Cinco bandas não metal que fizeram músicas pra lá de trües

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Todos nós gostamos de listas, e acredito que a lista que apresento aqui hoje nunca foi compilada antes por outras pessoas. Abaixo você verá uma coletânea de músicas tão trües que deixariam Odin orgulhoso.

Mas eu não quis escolher músicas de bandas como Rainbow, Uriah Heep, Thin Lizzy, ou mesmo Wagner, aceitas por quase todos como aqueles que já faziam metal antes de o metal existir. Não, eu queria escolher músicas originalmente gravadas por bandas que pouco ou nada têm a ver com heavy metal. Bandas como…

5 – QUEEN – I WANT IT ALL E THE PROPHET’S SONG

Álbuns: The Miracle (1989) e A Night at the Opera (1975)

Gênero da banda: O Queen transcende gêneros musicais, então vou colocar aqui apenas “música boa”.

Gênero das músicas em questão: Trüe Fuckin’ Metal From Valhalla e Metal Melódico Nerd, respectivamente.

Comecemos com uma música que absolutamente todo mundo conhece. I Want It All é um dos maiores sucessos do Queen e um clássico do rock em geral. Mas você já percebeu quão trüe a desgraçada é? Ouça de novo para refrescar a memória.

Já começa pela primeira nota de guitarra, forte e poderosa como um golpe do Mjölnir no crânio de um gigante de Jotunheim. Em seguida vem um solo poderoso (o primeiro de três!) e, quando a guitarra finalmente dá uma aliviada, no início da primeira estrofe, repare na batida, e em como ela é perfeita para bater cabeça ou para fazer o sinal do martelo.

E, se a guitarra vem limpa na primeira estrofe, a partir da segunda, ela vem com um riff tipicamente alemão (pense em Accept), intercalado com licks empolgantes. Tudo isso permeado por uma interpretação absurda do tremendão Freddie Mercury, que canta de forma tão macha que dá até para imaginar que ele a gravou apenas de cueca e besuntado em óleo. Aliás, a gente não precisa imaginar isso. Nós sabemos que Mercury realmente cantava apenas de cueca. E isso foi bem antes do Manowar popularizar a prática.

E já que falamos nos estadunidenses besuntados, não dá para negar que I Want It All tem a levada típica da banda, incluindo a letra “nós somos pintudos”. Com certeza esta foi a música que garantiu a entrada de Freddie em Valhalla onde, gosto de pensar, foi recebido de braços abertos por Odin, que já o esperava apenas de cueca.

Mas o delfonauta antenado percebeu que temos duas músicas do Queen aqui. E, se I Want It All é um típico Trüe Metal, a menos conhecida The Prophet’s Song é um Metal Melódico Nerd, à Blind Guardian. Se liga:

Fala sério, ela tem tão cara de Blind Guardian que poderia estar até no A Night at the Opera. Ei, peraí, ela está no A Night at the Opera. No original! =D

The Prophet’s Song é longa, trabalhada, com vários climas diferentes e corais pra lá de complexos. E, apesar de tudo isso, ela é deliciosamente pegajosa. Ou seja, todas as características do Blind Guardian. Ou vai dizer que você não ficou com a parte “Oh oh people of the earth / Listen to the warning the prophet he said” na cabeça depois de ouvir?

The Prophet’s Song é uma música sensacional e, arrisco dizer, o primeiro Metal Melódico da história, mais de 10 anos antes do primeiro Keeper of the Seven Keys do Helloween chegar às lojas. E mostra muito bem todas as características do Queen que influenciaram praticamente todas as bandas metálicas de hoje. Não foi à toa que o Queen ganhou neste texto a honra de ser citado como um dos cinco pais do Heavy Metal.

4 – MISFITS – SATURDAY NIGHT

Álbum: Famous Monsters (1999)

Gênero da banda: Punk/Hardcore/Vamos cantar todo mundo junto agora

Gênero da música em questão: Thrash Metal tocado por zumbis psicopatas

Neste ponto, o metaleiro true já pensou “como assim? Uma banda de punk? Mas esses caras nem sabem tocar!”. Enquanto isso, o delfonauta típico, muito mais inteligente e antenado do que um metaleiro trüe tradicional, já imagina para onde isso vai. Ouçamos juntos Saturday Night.

À primeira ouvida, Saturday Night parece uma baladinha à Elvis Presley. Desde que, é claro, Elvis fosse um zumbi psicopata. Agora ouça de novo, e preste atenção não nos vocais popzinhos (uma das características mais divertidas dos Misfits, considerando as letras e a temática), mas nas guitarras, especialmente no riff que entra junto com a primeira estrofe.

Holy fuck! Sentiu o peso e a trueza do negócio? Se você acelerar a bateria, daria até para lembrar de alguns clássicos do Exodus. O mais interessante é que o vocal nessa faixa é tão forte e as melodias são tão pegajosas que esse riff Thrash Metal passa quase despercebido. Seja sincero, você tinha percebido antes de eu chamar sua atenção para ele? E o mais incrível é que a música tem um riff de Thrash Metal e mesmo assim é uma baladinha que poderia ser gravada num CD romântico daqueles que você dá de presente para a namorada.

