Então, uma hora o Windows do notebook dela vai dar pau – e alguém vai precisar formatar o coitado.

Você, cafajeste inveterado que é, vai perder a deixa? Ou vai me dizer que não conseguiu visualizar um dos melhores roteiros cinematográficos dos últimos tempos? Sim, cafajeste, esta é a versão atualizada da famosa “pizza com anchovas”, o “Windows com anchovas”. Só que, assim como a versão clássica só funcionava se você fosse um entregador de pizza, esta precisa que você possua alguns outros dotes além dos clássicos que todo cafajeste tem. Preciso falar mais ou você já está se inscrevendo em um cursinho de inglês informática online?

4 – UTILIZE TRANSPORTE PÚBLICO

Um pensamento mais maldoso já pensaria que estou incitando o amigo cafajeste a ser um desses tristes “encoxadores” de transporte público, mas não é disso que eu estou falando. Isso não é cafajeste, isso é ser sem-noção. Cafajestes não precisam disso. Tudo o que você precisa é adaptar a sua essência e utilizar os elementos do ambiente a seu favor. E aqui chegamos ao transporte público.

Eu sei o quanto o transporte público é digno de pena, mas existem coisas boas nele. É verdade também que morar no interior faz com que se deslocar para o trabalho tome por volta de absurdas duas a quatro horas do seu dia, mas também é verdade que você encontra sempre as mesmas pessoas indo para o trabalho. E não são só pessoas de outras cidades, mas inclusive pessoas do seu próprio bairro. Você pode não ter o poder de conjurar um ônibus vazio para você e para aquela moça bem-apessoada que sempre sai na mesma hora para ir trabalhar, mas por que não deixar o carro em casa vez ou outra e ir com ela no busão?

Essas três horas de viagem podem ser um martírio, mas isso diminui quando se tem uma boa companhia, não é mesmo? Pois essa vizinha também pensa exatamente assim. Alguém para poder conversar, rir, reclamar… Esse alguém pode ser você, amigo cafajeste! E, você, obviamente, com a sua lábia apurada e o timing que só os cafajestes têm, saberá como se sair bem e como esticar um pouco essas longas três horas e levá-la para o bar mais próximo para afogar as mágoas do cotidiano y otras cositas más… – porque espanhol é a língua-mãe do verdadeiro cafajeste, lembre-se disso.

3 – FIQUE A PAR DOS ACONTECIMENTOS DO BAIRRO

Ainda que as cidades do interior estejam se urbanizando e se modernizando, é fato que elas não têm o mesmo ritmo corrido dos grandes centros urbanos, como Rio de Janeiro e São Paulo, onde você passa por centenas de pessoas por dia e mal sabe o nome delas. Nas cidades do interior, é comum você conhecer bem a vizinhança onde mora, pois você sempre encontra os seus vizinhos à porta das padarias e jornaleiros, batendo papo sobre futebol e sobre a vida dos outros.

E é óbvio que você precisa estar a par do que acontece no seu bairro, pois desde que o mundo é mundo a melhor maneira para se dar bem é ter lábia e conseguir ter uma boa conversa. Não estou dizendo para fazer fofoca, delfonauta, pois isso não é coisa de macho. O que estou dizendo é para você ser um bom ouvinte e assim não precisar ficar falando do tempo quando tiver a chance de bater um papo com aquela linda vendedora de churros da esquina.

2 – NÃO SEJA UM ACONTECIMENTO DO BAIRRO

Assim como você pode ficar sabendo da vida dos outros em cidades do interior, se você fizer besteiras vai ser o seu nome que vai correr solto pelas ruas do bairro. Cuidado, pois isso pode ser bom ou ruim – só depende de como você vai deixar o seu nome correr.

Digo isso porque, realmente, vai ser uma droga se todo mundo ficar sabendo que você já roubou a namorada do seu amigo e conseguiu fazer ela topar um ménage. Ainda que eu e você saibamos a genialidade de um ato desses (um “viva” para o Frodrigues, por favor: Viva!), já disse que os cafajestes estão em extinção, então serão poucos que saberão apreciar a sua façanha. Então, por que correr o risco de ser um gênio incompreendido quando você pode usar o telefone-sem-fio do bairro a seu favor? O que nos leva ao que resume qualquer cafajeste que se preze.

1 – SEJA UM ACONTECIMENTO PARA AS MULHERES

É em cidades do interior que o maior atributo de um cafajeste é amplificado mil vezes: a sua fama. Quando conseguir fazer a sua lábia funcionar e finalmente mostrar àquela estonteante atendente de caixa do mercadinho ao lado com quantos paus se faz um cafajeste, não se preocupe com mais nada, porque pode contar que sua fama irá se espalhar pelo submundo das fofocas – aka manicure – e em pouco tempo a vendedora de churros irá passar a te olhar diferente.

Lembre-se que, apesar de estar se adaptando, a sua essência ainda é a de um verdadeiro cafajeste. Você, enquanto cafajeste, tem que ser “aquele homem que todas as mulheres querem ter e todos os homens gostariam de ser”, então você tem que ser como o revólver de Jesse James – com isso eu quero dizer que você tem que ser preciso, não super rápido. Porque, claro, lembrar nunca é demais: seja cafajeste, não seja rápido!

HORA DE CAFAJESTAR!

Espero ter ajudado você, cafajeste do centro ou do interiôr (favor ler com sotaque), a se dar bem e a representar a classe com categoria. A vida se transforma, é verdade, mas os bons cafajestes se viram em qualquer situação, e foi isso que eu tentei provar neste texto. E você, jovem padawan do interior, desenvolva essas dicas e leve a arte da cafajestagem interiorana a outro nível – e que sua fama atravesse o interior do Brasil e vá do Oiapoque ao Chuí.

Em tempo, o cafajeste da vez não poderia ser mais bem escolhido. Alguém do interior, sedutor de mulheres e possivelmente o cafajeste com a maior fama do país? Óbvio que estamos falando do José Mayer Boto Cor-de-rosa. Ele é um cafajeste tão importante que é MESMO uma lenda, e suas histórias são passadas de geração em geração por todos os cantos do país. De fato, só mesmo uma verdadeira lenda para aparecer no meio da noite nas festas, seduzir quantas mulheres fosse possível e sumir da mesma forma que apareceu, não acha?

P.S.: vale salientar que não há nenhuma relação entre o plano de dominação mundial do nosso Ditador Supremo e a história de uma lenda da cafajestagem ser contada às crianças de todo o Brasil FNORD!.