Obras Fictícias: Uma Turminha do Barulho

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Cansado de ver aqueles filmes de terror que não dão medo em ninguém, onde as vítimas são garotos saradões e ninfetinhas safadas? Pois chegou a sua hora, caro delfonauta. Nesta edição de Obras Fictícias, pela primeira vez na história do cinema, as vítimas seremos nós, os cinéfilos. Leia o roteiro do trailer e durma à noite. Se for capaz!

1 – INT. CINEMA. FINAL DE TARDE

Um casal entra no cinema abraçados e trocando carinhos. Ao fundo, se ouve a música Freetime, do Gamma Ray, na parte que fala “The sun goes down, we’re gonna see a movie”.

NARRADOR
(com voz agradável)
Sábado à tarde. Nada melhor do que levar sua namorada ao cinema para relaxar.

O cinema está quase vazio, o que os deixa ainda mais felizes, pois eles estavam ansiosos para assistir a esse filme há meses. Eles se sentam em seus lugares preferidos e a garota apóia a cabeça no ombro do namorado. Um clima de romance e de alegria predomina no ar.

(FADE OUT)

A música alegre pára. Ao fundo, se ouve pessoas gritando e fazendo bagunça.

(FADE IN)

Close no homem do casal, com cara de medo e a música faz um “tam” quando a imagem aparece.

(FADE OUT)

NARRADOR
(com voz assustadora)
Mas em um país sem regras, qualquer pessoa pode fazer qualquer coisa.

(FADE IN)

Mais um “tam” e vemos cinco pares de pés andando, calçando tênis de marcas famosas e caras. Algumas pipocas caem no chão.

(FADE OUT)

NARRADOR
(com voz assustadora)
Neste país abandonado pelos lanterninhas, só sofre quem faz a coisa certa.

(FADE IN)

Mais um “tam” e dessa vez vemos o rosto da garota do casal quase chorando de medo.

NARRADOR
(com voz assustadora)
Você!

(FADE OUT)

A música acelera para algo como uma percussão tribal (“Tam-tam-tam-tam”).

(FADE IN)

A câmera mostra os donos dos tênis. Um bando de adolescentes, aparentemente ricos. Um deles falando ao celular, o outro com um imenso balde de pipoca, dois falando e rindo alto e o último uma criança derrubando seu refrigerante no chão. A batida tribal se acelera cada vez mais quando eles se aproximam do casal e sentam na fileira imediatamente atrás deles. Ao mesmo tempo, as luzes do cinema começam a se apagar. Imediatamente, o que estava falando no celular, sem desligar o aparelho, coloca o pezão sujo de lama no banco da frente, praticamente chutando a cabeça do coitado que estava sentado ali. A criança tropeça e deixa cair seu refrigerante no cabelo da garota da frente. O das pipocas, come fazendo mais barulho que um porco e mastiga de boca aberta. E os outros dois fazem comentários em voz alta sobre os trailers que acabaram de começar. O pobre casal é mostrado, tremendo de medo pelo que se aproxima.

(FADE OUT)

NARRADOR
(com voz assustadora)
Eles só queriam ver um filme, mas logo descobrem que isso é impossível neste país.

Aparece na tela, uma por uma, as tradicionais frases retratando as críticas positivas internacionais:

“Eu nunca senti tanto medo.”
Ebert & Roeper

“Se algum dia for ao Brasil, não quero chegar nem perto de um cinema.”
New York Times

“Vamos boicotar esse filme, o Brasil não é assim. Vai acabar com o nosso turismo.”
Comunidade “Sou Brasileiro e Não Desisto Nunca” do Orkut

NARRADOR
(com voz assustadora)
Um filme em tempo real, com duas horas ininterruptas de terror. Você nunca mais vai ver um cinema da mesma forma.
Uma Turminha do Barulho
Eles sempre são os últimos a chegar. E sempre sentam perto de você.
Vencedor do Scream Awards 2007.
Estréia na sexta-feira, 13 de julho de 2007. Na sala de tortura… ahem… No cinema mais próximo de você.

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