Claro, desde que sua garota não se importe com a letra explicando os 52 jeitos de se matar uma pessoa ou, especialmente, a parte em que o cara está no mesmo lugar em que fumava com a namorada enquanto assiste ela morrer. Oh, hoho, hoho. O “oh, hoho, hoho” é o que deixa essa parte romântica, entendeu?

Não tem a ver com o tema do texto, mas vale o comentário: dá para ser mais divertido do que o Misfits? Só esses caras pra misturar esse tipo de letra narrando cenas típicas de filmes de terror ruins com músicas alegres, pegajosas e cantaroláveis. =D

3 – KANSAS – ICARUS (BORNE ON WINGS OF STEEL)

Álbum: Masque (1975)

Gênero da banda: Rock Progressivo

Gênero da música em questão: Metal Progressivo

O Kansas é uma banda que não é muito lembrada aqui no Brasil. Claro, todo mundo, até quem assiste Supernatural, conhece a sensacional Carry On My Wayward Son (aliás, que letra bonita tem essa música, hein? Chega a ser covardia!).

Tantas outras pessoas, especialmente as garotas, lembram do Kansas por causa da lindíssima Dust in the Wind.

Mas dificilmente você vê alguém aqui no Brasil dizer adorar o Kansas ou que se lembre de alguma outra além dessas duas. E é uma pena, porque tal qual o Rush, o Kansas é a prova de que rock progressivo não precisa ser sinônimo de música chata. E se você não conhece ou não se lembra de mais nada dos caras, prepare-se para se empolgar, ao conhecer Icarus (Borne on Wings of Steel). Acredite, você não vai achar um uso melhor para os próximos seis minutos da sua vida.

Fala sério, hein? Isso é que é música! PQP! A guitarra, o teclado e o violino se intercalando em solos cada vez mais bonitos é algo simplesmente emocionante de se ouvir. É o tipo de música que deve ser ouvida por cada garoto de 13 anos que resolve ser músico quando crescer. E tenha certeza que, quando meu filho não nascido falar isso para mim (e ele vai falar, considerando o quanto eu gosto de música), vai ser exatamente o que ele vai ouvir. Ora, a quem estou enganando, quando ele tiver 13 anos, já vai saber cantar essa música de cor! =D

Mas falemos sobre a trueza, a começar pelo título. Convenhamos, Icarus (Borne on Wings of Steel) é um título tão trüe que, até prova ao contrário, foi psicografado por Odin em pessoa. Aliás, para os que não sabem, vale o aviso: esse borne, com “E” no final, não significa “nascido”, mas “carregado”. Ou seja, o nome da música em português ficaria “Ícaro (Carregado por Asas de Aço)”. Pô, só de escrever esse título já me vi obrigado a ficar só de cueca, tamanha a trueza.

Mas tem mais, como os supracitados solos, o violino proeminente (som que muitas bandas de metal acabam tirando no teclado mesmo) e aquele refrão. Por Tutatis, que refrão! Experimente cantar junto a parte do “sail on” e do “so high” enquanto faz os chifrinhos com a mão e levanta os braços. Fica perfeitamente natural, né? Pois é. Icarus (Borne on Wings of Steel) é Metal pra caramba! m/

2 – JOHN WILLIAMS – THE IMPERIAL MARCH

Álbum: Trilha Sonora de Star Wars – Episódio V: O Império Contra-Ataca (1980)

Gênero do compositor: Trilha sonora de filmes mágicos e fofos, de preferência dirigidos pelo Steven Spielberg.

Gênero da música em questão: Trüe Fuckin’ Metal From Valhalla

Ao lado de I Want It All, essa é a outra música que absolutamente qualquer pessoa lendo isto conhece. A popular Marcha Imperial é, como você com certeza já sabe, o tema de Darth Vader, um dos maiores e mais conhecidos vilões da história. All hail lord Vader! Mesmo já conhecendo a música, Assista ao vídeo abaixo. É um clipe muito legal, tirado do DVD Star Wars – A Musical Journey, que deixa a música ainda mais trüe.

Trata-se do tema de um dos personagens mais conhecidos, amados e odiados do cinema. O cara é a personificação do lado negro da humanidade e boa parte das pessoas, ao pensar em vilão, pensa imediatamente no Darth Vader. Não só isso, o próprio Darth Vader em si é um sujeito pra lá de trüe, tanto que já inspirou até nome de banda de Death Metal. Sua música não podia seguir por outro caminho, não é mesmo?

Apesar de ser totalmente orquestrada e desprovida de guitarras, a levada e o clima de The Imperial March são tão parecidos com Heavy Metal que acredito que você entenderia a presença dela aqui mesmo sem essa minha explicação.

Afinal, todos nós já ouvimos essa música e nos empolgamos tanto que acompanhávamos o ritmo batendo a cabeça, fazendo o sinal do martelo e, claro, usando uma camisinha luminosa no bilau. Caso este texto tenha inspirado você a fazer isso novamente, não esqueça de fazer “UÓÓÓN” com a boca a cada rebolada para maior autenticidade.

1 – VAN HALEN – THE SEVENTH SEAL E PLEASURE DOME

Álbuns: Balance (1995) e For Unlawful Carnal Knowledge (1991)

Gênero da banda: Hard Rock fofinho, cheio de palminhas e coraizinhos felizes

Gênero das músicas em questão: Heavy Metal Tradicional e Metal Melódico Progressivo, respectivamente.

O Van Halen é uma banda que todo mundo conhece e a imensa maioria gosta. Afinal, do que não gostar? Eles fazem um Hard Rock de qualidade, com tudo que o estilo tem de bom, e suas letras falam de todas as coisas boas da vida: diversão, amor, mulheres e amar mulheres, de preferência várias ao mesmo tempo, e especialmente se elas forem professoras.

Para completar, como disse o Guilherme em sua lista de 100 discos essenciais do rock, eles criaram o espírito da sexta-feira. E tem alguém lendo isso que não curta o espírito da sexta-feira? Eu imaginava que não.

Quando as pessoas pensam no Van Halen, pensam em diversão, festa, sexo, dirigir em alta velocidade na estrada enquanto faz sexo… enfim, todas as coisas que gostamos do dia a dia. O que ninguém pensa, no entanto, é em uma música séria, com letras tristes falando sobre uma passagem bíblica, certo? Pois, meu caro amigo, lhe apresento The Seventh Seal.

Essa é, acredito, a música mais fora do estilo da banda que eles gravaram, justamente porque o clima, a levada e a letra não têm nada a ver com o Hard Rock, mas são totalmente típicos do Heavy Metal Tradicional. Não é a única flertada do Van Halen com o Metal (mais sobre isso em breve), mas sem dúvida é a que apresenta mais características do estilo e menos das do Van Halen. Não dá para negar, The Seventh Seal é Metal Tradicional. E é muito fo*@.

Trata-se de uma composição totalmente voltada para as guitarras e que, surpreendentemente, não tem solos (uma das pouquíssimas da banda sem pelo menos um solo de guitarra). Mas com esses riffs, cá entre nós, nem precisa. O riff principal, que abre a música, é melódico e super criativo e emenda em um outro mais tradicional do Heavy Metal, mas igualmente bom e bangueável. Apesar de não ter solos, The Seventh Seal tem um dos melhores trabalhos de guitarra da banda, em minha opinião, e prova que um bom guitarrista não precisa ficar solando a toda hora para fazer músicas guitarreiras. Aprenda, Yngwie Malmsteen!

Também merece destaque a batida cadenciada típica do Metal tradicional e, claro, os vocais de Sammy Hagar, que se esgoela e grita como poucas vezes em sua carreira. Aliás, ele grita bem mais na versão de estúdio do que no vídeo ao vivo acima, então quem se interessar em ir atrás do álbum Balance, no qual The Seventh Seal é a faixa de abertura, ainda terá novas surpresas.

Mas como disse acima, esse não foi o único flerte do Van Halen com o Heavy Metal. Na verdade, apesar de ter fama de ter deixado a banda mais voltada para o pop, os discos com o Sammy Hagar sempre têm uma ou mais faixas nessa linha metálica. E são muitas. Humans Being e The Dream is Over valem ser procuradas pelos headbangers que ainda não as conhecem.

De bônus para os leitores deste texto, resolvi colocar uma das músicas mais longas e trabalhadas do Van Halen, Pleasure Dome. Ouçamos:

Eu decidi destacar mais a The Seventh Seal por ela ter menos características tradicionais do Van Halen, mas Pleasure Dome é tão metal quanto, mas com uma queda pelo lado mais progressivo e trabalhado da música pesada. Além disso, ela tem mais “cara de Van Halen” nas melodias e corais do que a The Seventh Seal, então não é tão surpreendente. Ainda assim, é uma excelente música e merece ser ouvida. E repare na bateria furiosa. Caramba, só de ouvir essas batidas eu já fico cansado.

E com Pleasure Dome fecho esta lista. Lembrou de uma música absurdamente trüe de uma banda fora da cena Metal que não foi citada aqui? Está esperando o quê para indicá-la para nós nos comentários? Comente também se conhecia essas músicas e de qual gostou mais! =D

BÔNUS ESPECIAL

Por fim, termino com um bônus especial. A versão para Eagle, clássico do Abba, aqui interpretada pelo Sargant Fury. Não entrou na lista porque o Sargant Fury já é uma banda de Metal, mas não deixa de ser surpreendente que uma música totalmente pop possa adquirir tal nível de trueza apenas com uma mudança de arranjos, não acha? Até a melodia vocal é a mesma da original, só mudaram os arranjos mesmo e, com isso, a vibe da música ficou totalmente diferente!